Gilson Daniel vai para o Congresso e abre espaço para o retorno de Ramalho ao governo

Coronel Ramalho e o presidente do Podemos, deputado Gilson Daniel

O presidente estadual do Podemos, Gilson Daniel, não vai voltar para o secretariado de Casagrande no próximo mandato. Ex-secretário das pastas de Planejamento e de Governo, Gilson vai para Brasília cumprir o mandato de deputado federal para o qual foi eleito em outubro.

O martelo foi batido no final de semana, após o dirigente partidário se reunir com o governador. “Eu estive com o governador nesse final de semana. Eu estava mais inclinado a assumir o mandato. Para eu não assumir teria que criar uma condição de entrega maior com relação a algumas secretarias que eu desejava”, disse Gilson.

Ele não deu detalhes da conversa, nem se o governador teria oferecido ou o convidado para alguma secretaria, conforme era cotado nos bastidores. Mas disse que duas coisas pesaram na definição de ir para a Câmara Federal: a confiança do eleitorado – foi o quarto mais votado da bancada capixaba, com 74.215 votos – e a decisão de não criar embaraços para o governador na negociação de espaço com outras siglas.

“Fiz uma avaliação com o governador. Na campanha eu falei que Viana teria o primeiro federal do município, fui bem votado, as pessoas confiaram em mim. E também o governador ganhou com um grupo de partidos muito grande e pela proximidade que tenho com ele não seria eu a criar dificuldades (com outras legendas). O governador fez essa reflexão comigo, que não tinha porta fechada para mim no governo, mas que eu realmente precisava exercer o mandato”, contou Gilson.

Ramalho na pista

Com a definição de Gilson rumo à Câmara Federal é quase certo – o “quase” é pela cautela necessária em todas as articulações políticas e funciona como uma “margem de erro” – que o coronel da PM Alexandre Ramalho (Podemos) retorne ao primeiro escalão do governo, provavelmente em sua antiga função: no comando da Secretaria de Segurança Pública (Sesp).

Nos bastidores, haveria uma resistência, por parte de Ramalho, a voltar. No que dependesse dele, sua vontade seria assumir a Câmara Federal, já que disputou a eleição e ficou como primeiro suplente. Mas, ele também teria tido uma reunião com o governador na última semana. Uma das discussões colocadas na mesa seria a busca de Ramalho por mais autonomia e entregas na secretaria. E a reunião teria terminado com uma boa costura.

Caso se confirme Ramalho na Sesp, a cota partidária de espaço do Podemos no 1º escalão se encerra. Isso porque o partido já tem a ex-prefeita Emanuela Pedroso, também do grupo político de Gilson Daniel, garantida no comando da Secretaria de Governo do próximo mandato – um cargo de extrema confiança da gestão. E por que o Podemos pode herdar duas pastas de peso no futuro governo?

O Podemos faz parte da base aliada do governador. Quando deixou a Prefeitura de Viana em 2021, elegendo seu sucessor (Wanderson Bueno), Gilson foi para a cúpula do governo, assumindo duas das pastas consideradas o “coração” da gestão: primeiro, a Secretaria de Governo. Depois, a de Planejamento. O Podemos foi um dos primeiros partidos a declararem apoio a Casagrande na formação da frente ampla para a disputa à reeleição.

Durante a campanha, como é de praxe, as legendas colocaram seus principais nomes para jogo e as lideranças do Podemos começaram a defender a candidatura ao Senado de Ramalho, que chegou a ser convidado para disputar pelo União Brasil, mas ficou no Podemos após ter recebido do partido a garantia de que poderia concorrer ao cargo majoritário.

Mas, a disputa à única vaga para o Senado e com o apoio do Palácio Anchieta era a das mais acirradas da eleição. E com a chegada das convenções partidárias foi ficando claro que o nome a ser apoiado pelo governo seria o da senadora Rose de Freitas (MDB).

Rifado da disputa ao Senado, restou a Ramalho concorrer à Câmara Federal. O Podemos conseguiu eleger dois candidatos: Gilson Daniel e o vice-prefeito Victor Linhalis, mas Ramalho ficou de fora, na primeira suplência.

Mesmo frustrado com a forma como tudo se deu e pelo resultado da eleição, Ramalho defendeu a reeleição de Casagrande, fez campanha e pediu votos. Pagou um preço, nas redes sociais, por defender voto em Bolsonaro e em Casagrande.

Por tudo isso, o partido e até mesmo o governador, segundo interlocutores, se sentiam em dívida com o ex-secretário e procuravam uma forma de contemplá-lo, juntando o útil – o fato de Ramalho ter feito um trabalho considerado satisfatório, pelo governo, à frente da Segurança Pública – ao agradável, já que ele se mostrou leal e confiável, mesmo tendo sido prejudicado pelos arranjos políticos.

Em tempo: há também uma leitura no mercado político de que se o Podemos conquistar duas cadeiras no primeiro escalão, como se desenha, reduz a chance do deputado Marcelo Santos (Podemos) virar presidente da Assembleia Legislativa na disputa pela Mesa Diretora, em fevereiro. Seria dar muito peso e poder para um único partido da base, o que pode gerar ciúmes e desgastes entre os aliados já no início do próximo governo.