Nésio Fernandes: o alvo preferido dos ataques da oposição

Nésio Fernandes Crédito: arquivo pessoal

Na manhã desta segunda-feira (21), a Câmara de Vitória vota, em regime de urgência, a revogação do título de cidadão vitoriense concedido ao secretário de Estado da Saúde, Nésio Fernandes. A urgência foi protocolada pelo vereador Gilvan da Federal (Patriota) e foi colocada em votação, como a primeira matéria da sessão da última quarta-feira (16), sem a presença da autora da homenagem, a vereadora Karla Coser. A urgência foi aprovada por 9 votos contra 4.

O motivo seria uma fala de Nésio contida num vídeo de quatro minutos e meio que ele gravou, na última terça-feira (15), e que está disponível em suas redes sociais, explicando a importância do passaporte vacinal, de que forma que ele contribui para a estratégia coletiva de combate à pandemia e quem estaria por trás da campanha de difamação da estratégia.

“Alguns grupos extremistas, de extrema-direita, e alguns que escondem o seu negacionismo, a sua posição antivacina na polêmica e na intensidade, nos gritos e no financiamento de assessores para ocupar câmaras de vereadores no nosso Estado, escondem sua posição antivacina na narrativa contra o passaporte vacinal, que é uma medida sanitária adotada em praticamente todo o mundo civilizado, que ajuda a reduzir o risco de infecção, ter os ambientes mais protegidos”, disse Nésio.

Embora Nésio não tenha citado a Câmara de Vitória e nem dito que seriam os vereadores os responsáveis por “financiar assessores”, nove parlamentares vestiram a carapuça e aprovaram a urgência para retirar a homenagem a Nésio, por “desrespeito ao parlamento”. Ainda teve ameaças de ações na Justiça contra ele, além de críticas e discursos com adjetivos nada amigáveis.

O motivo, porém, é o de menos. Desde antes da pandemia que o secretário Nésio é o alvo preferido da ala que faz oposição à gestão de Renato Casagrande. Com a pandemia, a visibilidade do secretário aumentou e, com isso, também os ataques que, antes, estavam concentrados em alguns discursos raivosos da Assembleia e nas redes sociais. Hoje, a Câmara de Vitória também endossa a linha de frente na artilharia contra Nésio, que tem sido bastante citado nas últimas sessões.

Ataques, fake news e ameaças

Na sessão da última segunda-feira (14), antes do vídeo com a fala de Nésio, o secretário virou alvo da artilharia na Câmara de Vitória que aprovou, também em regime de urgência, um projeto que susta os efeitos da portaria 020-R do governo do Estado – a portaria estabelece a cobrança de passaporte em bares, restaurantes, academias e boates, lugares onde normalmente as pessoas tiram a máscara. A sessão contou com a presença de deputados estaduais da oposição ao governo do Estado e de vereadores de outras câmaras.

Nésio foi chamado de ditador, pelo vereador Gilvan, e de “delinquente”, pelo vereador Armandinho Fontoura (Podemos). “Esse curandeiro desse Nésio, charlatão, estelionatário, delinquente. Está fazendo isso de pauta demagoga eleitoral”, disse o vereador do Podemos – partido que, inclusive, faz parte da base de Casagrande. O próprio partido Patriota, do vereador Gilvan, vota com o governo na Assembleia. O presidente do Patriota-ES, Rafael Favatto, que é médico, já defendeu por diversas vezes a atuação de Nésio à frente da Sesa.

Aliás, vem do Parlamento Estadual a maior quantidade de ataques ao secretário, que já foi chamado de “dublê de médico”, “espião cubano” e de outros xingamentos impublicáveis, já teve seu diploma contestado e já foi alvo de montagens na internet e de peças de fake news.

Ales: deputados da oposição miram constantemente no secretário

Atualmente, há duas ações tramitando na Justiça de Nésio contra publicações e falas dos deputados Capitão Assumção e Carlos Von. Nésio já disse, porém, que preferiu “não ter ciência de 90% dos ataques”, mas diz já ter procurado a Justiça umas cinco vezes, inclusive quando recebeu uma ameaça de morte de um presidente de associação, afirmando que iria matá-lo caso o filho pegasse Covid e não pudesse usar cloroquina.

Mas, afinal, quem é Nésio Fernandes?

Nésio é catarinense, médico, casado, tem quatro filhos, é cristão de tradição protestante, batizado na Igreja Batista. Em entrevista para a coluna De Olho no Poder, Nésio contou que buscou uma profissão na área da saúde, a princípio, para ser missionário na África. Mesmo com esse perfil, Nésio é constantemente acusado de ser contra a igreja e contra as crianças (por conta da vacinação infantil). A filha mais nova de Nésio, de 4 anos, faz parte inclusive do projeto Curumim, que vai avaliar a eficácia da vacina Coronavac em crianças.

Nésio também é filiado ao PCdoB e antes de ser secretário estadual da Saúde no Espírito Santo foi candidato a deputado estadual em Tocantins e secretário da Saúde de Palmas (TO). Durante a campanha, Nésio foi contratado pela fundação João Mangabeira (do PSB) para fazer um diagnóstico da saúde estadual do Espírito Santo. Por ter histórico de atuação no fortalecimento do SUS e do programa Mais Médicos foi chamado para compor o governo, logo após a vitória do governador Renato Casagrande, em 2018.

Nésio fez medicina em Cuba e revalidou seu diploma no Brasil. O fato de ser filiado a um partido de esquerda e de ter estudado na terra de Fidel costuma ser usado nos ataques, mas nada explica o tom belicoso e os ataques à honra, ainda que seja para atacar o governo, que extrapola o debate político. Não se observa o mesmo tom ser usado contra outros secretários, mesmo os de indicação política, e nem contra o governador.

O fato de ter tido, desde o início da pandemia, uma defesa intransigente pelas medidas sanitárias, pela Ciência e pela vacina, também fez o secretário virar alvo de grupos negacionistas e antivacinas. Embora as decisões tomadas de combate à pandemia venham do consenso de um comitê – formado por diversas pessoas, incluindo Nésio – ele é frequentemente apontado como o único responsável.

Por estar à frente de uma secretaria com muita visibilidade e poder e ser filiado, mesmo exercendo um quadro técnico, Nésio é ventilado, com certa frequência nos bastidores, como uma aposta para as eleições de outubro. Ele descarta. Disse, anteriormente, que vai apoiar nas eleições todos os candidatos que apoiam o governo, mas que não irá se candidatar. No entanto, apenas a cotação já é suficiente para virar alvo de críticas.

A atuação de Nésio, porém, tem sido elogiada em outros espaços públicos dentro e fora do Estado. A decisão de não ter construído hospitais de campanha para a Covid, mas investido em leitos hospitalares se mostrou acertada. Ele virou o vice-presidente do Conass (Conselho Nacional de Secretários da Saúde) e recentemente representou o conselho e o Estado no Congresso.

Apoio do governador

Nésio também conta com o apoio do governador Renato Casagrande. Questionado se seria contrário à fala de Nésio no vídeo ou se teria se retratado sobre isso ou pedido retratação do secretário, o governador negou. “O governador não conversou com nenhum vereador sobre o assunto, até porque, Nésio não se referiu a nenhuma Câmara (específica)”, disse a assessoria de Casagrande. Sessão de hoje na Câmara da capital, marcada para começar às 9h30, promete!

Indicações

Além da Câmara de Vitória, a Câmara de Colatina também aprovou projeto que susta os efeitos da portaria que estabelece o passaporte vacinal. Na Serra, a sessão que debateria o assunto terminou em confusão e virou caso de polícia.

Na Ales, o deputado Danilo Bahiense protocolou 36 projetos de indicação direcionados aos presidentes de 36 câmaras de vereadores no Estado para que seja protocolado projeto de lei que proíba a exigência do comprovante de vacina para se ter acesso a estabelecimentos públicos ou privados.

Pergunta de 5ª série

Qual o sujeito da oração: “Alguns grupos extremistas, de extrema-direita, e alguns que escondem o seu negacionismo, a sua posição antivacina na polêmica e na intensidade, nos gritos e no financiamento de assessores para ocupar câmaras de vereadores no nosso Estado, escondem sua posição antivacina na narrativa contra o passaporte vacinal”?