A escalada na guerra entre Governo do ES e Prefeitura de Vitória

As acusações do prefeito de Vitória, Lorenzo Pazolini (Republicanos), contra o Palácio Anchieta e o governo respondendo com uma representação no Ministério Público – que movimentaram o cenário político durante todo o final de semana – não foram atos isolados e vieram após uma escalada no tom da já desgastada relação entre o prefeito e o governador Renato Casagrande (PSB).

Durante cerimônia de entrega de uma escola municipal em Jardim Camburi, no último sábado (14), Pazolini disse que foi convidado para uma reunião num palácio no centro da cidade e que uma autoridade falou para ele que teria interesse em investir em Vitória, mas que havia um porém. “A licitação tinha ganhador. Essa reunião se encerrou no momento em que eu bati na mesa e levantei”, disse, afirmando ter provas da suposta fraude em licitação, mas sem apresentá-las.

Tão logo o vídeo com a fala do prefeito começou a ser compartilhado em grupos de conversas, o governo do Estado emitiu uma nota afirmando que a Procuradoria Geral do Estado (PGE) ingressaria com uma representação no Ministério Público ainda no sábado – o que de fato ocorreu – para que o prefeito informasse “imediatamente” a quem estava se referindo e que comprove suas acusações “sob pena de ser processado criminalmente por ofensa à honra provocada por imputações inverídicas”.

Não é de hoje que a relação do governo do Estado com o prefeito de Vitória e com todo o grupo do Republicanos vai de mal a pior. Começou logo após a eleição da Mesa Diretora da Assembleia, que reelegeu Erick Musso presidente, em fevereiro do ano passado. Durante os momentos mais críticos da pandemia, com a implantação de medidas restritivas nada simpáticas à população, governo ficou de um lado e Republicanos de outro, com discursos ácidos de Erick e Pazolini contra o governador.

O retorno presencial às aulas, o licenciamento para as obras na Rodovia das Paneleiras e do aquaviário, o terreno para construir a Polícia Técnico-Científica, a força-tarefa na segurança pública, os impostos sobre os combustíveis viraram, entre outros temas, motivos de embate entre os dois grupos, com indiretas, alfinetadas e movimentações nos bastidores.

Com a aproximação do período eleitoral, já era esperado que os ânimos ficassem mais exaltados. Mas o caldo parece ter começado a entornar de vez na noite da última quinta-feira, quando Erick decidiu exonerar todos os servidores indicados do deputado Alexandre Xambinho (PSC) na Mesa Diretora após Casagrande ter participado do evento de prestação de contas do deputado, que faz parte da sua base aliada.

Conforme a coluna noticiou, Erick chegou a ir ao evento, mas voltou da porta ao avistar Casagrande. Ele teria vindo de Irupi especialmente para a prestação de contas de Xambinho, até então considerado aliado de primeira hora do presidente. Foi Erick que ajudou a montar a chapa do PSC, incluindo Xambinho na legenda para disputar a reeleição – em troca, claro, do apoio do PSC e de Xambinho à sua pré-candidatura ao governo.

Sexta-feira 13

No dia seguinte (13), no Diário do Legislativo, veio a resposta de Erick por ter se sentido traído pelo deputado. Aliados de Xambinho disseram que ele foi pego de surpresa, que em nenhum momento ele declarou apoio ao governador e que a atitude de Erick foi precipitada, antecipando o processo eleitoral.

Na manhã da mesma sexta-feira, numa escola estadual no Centro de Vitória, o governador e sua equipe davam ordem de serviço para a reforma da unidade. No local, não havia ninguém representando a prefeitura da capital.

Em seu discurso, o secretário estadual da Educação, Vitor de Ângelo, explicou que parte da obra seria feita depois porque a prefeitura ainda não havia liberado alguns licenciamentos. A fala de Ângelo, dando uma espetada na prefeitura, motivou um discurso ainda mais duro da vice-governadora, Jacqueline Moraes (PSB).

“Tem político que nunca desce do palanque. Uma licença para construir um aquaviário demora não sei quanto tempo, uma licença para construir uma quadra demora não sei quanto tempo. Por quê? Para acabar o governo e dizer que a gente não fez? Essa é a mensagem”, disse Jacqueline, dirigindo-se à comunidade escolar e dizendo que ela precisava se indignar para que a quadra de esporte da escola seja feita.

“Nós não somos covardes e eu vou voltar aqui para dar ordem de serviço nessa quadra, se Deus quiser. Parabéns, governador, por ser esse homem equilibrado, eu não sou tão equilibrada assim, eu luto para ser mais mais mansa, mais equilibrada, mas ainda não cheguei nessa maturidade. Porque para governar o Estado com ataques, mentiras, fofoca, fake news, com tanta pedrada, a pessoa precisa ser muito equilibrada”, concluiu Jacqueline.

Nos bastidores, o “recado” de Jacqueline, que seria também um recado do governo, chegou a Pazolini enquanto o evento ainda acontecia e o prefeito teria decidido dar a resposta no dia seguinte (sábado), também num evento oficial e com uma escola como palco. Na plateia, vereadores, equipe de governo, representantes da comunidade e o presidente da Ales, Erick Musso, que tem feito agendas casadas com o prefeito. O vídeo com as falas de Pazolini logo viralizou.

Após as acusações, Pazolini e Erick mergulharam. Havia uma expectativa de que o prefeito fosse se pronunciar ontem (15), informando detalhes sobre as acusações que fez, mas ele e toda sua equipe ficaram em silêncio sobre o assunto.

Nas redes sociais, porém, o pau quebrou. PSB emitiu nota repudiando as acusações. Jacqueline fez uma série de postagens no Twitter acusando Pazolini de fazer uma campanha suja e o chamando de “moleque irresponsável”.

O tom foi de guerra também por parte de aliados – secretários, subsecretários, ex-secretários e pré-candidatos ligados ao governador. O prefeito de Barra de São Francisco, Enivaldo dos Anjos, que foi líder do governo na Assembleia, chegou a dizer que a atitude do prefeito “vai ter troco”.

Nos grupos de conversas, foram feitos diversos questionamentos e especulações sobre o episódio, que ainda deve dar muito o que falar nessa semana, a começar pelo trâmite no Ministério Público. Embora o pano de fundo do embate entre governo e prefeitura seja a disputa eleitoral de outubro, os desdobramentos podem ir além das urnas e parar na esfera criminal. A semana promete!