A fatura das lideranças partidárias por espaço no governo – Parte 1

Símbolos dos partidos / crédito: Câmara dos Deputados

O governador reeleito Renato Casagrande (PSB) já anunciou três nomes que irão compor seu próximo governo: o vice-governador Ricardo Ferraço (PSDB), anunciado na semana passada, que irá comandar a Secretaria de Desenvolvimento, e, nesta terça-feira (06), os secretários Álvaro Duboc e Emanuela Pedroso (Podemos), que continuam na gestão, apenas trocando de pastas. Duboc vai para o Planejamento e Emanuela, para a Secretaria de Governo.

Na semana passada, durante coletiva de imprensa, Casagrande chegou a dizer que estuda criar a Secretaria das Mulheres, uma demanda colocada na mesa durante a campanha, e que está avaliando a possibilidade de desmembrar o DER e o Iopes. A fusão dos dois órgãos ocorreu em outubro de 2019.

Antes, porém, de mudar a estrutura e completar o quadro do 1º e 2º escalões do governo, Casagrande terá de chegar à solução para uma equação difícil: montar uma equipe técnica e política, equilibrando as forças partidárias e acomodando todos os aliados no governo.

Casagrande formou uma grande frente ampla para concorrer à reeleição. Em sua coligação estavam duas federações – a composta por PT, PCdoB e PV e a formada por PSDB e Cidadania – e outros seis partidos (PDT, MDB, PP, Pros, PSB e Podemos). Depois, no segundo turno, Casagrande ainda recebeu o apoio da Rede, do Psol, do União Brasil e de lideranças de outras legendas.

Desde a campanha, Casagrande vinha sendo questionado, pela imprensa, como ficaria a “divisão do bolo”, caso fosse eleito com tantos aliados. Se teria espaço para todo mundo e como seria a negociação com as siglas que formaram a frente ampla, afinal, o apoio na campanha também é um acordo para se governar junto. Casagrande sempre respondia que cargos não tinham sido discutidos e que era preciso focar na campanha para conquistar a vitória.

Pois bem. A vitória chegou e com ela também a “fatura”, ou melhor, a pressão de legendas, e de aliados que não tiveram êxito nas urnas, por espaço. Cada um valoriza seu passe na hora de negociar, a relevância que teve na campanha, o quanto agregou ou o quanto sofreu de desgaste. A coluna apurou com algumas lideranças partidárias e interlocutores do governo o que já foi e o que deve ser colocado na mesa de negociações pelas lideranças partidárias na busca por espaço.

Podemos

Emanuela, que teve a garantia ontem de que irá permanecer no governo, é filiada ao Podemos e ligada ao deputado federal eleito Gilson Daniel. Aliás, foi Gilson quem a levou para o Palácio Anchieta e foi dele que ela herdou o comando da Secretaria de Planejamento, assim que Gilson deixou o posto para disputar as eleições.

Coronel Ramalho / Crédito: Hélio Filho

A leitura de alguns interlocutores do governador é a de que, ao levar Emanuela para a Secretaria de Governo, posto de extrema confiança na gestão, o Podemos e principalmente Gilson já estariam contemplados. Mas, no Podemos, a leitura é divergente. Emanuela teria sido escolhida por cota pessoal e técnica, e não por cota do partido.

Nos bastidores, o Podemos espera ainda por mais espaço. Seja acomodando o próprio Gilson Daniel numa secretaria – Agricultura e Desenvolvimento Urbano são as favoritas –, o que levaria o 1º suplente, Coronel Ramalho, para a Câmara Federal; seja levando o próprio Ramalho de volta para o governo, na Secretaria de Segurança ou na Secretaria de Justiça.

Acomodar Ramalho é uma das prioridades. Uma vez que ele teve a candidatura ao Senado rifada pelo partido em prol da candidata oficial da coligação, a senadora Rose de Freitas (MDB). A retirada gerou um desgaste interno, porque o Podemos chegou a prometer a Ramalho que ele seria candidato majoritário, e isso deve ser colocado na balança agora.

A preferência de Ramalho é pelo mandato na Câmara, mas ao ser questionado pela coluna se Gilson Daniel seria secretário para Ramalho subir para o Congresso, o governador desconversou. “Nós vamos conversar sobre isso. Gilson tem um mandato a ser exercido em Brasília, mas é uma liderança que nós sempre consultamos e conversamos antes de tomar decisão”, disse Casagrande.

Além disso, o Podemos também deve usar como argumento de que merece mais espaço por ter, durante a campanha, comprado uma briga com os eleitores bolsonaristas, para que apoiassem Casagrande e não Manato, o candidato de Bolsonaro. Muitas lideranças do partido chegaram a fazer postagens “casadas”, de apoio a Bolsonaro e Casagrande, uma vez que o partido é de centro-direita, assim como a maior parte dos seus eleitores e lideranças.

PP

O mesmo argumento deve ser usado pelo Progressistas. Além de estarem na gestão de Casagrande desde o início, o partido, que nacionalmente fechou com Bolsonaro, aqui no Estado permaneceu na base de Casagrande e também teve de enfrentar o questionamento dos eleitores e candidatos da onda 22.

Cúpula do PP

Na pré-campanha, o partido também ensaiou lançar um nome ao Senado e entrou na corrida para indicar o vice na chapa. O discurso era que o PP era muito grande para não ser protagonista na eleição, o que foi endossado pelo presidente da Câmara Federal, Arthur Lira, em uma visita ao Estado em março deste ano. Para as duas possibilidades, o nome defendido era do deputado federal Josias da Vitória.

As apostas, porém, não vingaram e Da Vitória disputou a reeleição, conquistando uma vaga na Câmara Federal. O recuo da legenda na disputa aos dois postos de destaque também devem ser levados em consideração agora.

O PP tem o comando da Secretaria de Desenvolvimento Urbano (Sedurb). Não seria nada ruim para o PP permanecer com a pasta ou ter a de Agricultura (também cobiçada). A questão é que, agora, com as funções acumuladas pelo vice, os futuros secretários de Agricultura e Meio Ambiente devem necessariamente passar por Ricardo Ferraço. Além da Secretaria de Desenvolvimento, ele vai coordenar as ações e políticas públicas dessas outras duas áreas.

Fato é que é praticamente certo que o PP vai fazer parte do primeiro escalão e isso deve ser alinhado logo. O partido tem agenda marcada com o governador nessa semana.

PT

O Partido dos Trabalhadores também vai levar seu “boleto” ao Palácio Anchieta. Embora tenha saído da nacional a decisão de retirar a candidatura ao governo do senador Fabiano Contarato (PT) para o apoio a Casagrande – por conta da coligação PT-PSB –, a manobra gerou transtornos e frustrações na militância petista capixaba.

Petistas em ato de filiação de Contarato

Além disso, o fato do governador não ter, abertamente, feito campanha para Lula, nem associado sua imagem ao presidente eleito, e ainda tendo dentro da base aliada partidos pedindo votos para Bolsonaro com o consentimento da cúpula do governo, também gerou uma pequena crise, que foi contornada por petistas mais ligados a Casagrande, como o deputado estadual eleito João Coser.

Nos bastidores, o PT estaria pleiteando duas secretarias. Primeiro pelo seu tamanho. Segundo pela política nacional com a vitória de Lula. Terceiro para atender as correntes internas e divergentes da legenda. Alguns interlocutores do governo discordam da possibilidade do PT ficar com duas cadeiras no primeiro escalão, mas já cogitam a possibilidade, por exemplo, da acomodação do PT no governo e na Assembleia.

A boa relação entre Coser e Casagrande seria um dos motivos do petista ser um dos quatro cotados para presidir a Mesa Diretora da Ales. E seria uma forma de contemplar o partido também. Outra corrente do partido – ligada à deputada estadual reeleita Iriny Lopes e ao deputado federal mais votado do Estado, Helder Salomão – poderia herdar uma secretaria.

Há especulações ainda que, caso o PT não conquiste a presidência do Legislativo, poderia ficar com uma secretaria e com uma subsecretaria no governo, ou apenas com uma secretaria, se o governador entender por bem não se envolver nas questões internas dos petistas.

Em tempo: Algo que chamou a atenção no anúncio da troca de secretarias ontem foi o fato do governador levar de volta para a Secretaria de Planejamento o delegado Álvaro Duboc, um técnico e de sua inteira confiança. A leitura no mercado político foi que, com essa ação, ele blinda uma das mais importantes pastas – responsável, por exemplo, pelo Orçamento – de rixas políticas, já que a estadia de Gilson Daniel na pasta gerou ciúmes e reclamações entre a base aliada na Assembleia.

Os pleitos de outras lideranças partidárias serão abordados numa próxima coluna.

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