Justiça Eleitoral não deve punir Bolsonaro por comício no Dia da Independência

Bolsonaro no desfile cívico-militar do 7 de Setembro / crédito: Agência Brasil

Antes da confirmação da morte da rainha Elizabeth II, na tarde de quinta-feira (08), e da repercussão que o fim do mais longo reinado de uma monarca britânica causou, o mercado político brasileiro debatia o discurso, o suposto uso da máquina pública para fazer campanha e a possibilidade do presidente Bolsonaro ter cometido crimes eleitorais durante as comemorações dos 200 anos de Independência do País.

Logo no início da manhã de ontem, o PDT – partido do presidenciável Ciro Gomes (PDT) – entrou com uma ação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), pedindo a impugnação da candidatura de Bolsonaro à reeleição e também sua inelegibilidade por oito anos. O partido o acusa de abuso de poder político e econômico e de ter usado dinheiro público, que bancou as estruturas do evento da Independência, para fazer campanha e pedir voto.

Outros partidos e candidatos da oposição devem fazer coro à denúncia, porém, dificilmente a Justiça Eleitoral deverá punir o Presidente pelos atos. Ao menos, é nisso que apostam a jornalista Gabriela Cuzzuol e o sociólogo Anselmo Hudson, comentaristas políticos da rádio Jovem Pan News Vitória (90.5 MHz) que, a pedido da coluna, analisaram as implicações do 7 de Setembro, ontem, no programa “De Olho no Poder”, que foi ao ar às 16h na rádio.

Hudson disse não ter dúvidas que Bolsonaro cometeu diversos crimes eleitorais, mas é cético com relação à punição. “Não pelo discurso, mas por toda mobilização que ocorreu, é óbvio que ele cometeu vários crimes eleitorais. Mas, na minha opinião nenhum deles será julgado e levado à frente. O setor político e o Judiciário estão contando os dias para chegar a eleição para ver como isso desenrola”, afirmou Hudson.

Gabriela disse que esperava um discurso mais cívico, mas que não vê crimes e acredita que as denúncias não irão prosperar. “Penso que levantar suspeição de crime não seja adequado. Estamos num período eleitoral, temos diversos candidatos fazendo discursos inadequados, em locais inadequados”, justificou.

Gabriela disse que é preciso separar a narrativa, a retórica e as ações pragmáticas do Presidente. “As manifestações foram pacíficas, havia um temor de golpe, de ruptura, que mais uma vez não aconteceu”, disse a jornalista. Hudson rebateu, afirmando que Bolsonaro sabia que não poderia atacar novamente as instituições como fez há um ano. “Burro ele não é”.

Demonstração de força?

Segundo a PM capixaba, cerca de 70 mil pessoas atenderam à convocação de Bolsonaro e foram para as ruas na quarta-feira (07). As cenas das manifestações aqui, como em alguns outros estados, chamam a atenção pela quantidade de pessoas, o que pode ser explicado por dois motivos.

O primeiro é que, já tem algum tempo, que os movimentos pró-Bolsonaro têm escolhido concentrar as manifestações em locais estratégicos, como Brasília, São Paulo e Rio, entre outros. Em vez de todos os estados ou todas as capitais terem um ato, a mobilização é para levar caravanas e se concentrarem nos lugares considerados mais “importantes” e que contam também com maior visibilidade da mídia. Os quarteirões da Avenida Paulista, em São Paulo, por exemplo, servem de contagem e como demonstração de força nos atos políticos.

O segundo é que, não há dúvidas, de que os apoiadores de Bolsonaro são mais engajados e se mobilizam com mais facilidade para as manifestações – seja pelo perfil econômico mais alto ou pela experiência de militância nas redes sociais, que acaba sendo transferida e refletida nas ruas.

“O segmento que o apoia, formado principalmente pela classe A, por evangélicos, pelos conservadores e por parte do agronegócio, é muito participativo. Não eram. Mas desde a jornada de junho de 2013, essa classe não sai das ruas. E não tem problema nenhum empresário bancar ônibus para as manifestações. Isso é parte da democracia, sempre foi assim, independente de direita e esquerda. Mas esse perfil quando se mobiliza é difícil de desmobilizar. A base eleitoral de Bolsonaro é muito engajada. Mas ele não está conseguindo furar a bolha”, disse Hudson.

Já Gabriela, credita o volume de pessoas na rua no feriado devido à popularidade do Presidente. “Ele é muito popular, tem capacidade de mobilização e um discurso para segmentos muito específicos”, disse, acrescentando que achou “deselegante e inadequado” o Presidente ter feito alusão ao desempenho sexual durante o discurso. Mas afirma que ele saiu fortalecido do evento e que conseguiu atingir mulheres evangélicas. “Depois da força das ruas ontem (quarta), penso que Bolsonaro tenha saído fortalecido”, afirmou.

Para Hudson, a relação de força é relativa e precisa ser diferenciada. “Tecnicamente, tem diferença a força política da força eleitoral. Força política são todos os atores, instituições e aquelas pessoas com poder que te apoiam. E força eleitoral é a capacidade que você tem de mobilizar as pessoas”.

Bolsonaro não contou com a presença dos chefes de Poderes ao seu lado no dia 7 e também não compareceu às comemorações do bicentenário, ontem, no Congresso. Para Hudson, o isolamento de Bolsonaro se deu porque as demais autoridades não quiseram compactuar com o uso eleitoral de uma data cívica. Já Gabriela não acredita que o Presidente esteja isolado, uma vez que o presidente da Câmara Federal, Arthur Lira, já declarou apoio a Bolsonaro.

Já tem pesquisa na rua para aferir as intenções de voto após o 7 de Setembro. Gabriela aposta que Bolsonaro avança na pesquisa. Já Hudson acredita que ele perde terreno. Com a eleição batendo à porta e a campanha avançando, ninguém crava se a disputa terminará no primeiro turno ou se será adiada para o segundo. O que ninguém nega é que tem muita água ainda para passar debaixo da ponte.

O que será do amanhã?

Questionados sobre como estão vendo a campanha a 23 dias da eleição, Hudson chegou a dizer que o clima deveria esquentar, mas que não acreditava em rupturas ou golpes. “Vai pegar fogo, cenário presidencial está muito polarizado. Espero que não descambe para conflitos porque algumas tragédias já aconteceram. As Forças Armadas, as polícias militares já se declararam a favor da democracia”.

Gabriela afirma que “há muito barulho por nada”. “Não penso que Bolsonaro conduza nenhuma tentativa pragmática de destituição institucional. No segundo turno vai ter bastante polarização, mas conforme coloquei sobre o 7 de Setembro, não teremos nenhuma ruptura institucional”, disse.

Mas quanto à violência durante a campanha entre os eleitores a apreensão é grande. Menos de 24 horas depois do programa ir ao ar, a polícia do Mato Grosso prendeu um apoiador de Bolsonaro que confessou ter matado a facadas – e ainda tentado decapitar – um colega de trabalho apoiador de Lula após uma discussão por motivo político.

Os comentaristas analisaram também se os eventos de 7 de Setembro podem interferir nas eleições locais, beneficiando ou prejudicando candidaturas ligadas a Bolsonaro no Estado, também comentaram sobre a rejeição e intenção de votos dos presidenciáveis e as estratégias que devem ganhar corpo nessas últimas semanas.

O programa com as análises completas pode ser conferido aqui: