Os muitos ataques, as poucas propostas e os bastidores do debate da Rede Vitória com os candidatos ao governo

O debate realizado pela Rede Vitória, na noite desta quinta-feira (20), entre os candidatos ao governo do Estado Renato Casagrande (PSB) e Carlos Manato (PL) foi de confronto do início ao fim. Desde a primeira pergunta até as considerações finais, a temperatura esteve lá em cima, com muitos ataques, provocações, uma dose exagerada de deboche e quase nada de propostas.

O debate foi dividido em três blocos, sendo o primeiro com confronto direto entre os candidatos e com tema livre. Manato iniciou o bloco e em sua primeira pergunta a Casagrande o chamou de “Centroavante”.

A provocação faz referência à citação do governador na delação do ex-superintendente da Odebrecht em Minas Gerais e no Espírito Santo Sérgio Neves, em que supostamente ele teria recebido R$ 1,8 milhão, em caixa 2, para a campanha de 2010. O apelido foi em alusão ao jogador de futebol e centroavante Walter Casagrande.

A delação foi em 2017 e, à época, Casagrande negou ter recebido qualquer valor em doação de forma ilegal. Outros políticos capixabas também foram citados no que foi conhecido como a “Delação do Fim do Mundo”. Casagrande não caiu na provocação, mas respondeu no mesmo tom ao dizer que Manato era filiado da Scuderie Le Cocq – instituição que abrigava um esquadrão da morte, sendo conhecida como o braço armado do crime organizado – e que ele sempre esteve ao lado da “parte pior da política desse estado”.

Na réplica, Manato citou casos delicados do governo de Casagrande, como o ex-presidente do Banestes Vasco Gonçalves, que foi preso numa operação da Polícia Federal sobre pagamentos de propina no Banco de Brasília (onde Vasco foi diretor). Vasco foi preso um dia após tomar posse no Banestes. Manato também citou o caso do ex-subsecretário de Agricultura Rodrigo Vaccari, que também foi alvo de operação da PF por suspeita de compra superfaturada de álcool em gel durante a pandemia. E lembrou também da prisão do ex-secretário da Fazenda Rogélio Pegoretti – este já estava fora do governo quando foi preso –, suspeito de fraudes milionárias em impostos no comércio de vinho.

Na tréplica, Casagrande voltou a citar o envolvimento de Manato com a Le Cocq e disse ainda que ele comandou a greve da PM em 2017 – acusação que veio à tona após uma ex-funcionária de Manato – Izabella da Costa – procurar a imprensa para denunciar suposto esquema de rachadinha no gabinete do então deputado, e ainda sua suposta participação no motim. A denúncia foi publicada pelo jornal Tribuna Online na quarta-feira (20).

Casagrande colocou nas costas de Manato as consequências da greve – as mortes, o fechamento do comércio por 22 dias e até os efeitos causados na Corporação. Manato negou ter tido participação na greve.

Todo o primeiro bloco teve o mesmo tom: Casagrande citou o afastamento de Manato da presidência do Sebrae, sua demissão do governo federal, levantou suspeita sobre sua saída do comando do Hospital Metropolitano (hoje Meridional), na Serra, insinuou que Manato acobertava um agressor de mulheres entre seus assessores – inclusive chamando-o de omisso diante de um caso de agressão a uma mulher –, e questionou a falta de projetos relevantes para o Estado durante os quatro mandatos de Manato na Câmara.

Já Manato acusou o governador de ter quebrado empresas durante a implantação de medidas restritivas na fase mais crítica da pandemia, de ser o comandante do crime organizado no Estado, de ter responsabilidade nos crimes e na morte de dois policiais durante uma emboscada, de ter feito uma manobra para lhe retirar do comando do Sebrae e passou, todo o debate, chamando o governador de “centroavante”.

Tanto que, no segundo bloco, na única vez que engrossou a voz, Casagrande pediu respeito. “Se o senhor não respeita o governador, vai respeitar quem? Então, o senhor me respeita! Sou o governador desse estado e faço um trabalho decente”, disse Casagrande. No que Manato rebateu: “Quem quer respeito, tem que se dar ao respeito”.

Casagrande tentou, em todo o debate, mostrar que Manato não tinha qualificação e nem projetos para governar o Estado, além de um histórico suspeito, e Manato tentou desqualificar as obras e projetos de Casagrande durante este mandato e o anterior.

O tom afiado e o clima tenso durante o debate da Rede Vitória – que foi o primeiro embate no segundo turno e após o “crime organizado” pautar a campanha eleitoral – fazem crer que os nervos devem continuar à flor da pele até o final da campanha. O que acaba gerando frustração naqueles indecisos que buscam, nessa reta final, propostas para decidir o voto.

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Os bastidores

Tropa de choque

Manato chegou ao debate acompanhado do assessor de imprensa, Wanderson, e de sua coordenadora de marketing, Gisele, e com o ex-prefeito Guerino Zanon (PSD) e o empresário Aridelmo Teixeira (Novo) – os dois foram candidatos ao governo e declararam apoio a Manato no segundo turno.

Já Casagrande, levou seu marqueteiro Diego Brandy, a secretária de Comunicação, Flávia Mignone, e o secretário de Estado do Governo, Álvaro Duboc, além de outros assessores. As equipes ficaram em salas separadas, na redação da TV Vitória, acompanhando o debate.

Mão levantada

Durante o debate foram pedidos diversos direitos de resposta, mas somente dois – um para cada lado – foram atendidos. Manato foi quem mais solicitou, acenando até quando não era citado nominalmente por Casagrande.

Cumprimento só na chegada

Quando Casagrande chegou ao estúdio, Manato já estava posicionado em seu púlpito. O governador foi até o ex-deputado e o cumprimentou. No final, depois dos ataques, não houve cumprimento.

Oi e tchau!

Ao final, ao cruzarem nos corredores também com Guerino e Aridelmo, Casagrande e sua equipe deram breves acenos de cumprimentos – secos e curtos.

Só no deboche!

Manato abusou das caras e bocas e tom de voz debochado ao se referir ao governador, que chegou a rebater dizendo que não sabia usar de deboche. Mas acabou usando ao criticar proposta de uma “escola psicossocial” de Manato: “Não consegui captar a vossa mensagem, grande mestre” – fazendo referência ao personagem Rolando Lero, do programa de humor Escolinha do Professor Raimundo.

Aplausos para a ironia?

Ao final do debate, Aridelmo e Guerino aplaudiram a participação de Manato. Questionado sobre o que acharam do debate, eles disseram que o governador chamou Manato de “o grande mestre”. Também elogiaram o desempenho do ex-deputado.

Ficou no primeiro turno

Questionado sobre a falta da discussão de propostas no debate, Casagrande disse que o segundo turno é o momento de mostrar quem são os candidatos, seu histórico e experiência e que as propostas foram apresentadas no primeiro turno.

De olho no voto feminino

Manato foi com um lacinho símbolo da campanha do Outubro Rosa (prevenção ao câncer de mama) e usou suas considerações finais para falar da importância do autoexame e da mamografia. Manato é médico, mas a preocupação pode ser também uma forma de puxar o voto das mulheres, uma vez que pesquisa Real Time Big Data divulgada também nesta quinta-feira deu conta que Casagrande tem mais votos no eleitorado feminino (49% contra 41% de Manato).

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