Com Ricardo, Casagrande fez o que Lula ainda não conseguiu: acalmou o mercado

Ricardo Ferraço e Casagrande / Crédito: Hélio Filho

O anúncio do governador Renato Casagrande (PSB) de que o vice-governador eleito, Ricardo Ferraço (PSDB), vai comandar a Secretaria de Desenvolvimento (Sedes) a partir do mês que vem tranquilizou e animou o setor produtivo capixaba.

Não só por ser empresário e transitar bem nesse meio. Como político, mais precisamente como senador – cargo que ocupou até 2018 –, Ricardo sempre defendeu uma pauta mais liberal na economia e foi um interlocutor importante dos interesses do empresariado no Congresso. Ricardo foi, por exemplo, o relator da Reforma Trabalhista, em 2017.

Antes mesmo de ser eleito na chapa com Casagrande, Ricardo já se reunia para ouvir as demandas e costurar uma ponte de diálogo mais sólida entre o governo e o Segundo Setor. Não que Casagrande tenha levantado muros na relação com o empresariado. Mas houve um desgaste, principalmente durante a gestão do período mais crítico da pandemia, em que medidas restritivas foram aplicadas pelo governo para conter o avanço da contaminação.

Outra dificuldade com o setor, que ficou bastante evidente durante a campanha, foi a questão partidária-ideológica. Casagrande é do PSB e, embora sempre tenha tido uma postura mais de centro, seu partido fez dobradinha com o PT, de Lula, e o governador foi bastante cobrado com relação ao apoio nacional, principalmente por ele ser secretário-geral da legenda.

A declaração de apoio veio, tímida, numa estratégia de não permitir que o debate nacional pautasse a eleição capixaba num estado bastante conservador e bolsonarista – o Espírito Santo deu vitória nos dois turnos a Bolsonaro. E esse cenário foi um dos principais motivos para a escolha de Ricardo, tucano e com perfil mais à direita, como vice.

A coluna De Olho no Poder apurou que, entre membros da Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes), a repercussão do anúncio foi positiva. “Não tem quem não goste dele. É um cara que entende a visão do empreendedor”, disse um interlocutor.

Após ser eleito, Ricardo já se reuniu com a Findes para ouvir demandas da federação. O Coinfra – Conselho Temático de Infraestrutura da Findes – apresentou a pauta com demandas envolvendo dois gargalos: a BR-101, que teve a concessão devolvida pela ECO101; e a BR-262, sem previsão de duplicação ou melhorias. São as mesmas demandas da Federação de Transportes também.

Ricardo já sinalizou com respostas. Durante coletiva de imprensa na última quinta-feira (01),disse que o Estado vai receber a visita do governador de Mato Grosso, Mauro Mendes, para trocar informações sobre como resolveu o imbróglio da devolução da concessão da BR-163 por parte da concessionária Rota do Oeste.

“Ele colocou de pé uma engenharia para assumir a rodovia após a concessionária devolvê-la. Conseguiu uma arquitetura interessante com a ANTT e o TCU”, disse o vice, que foi quem fez o convite ao governador mato-grossense. Mauro Mendes também participa, no mesmo dia, do 10º Encontro do Folha Business, promovido pela Apex Partners e pela Rede Vitória.

No início da próxima semana, Ricardo vai a Brasília para se reunir com o diretoria-geral da ANTT para debater sobre a BR-101. Ele já assinou um documento da ECO101 com regras de confidencialidade para conhecer os detalhes do contrato. “A orientação do governador é que a gente se envolva com o tema, que dialoga com o interesse maior dos capixabas”, disse Ricardo à coluna, confirmando o que Casagrande disse na última quinta-feira, que Ricardo já tinha começado a trabalhar – a posse é só em 1º de janeiro.

Outra característica de Ricardo bastante elogiada por empresários é sua interlocução com o setor de rochas e do café, bastante relevantes para a economia do Estado – o setor das rochas representa 10% do PIB capixaba e a cafeicultura é a principal atividade agrícola do Espírito Santo, representando 37% do PIB. Não à toa, que Ricardo também terá como missão ser uma espécie de coordenador ou avalizador das políticas públicas das pastas de Agricultura e Meio Ambiente, além de integrar um comitê econômico a ser criado.

“Vamos trabalhar pela requalificação do nosso comércio exterior. Precisamos gerar melhor valor agregado, ampliar o nível de processamento, deixa de ser o ponto de passagem do que é exportado. Há uma perspectiva de ter uma Zona de Processamento de Exportação, que possa trabalhar na visão de ‘porto-indústria’”, disse o vice.

Outro ponto que foi elogiado pelos empresários: Ricardo é do Sul, de Cachoeiro, e sua ida para a pasta de Desenvolvimento atende também a um pleito antigo dos empresários sulistas por equilíbrio no desenvolvimento das regiões Sul e Norte do Estado.

Os municípios do Norte, que compõem a área atendida pela Sudene, acabam recebendo mais investimentos e repasses de recursos, atraindo também mais empresas para a região. O governador ressaltou que Ricardo vai atuar para o desenvolvimento de todo o Estado, mas o fato dele ser da região e conhecer de perto as dificuldades também agradou o empresariado. “O empreendedor estará na mesa com a gente”, garantiu Ricardo.

Em Brasília…

A PEC da Transição, construída e já enviada para o Congresso pelo governo federal eleito, preocupa economistas. O texto prevê retirar R$ 198 bilhões do teto de gastos pelo período de quatro anos, principalmente para custear o Auxílio Brasil, de R$ 600. O medo de um descontrole das contas públicas, associado ao mistério sobre o nome de quem vai comandar a Economia no futuro governo de Lula, têm gerado uma instabilidade no mercado financeiro.

O presidente eleito disse que os ministros só serão anunciados após a diplomação, marcada para o próximo dia 12, e que o futuro ministro da Economia terá a “cara do sucesso” do seu primeiro mandato.

“Todos os anos haverá aumento real aos trabalhadores que ganham um salário mínimo e aos aposentados. O crescimento do PIB será repartido entre a sociedade brasileira”, disse Lula, lembrando que foi eleito com a promessa de governar, principalmente, para os mais vulneráveis.