PSB quer vice de centro-direita na chapa de Casagrande

Congresso do PSB / crédito: Hélio Filho

A decisão pela composição da chapa majoritária ao governo do Estado não será tomada agora, mas se depender do presidente do PSB capixaba, Alberto Gavini, que é o partido do governador Renato Casagrande, o vice a compor a chapa do socialista na disputa à reeleição em outubro será alguém de centro-direita.

“Já até conversamos um bocado sobre isso. Eu acredito que, para o governador, deveria ser uma pessoa mais situada no campo de centro-direita. Essa é a minha opinião. Mas isso é o governador quem tem que avaliar, porque é uma responsabilidade danada. Mas, na minha visão, hoje, o vice seria um homem ou uma mulher, um político de renome, localizado na centro-direita”, disse Gavini ao ser questionado sobre quem seria o vice ideal para Casagrande e sinalizando que o tema já está na mesa de negociações, embora, oficialmente, o posto deverá ser o último a ser definido.

Gavini foi o entrevistado do programa “De Olho no Poder com Fabi Tostes”, na rádio Jovem Pan News Vitória (90.5 MHz), nesta quinta-feira (14). Embora o governador não tenha admitido ainda que será candidato à reeleição, Gavini disse que o PSB não trabalha com outro nome e que Casagrande se colocou à disposição do partido. “Antecipar o debate político traz prejuízo para ele enquanto governador e para sua equipe também. É uma estratégia adequada para conseguir continuar atuando”, justificou Gavini.

Ao sinalizar que o perfil do vice está sendo buscado fora do campo em que se encontra o governador – PSB é um partido de centro-esquerda e em 2018 a chapa foi puro-sangue –, Gavini foi perguntado se o PP, então, estaria mais próximo de indicar o nome. O Progressista é um partido de centro-direita que nacionalmente apoia Bolsonaro, mas aqui está na base do governo Casagrande. O partido “inflou” durante a janela partidária e passou a cobrar mais espaço nas negociações com o Palácio Anchieta para as eleições de outubro. O PP quer fazer parte do processo majoritário, seja indicando o nome ao Senado ou a vice.

“Tem o PP, mas não sei se ele (poderá indicar). Tem o PSDB também e alguns dos candidatos ao governo do Estado. Acho que seria interessante juntar um pouquinho da visão da direita ao projeto de esquerda”, disse Gavini, revelando que também tem tentado trazer para o projeto da “frente ampla” pré-candidatos já colocados ao Palácio Anchieta. “Temos conversado, para ver se conseguimos manter um diálogo e depois tomar uma decisão”.

Entrevista com Alberto Gavini

Gavini disse que além de dialogar com o senador Fabiano Contarato – pré-candidato do PT ao governo do Estado –, conversas também foram abertas com o ex-prefeito de Linhares Guerino Zanon (PSD). “Já conversou com Guerino também. Ele não mostrou vontade de abrir mão (de disputar) e nem nós pedimos isso. Daqui pra frente começam as pesquisas”.

Guerino renunciou à prefeitura, deixou o MDB e se filiou ao PSD com a perspectiva de ser candidato ao governo pelo partido – uma vez que não teve espaço para a candidatura no MDB. A senadora Rose de Freitas, que preside o MDB, vai tentar a reeleição e se aproximou do governo, no intuito de ser o nome a receber a bênção do Palácio Anchieta.

Nos bastidores, Rose teria tentado demover de Guerino a decisão de deixar o partido, chegando a sugerir que ele se colocasse como um possível vice de Casagrande. Mas a sugestão teria sido rechaçada. Gavini, porém, prefere esperar as pesquisas, acreditando que, a depender dos números, será possível fazer uma composição e reduzir a quantidade de candidatos ao governo.

Se o vice, porém, for escolhido de forma mais pragmática do que pessoal e realmente se alinhar ao que defende Gavini, é bem provável, então, que o nome indicado ao Senado não pertença ao mesmo grupo. Em outras palavras: se um partido de centro-direita da base de Casagrande (PP, Podemos ou PSDB) indicar o vice, logo não deverá indicar o nome ao Senado, uma vez que para acomodar todas as forças da frente ampla também será preciso dividir os espaços. Nesse cenário, aumentam as chances de MDB ou PT ficarem com a indicação ao Senado.

O caso PT

O PT nacional aprovou o nome do ex-governador paulista Geraldo Alckmin para ser vice do ex-presidente Lula na chapa presidencial. Mas essa aliança nacional não é impositiva nos estados. Segundo Gavini, não há nenhuma obrigação, por exemplo, do PT abrir mão da sua candidatura própria (de Contarato) para apoiar Casagrande, como também não há a obrigação de Casagrande pedir voto para Lula.

Lançamento da pré-candidatura de Contarato ao governo do ES

E não é bem assim que a candidatura própria de Contarato é de todo ruim para Casagrande. É fato que há uma análise no ninho socialista de que o senador tira, ou melhor, divide os votos do eleitorado de centro-esquerda e que a presença de Contarato no pleito leva a disputa para o segundo turno. O PSB não esconde de ninguém – ou melhor, Gavini reafirmou ontem – que quer ganhar a eleição em 1º turno.

Mas, ao mesmo tempo, o PT ter um palanque próprio para Lula deixa Casagrande mais livre, numa situação mais confortável, principalmente com alguns partidos que formam sua frente ampla e com a parte do seu eleitorado que é antipetista. Não custa lembrar que o capixaba, em 2018, votou em peso em Bolsonaro e em Casagrande.

Questionado se na possibilidade de PSB e PT caminharem juntos, o palanque do PSB será o palanque de Lula, Gavini fez questão de separar o PSB do governador.

“O PSB até poderia ser, mas o governador, nesse momento, não tem como fazer isso. O governador não pode ser o militante de uma candidatura, porque há várias candidaturas, de vários partidos, que estão apoiando o governador. Mas o PSB já se decidiu nacionalmente. Vamos tentar, aqui no Estado, uma composição de modo que não prejudique a política local. A política nacional é uma, a local é outra. Vamos tentar respeitar as posições de todos os nossos parceiros para ter uma campanha de tranquilidade”.

Sobre se a presença de Lula no palanque ajuda ou atrapalha Casagrande, Gavini disse que o eleitorado está muito dividido. “Já iniciamos as pesquisas e está muito dividido. Algumas pesquisas mostram um percentual leve acima para Lula, mas o capixaba está muito dividido”.

Mas para além de definir se vai pedir voto ou não para o ex-presidente, o PSB e o governador terão de definir quem levará o Senado. Gavini diz que ainda não debateu sobre esse assunto, mas se o PT retirar a candidatura própria ao governo, deve cobrar também a participação no processo majoritário, somando-se aos partidos MDB, com a senadora Rose; PP, com o deputado Da Vitória; e Podemos, com o ex-secretário de Segurança Coronel Ramalho.

“Como resolver, já que o governo terá só um apoiado ao Senado?”, questionou a coluna para o presidente do PSB, no que ele respondeu: “É por isso que o negócio se chama política e não matemática ou física. A política é a arte de ajustar uma ciência inexata. Vai conversando e ajustando com o tempo”, disse Gavini.

Na íntegra

O presidente do PSB também falou sobre a saída dos deputados Felipe Rigoni e Sergio Majeski do partido, da confusão envolvendo o deputado Hércules e sua tentativa de se filiar ao ninho socialista e sobre a operação do “resgate do Coronel Ramalho” para que permanecesse no Podemos. Gavini também descreveu sobre sua descrença na Terceira Via, sobre as apostas e metas das chapas federal e estadual do PSB, da “mãozinha” de última hora que o partido teve de dar a outras legendas e sobre a gestão de Casagrande. A entrevista na íntegra de Gavini ao “De Olho no Poder com Fabi Tostes” pode ser conferida aqui: