Secretário da Segurança é cotado para disputar prefeitura

Coronel Ramalho / Crédito: Hélio Filho

Desde que o vereador de Vitória Anderson Goggi (PP) fez, da tribuna da Câmara da Capital, um convite público de filiação ao secretário estadual da Segurança Pública que o mercado político cogita a possibilidade do coronel Alexandre Ramalho (Podemos) disputar a eleição para prefeito no ano que vem.

E a cotação não é só para Vitória, como sugeriu o vereador. Nos bastidores, também é cogitada a possibilidade do secretário disputar a Prefeitura de Vila Velha, numa engenharia que o obrigaria a deixar seu partido, o Podemos. Dirigentes partidários confirmaram à coluna que Ramalho é cotado para disputar Vitória ou Vila Velha.

O assunto tomou corpo após Goggi sugerir à presidência do PP a filiação de Ramalho ao partido. O convite ocorreu no último dia 20, durante uma sessão ordinária na Câmara de Vitória, quando outros vereadores também “lançaram” outros três nomes para a disputa a prefeito da Capital.

“Tem um cara que nos representa também, que é o Ramalho, que é um conservador, que defende alguns princípios. Então, presidente, pega a visão que o Progressista também tem condições de lançar prefeito na capital”, disse Goggi se dirigindo ao presidente do PP em Vitória, Marcos Delmaestro, que acompanhava a sessão do plenário.

À coluna, Goggi disse que Ramalho seria um bom nome para o PP e que não acredita que ele fique no Podemos. “Eu fiz a sugestão, cabe ao partido avaliar. Delmaestro falou que seria um bom nome para entrar nos quadros do partido e eu não acredito que Ramalho fique no Podemos”.

O vereador não disse o motivo de sua crença numa desfiliação do secretário, mas nos bastidores o que se comenta é de um suposto mal-estar do Ramalho com lideranças do Podemos no Estado – o que o partido e o próprio secretário negam.

Delmaestro fez coro a Goggi, mas ressaltou que ainda não foi feita nenhuma conversa oficial com Ramalho sobre filiação e candidatura. “Só teve uma conversa sobre Ramalho no PP, mas não houve nenhum convite da nossa parte ao secretário. Ele é um excelente player, tem a pauta mais difícil do governo e se ele estiver aberto a conversar, nós gostaríamos de filiá-lo”.

Questionado pela coluna se o secretário teria espaço para disputar a Prefeitura de Vitória no ano que vem, Delmaestro, porém, hesitou: “Temos que ouvir o projeto dele”, disse, mirando também as eleições de 2026. Mas a cautela do PP pode ter outro motivo.

As implicações da disputa em Vitória

Desde que o deputado federal Da Vitória assumiu o comando estadual do PP, o partido tem se aproximado do atual prefeito de Vitória, Lorenzo Pazolini (Republicanos). Tanto que até surgiu um convite para o partido fazer parte da gestão.

Pazolini convidou Goggi para ser secretário da Cultura. O vereador recusou, mas a proximidade com o partido, que é feita via diretório estadual, vai de vento em popa.

O deputado federal Evair de Melo (PP) já declarou que, independentemente de qualquer decisão do partido, vai apoiar o prefeito à reeleição. E Da Vitória sinalizou que, em caso do PP não apresentar uma candidatura própria, nada o impede de apoiar Pazolini no ano que vem.

Goggi, Pazolini, Aridelmo e Delmaestro durante encontro na PMV

Ou seja, uma candidatura própria tiraria o PP do palanque de Pazolini ao menos num primeiro momento. O que não impede de, em caso do PP não ir para o segundo turno, apoiar Pazolini depois. Porém, uma candidatura própria com um nome ligado ao governo Casagrande, como é o do Ramalho, não só tiraria o PP do palanque do prefeito como também levaria o partido para a oposição.

É de conhecimento público que o governo do Estado tem interesse em emplacar um aliado no comando da Prefeitura de Vitória. Por isso o PP vai ter de decidir se para a eleição do ano que vem fecha com Pazolini ou se fecha com o governo Casagrande. E, talvez, o maior desafio à tomada de decisão seja costurar um alinhamento interno.

Enquanto o novo comando estadual do PP é mais independente, o diretório de Vitória é bastante próximo ao Palácio Anchieta e defende ter autonomia para tomar as decisões com relação à eleição do ano que vem.

“Não tem isso de já estar fechado em apoiar Pazolini. A gente não está com muita pressa em algumas decisões, principalmente em Vitória. O que tem de certeza é que o PP não vai entrar em polarização, tem que ter equilíbrio. O jogo ainda não começou”, disse Delmaestro.

As implicações da disputa em Vila Velha

Se de um lado o PP pode ter divergências internas numa eventual filiação de Ramalho para a disputa em Vitória, por outro, o Podemos pode ter o mesmo problema, caso o secretário decida disputar a Prefeitura de Vila Velha. Isso porque ele é do mesmo partido que o atual prefeito, Arnaldinho Borgo (Podemos), que deve tentar a reeleição.

É justamente a possibilidade de Ramalho disputar a Prefeitura de Vila Velha que tem fomentado o burburinho de que ele poderia deixar o Podemos, já que a prioridade da disputa é de quem ocupa o cargo e vai disputar a reeleição. Há quem diga que Ramalho nem tem participado das agendas e encontros partidários.

Mas, pelo menos por enquanto, ele não pensa em deixar o partido. Até porque é o primeiro suplente do Podemos na Câmara Federal e ainda que não exista nenhuma sinalização de que uma vaga pode ser aberta, ao se desfiliar do partido, Ramalho automaticamente perde a suplência.

“Em relação ao Podemos, não tem porque eu sair. Dei minha contribuição ao partido. Com esses 33.874 votos conseguimos ajudar, com muita humildade, a fazer dois deputados federais – o Victor Linhalis e o Gilson Daniel. Estou como primeiro suplente, então hoje não teria motivo de sair do partido”, disse o secretário.

O presidente estadual do Podemos, deputado Gilson Daniel, também descartou a possibilidade do secretário deixar a legenda. “A relação com Ramalho está ótima, ele é meu amigo”, disse o deputado. Ao ser questionado pela coluna se o secretário teria legenda para disputar a próxima eleição como candidato a prefeito, o presidente não respondeu.

Nesse ponto, Ramalho também desconversou, embora tenha admitido que tem sido procurado por dirigentes partidários. “Sinceramente, é muito cedo para discutir isso. É claro que muita gente procura, como procurou na época da campanha para deputado federal e senador. Muitos dirigentes de partidos abrem o diálogo, mas hoje nosso foco é a segurança pública, não tem como discutir pleito eleitoral agora, isso está totalmente fora do contexto”.

Ele, porém, não descartou a possibilidade de participar da eleição no ano que vem:

“Lá na frente, se houver uma nova conversa, se houver um projeto político, apoio, a gente pode pensar. Mas hoje não tem a menor condição da gente entrar nesse debate, até pela condição que me encontro como secretário de Segurança Pública. A carga aqui na secretaria é muito pesada, é demanda todo dia”.

Ramalho falou rapidamente com a coluna na segunda-feira passada (26), pouco antes de entrar numa coletiva de imprensa que teve como pauta o tiroteio em Gurigica, Vitória, que matou, com uma bala perdida, um idoso internado num hospital particular.

Segurança na vitrine e o raio-X da violência

Ramalho em operação no bairro Boa Esperança, em Linhares

Seja em Vitória ou Vila Velha, Ramalho sabe que no momento em que admitir que será candidato a prefeito, a Segurança Pública, pasta que comanda no governo do Estado, estará como vitrine, no centro do debate, podendo exaltá-lo ou derrubá-lo.

Durante a campanha do ano passado, o governador citou, entre tantas outras promessas, a meta de levar o Espírito Santo para o ranking dos cinco estados mais seguros do País. Um dos indicadores, seria a taxa de homicídios que, todo ano, o governo luta para ficar abaixo dos mil casos.

A violência, porém, vem crescendo. Dados do observatório de Segurança Pública da Sesp mostram que o primeiro semestre desse ano registrou 509 homicídios, 7,4% a mais do que foi registrado no mesmo período do ano passado (474).

Com exceção da Grande Vitória – onde os assassinatos caíram 9,3% –, em todas as outras regiões do Estado aumentou, chamando a atenção para a região Noroeste, que teve um salto de 66,7% no índice de homicídios, pulando de 48 para 80 crimes de 2022 para este ano. Na região Norte o aumento foi de 9,9%; na Região Sul, de 23,3% e na região Serrana, o avanço da criminalidade foi de 29,2%.

Os casos de feminicídio – quando a mulher é assassinada em um contexto de violência doméstica ou de discriminação de gênero, tendo na maioria das vezes o companheiro ou o ex como autor – também aumentaram nesse ano em comparação a 2022. No primeiro semestre foram registrados 18 feminicídios, 20% a mais do que o registrado no mesmo período do ano passado (15).

Sinais de redução?

Os tiroteios nos morros de Vitória, o tráfico de drogas e os homicídios avançando no interior – um único bairro de Linhares (Boa Esperança) registrou oito homicídios nesse ano – e os casos de feminicídios que tanto chocam os capixabas são um desafio e tanto para o Estado e principalmente para quem está à frente da missão de combater a violência.

Mas, há também pequenos sinais de melhora. Embora na análise do semestre, a comparação com o ano passado tenha sido negativa, quando se analisa a evolução mês a mês desse ano, nota-se uma redução na criminalidade – ainda bastante tímida, mas crescente.

O mês passado, por exemplo, registrou o menor número de homicídios do ano. Foram 71 em junho, contra 76 no mês de maio, 84 no mês de abril e 98 no mês de março. Ou seja, de março para cá, o número de assassinatos vem caindo, embora ainda seja considerado bem alto.

Ainda não é possível avaliar se o Estado consegue fechar o ano com menos de mil homicídios. Mas em 2019, quando o índice fechou em 987 crimes, o primeiro semestre tinha registrado 506 assassinatos – três a menos que o registrado nesse ano, o que sinaliza não ser impossível atingir a meta de redução.

É o que o governo e Ramalho querem, é o que a população capixaba espera. Mais do que uma promessa de campanha ou uma bandeira de um candidato, combater com eficácia a violência no Espírito Santo é urgente e, com certeza, não pode esperar a próxima eleição.

Em tempo: Num eventual embate na disputa pela Capital, quem teria maior apoio das forças de segurança, o delegado da Polícia Civil ou o coronel da Polícia Militar?

 

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