Convenção do MDB: traição, choro e sem chapa na disputa federal

Maior partido do Estado, o MDB não terá candidatos para a disputa à Câmara Federal. Numa convenção que contou com cerca de 40 pessoas, na manhã deste domingo (31), o partido confirmou a senadora Rose de Freitas para a disputa ao Senado, chapa para a disputa à Assembleia e o apoio ao governador Renato Casagrande (PSB).

MDB é a sigla com maior número de filiados. Segundo dados do TRE, o MDB tem 36.927 membros no Estado, mas a legenda vem, desde 2018, sendo palco de brigas pelo comando, judicialização, intervenções nacionais e esvaziamento em seus quadros históricos. Nos bastidores, já era dado como certo que dificilmente a sigla conseguiria montar uma chapa competitiva para disputar a Câmara Federal.

Durante o evento Rose falou das dificuldades enfrentadas dentro do partido, mas também para conquistar, de fato, o apoio da chapa do governo. Embora o governador tenha confirmado que ela seria o nome apoiado por ele (durante convenção do PP, no sábado), Rose chegou a encerrar sua convenção para poder participar da convenção do PSB, ao lado do governador, para não ser escanteada. “O governador pediu que eu estivesse junto com ele e eu vou. Porque, senão vão armar contra mim lá, quero estar inteira lá”, justificou Rose às lideranças.

“Se um partido se levantar lá, tipo o PP, e dizer ‘ela não é’, ‘não apoio’, (eu digo) aqui é uma coligação, obedece critérios. Desde ontem que eu estou tentando, tem reunião amanhã (para tratar com o PP). Alguns partidos jogaram para depois do dia 31 e ninguém sabe o que isso significa, pois não decidiram na convenção. O PSDB decidiu, o Cidadania nos apoia, o PT, PV, PCdoB, PSB decidiram. O Podemos vai decidir depois do dia 2. Isso vai te sufocando porque podem arrastar isso até dia 15. Por isso, estar na convenção (do PSB), colocar o posicionamento, governador se colocar ao nosso lado vai fazer com que eles peguem o saco de maldades, de muitos, e coloquem de lado”, disse Rose.

E afirmou: “Eu não estou tirando a vaga de ninguém, eu estou com a posição do meu partido de que vamos disputar a eleição. Então, me deixem disputar a eleição! Eles não impedem aqui dentro, mas podem querer impedir que eu e Renato caminhemos juntos”.

Durante muitos momentos da convenção, Rose ficou emocionada e chegou a chorar, principalmente com o discurso do ex-vereador Luiz Carlos Moreira. “Em alguns momentos eu cheguei na casa da Rose e ela estava chorando, sua casa já não estava sendo muito frequentada. Se nós não formamos chapa para federal não é culpa da Rose. Se formamos a chapa estadual, foi por muita luta. Com a Rose a cada hora que ela levantava para respirar, faltava o oxigênio. Competência não faltou, trabalho não faltou, o que predominou foi a traição”, disse Moreira.

Embora não tenha citado nomes, muitos entenderam que o recado poderia ser para o ex-deputado e ex-presidente do MDB Lelo Coimbra, que não participou da convenção do seu partido para estar na convenção que homologou Guerino Zanon (PSD) como candidato ao governo.

“Não fui e mandei uma manifestação dizendo porque eu não iria. Não tem sentido anular 24 diretórios constituídos e fazer uma convenção com a decisão de seis pessoas da Comissão Provisória. E Guerino é o meu candidato”, alegou Lelo.

O coordenador da campanha da senadora, Chico Donato, foi questionado se ir para a disputa sem chapa de federal não seria ruim, até por conta de outras coisas que estão atreladas à bancada federal, como as verbas para os partidos. Ele disse que o partido está se reerguendo e que outros já passaram pela mesma situação. Perguntado se sentiu falta de uma ajuda do governo para montar a chapa federal, já que o Palácio Anchieta acabou ajudando outros partidos, Donato não respondeu.

Mistério sobre suplentes

Questionada sobre os suplentes em sua chapa, a senadora disse que já os escolheu, mas que não poderia antecipar os nomes. “Eu já defini os suplentes, mas tem um processo democrático, todo mundo está sujeito a ter novos debates, novas alianças. Estou tentando fazer as escolhas que fizemos no debate, ouvi prefeitos, ouvi lideranças, ouvi muita gente. Mas não posso adiantar”, disse Rose, sinalizando que os suplentes poderiam “ser derrubados”.

Na semana passada, a cotação era alta para que o empresário Léo de Castro (PSDB) assumisse a vaga de primeira suplência. Segundo alguns militantes do MDB, o nome dele já estaria certo, mas “alguma coisa desandou no meio do caminho”. Léo foi procurado pela coluna, mas não retornou aos contatos. O PT estaria também brigando por essa vaga e há uma chance real dos petistas indicarem o nome.

A senadora disse também que tem reunião marcada com o PP às 15h desta segunda-feira para tratar do apoio do partido à sua candidatura. Durante a convenção, o PP anunciou apoio a Casagrande, mas deixou em aberto o apoio ao Senado, para ser decidido pela Executiva do partido até dia 15.