Além do ES perder espaço, “desconvite” a Camata tem potencial de gerar crise entre PT e PSB

Alberto Gavini / crédito: Instagram

“Ficou muito ruim”. Foi dessa forma que o presidente do PSB capixaba, Alberto Gavini, classificou o recuo na indicação do nome do secretário de Controle e Transparência, Edmar Camata, para o comando da Polícia Rodoviária Federal (PRF).

Na tarde desta quarta-feira (21), o futuro ministro da Justiça Flávio Dino, que também é do PSB, retirou a indicação de Camata ao posto, menos de 24h após tê-lo anunciado. A decisão veio depois de muita pressão e horas de fritura do capixaba no mercado político.

Após a divulgação na imprensa nacional que Camata já tinha feito elogios à operação Lava-Jato e críticas a Lula, parlamentares e militantes petistas ressuscitaram postagens antigas (2017 e 2018) e pressionaram pela substituição da indicação.

A pressão começou nas redes sociais e foi parar na cúpula do governo eleito e da transição. Foi levantada até uma hashtag – “#Camata na PRF não” – contra o secretário. “Houve um levante contra ele. Foi porrada atrás de porrada”, disse um integrante da equipe de transição do governo eleito.

Camata foi indicação do PSB e do próprio governador Renato Casagrande para a composição do novo governo que tem justamente o PSB na vice-presidência. Embora não esteja mais filiado à legenda, Camata disputou vaga de deputado federal em 2018 pelo partido e sempre esteve próximo das lideranças socialistas.

Casagrande é secretário-geral do PSB, ou seja, exerce um cargo de peso na direção nacional do partido. Por isso, o “desconvite” a um nome indicado pelo governador causou mal-estar no ninho socialista. “Poderia ter tido uma outra saída. Faltou refletir um pouco mais, ter conversado um pouco mais”, disse Gavini, avaliando que o governo eleito se precipitou em descartar Camata.

“Camata é um rapaz que tem todas as características técnicas para assumir o cargo na PRF, muita experiência nessa área. Muita gente acreditou na Lava-Jato, não foi só ele. Muita gente de esquerda, inclusive, naquele momento achou que era um processo adequado. Depois que vimos o que aconteceu, de fato”, justificou Gavini.

Embora Flávio Dino tenha assumido que partiu dele a substituição, isentando Lula e petistas, Gavini disse que ficou difícil de manter o nome de Camata após toda a situação. “As redes sociais contaminaram o ambiente das pessoas mais próximas do Lula, aí ficou difícil do Dino manter a indicação”.

Gavini disse não ter conversado com Casagrande sobre o episódio, mas que acredita que o governador tenha ficado triste. “Ele sabe que Camata é competente, íntegro, educado e engrandeceria o Espírito Santo, por ser um nome nosso”.

Cerca de uma hora depois de vir a público a substituição do nome de Camata, Casagrande anunciou no Twitter que o secretário continuaria no governo, à frente da mesma pasta.

PSB capixaba vai brigar por espaço

Gavini disse que ainda nesta quarta-feira iria entrar em contato com o presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, para entender melhor a situação e tentar reverter, não mais com Camata ou com a PRF, já que um outro nome já foi anunciado para o posto, mas para não permitir que o Estado e o partido fiquem no prejuízo.

Além dos atributos de Camata para o cargo, ter um capixaba num posto como o comando da PRF daria status para o Espírito Santo, que costuma não ser muito lembrado pelos governos federais.

“Vamos tentar criar formas para ajustar, debater para ter um espaço semelhante a esse. Vou ligar para o Siqueira (presidente nacional do PSB), porque é muito importante para nós ter uma posição de destaque como essa. Temos interesse de ocupar um espaço similar. É muito importante para o Espírito Santo ter pessoas na administração federal. Por isso, o PSB estadual fará o contato com o PSB federal, para tentar abrir outros espaços”.