Presidente da Ales não confirma e nem descarta candidatura de conselheiro

Marcelo Santos em discurso na Ales / crédito: Ales

O presidente da Assembleia, Marcelo Santos (Podemos), abriu, na tarde desta segunda-feira (05), o ano legislativo da Casa e fez uma fala contundente sobre o que deve ser a principal pauta dos deputados nesse mês.

Rodeado por chefes de Poderes e por todos os conselheiros do Tribunal de Contas, Marcelo enfatizou, durante o discurso na Casa, que a vaga no TCES aberta com a aposentadoria de Sérgio Borges no mês passado, é da Assembleia.

“Quero assegurar, aos meus colegas parlamentares que a vaga aberta de indicação desta Casa é assim e assim será feito: a vaga é da Assembleia Legislativa. Cabe a esses homens e mulheres que aqui estão diante de vocês a escolha do novo conselheiro do Tribunal de Contas. Vamos decidir isso internamente, pois compete apenas à Assembleia Legislativa essa indicação”.

Antes da sessão, que começou às 15 horas, esse foi o principal assunto do almoço oferecido por Marcelo aos pares. Segundo ele, ganhou força entre a maioria dos deputados a defesa de que a vaga na Corte de Contas deveria ficar com um parlamentar.

Das sete vagas de conselheiros, quatro são de escolha da Assembleia. Porém, atualmente, apenas duas cadeiras são ocupadas por ex-deputados. A terceira cadeira é ocupada por Luiz Carlos Ciciliotti, ex-chefe da Casa Civil do governo de Renato Casagrande (PSB), e a quarta cadeira é a que está agora em jogo.

Segundo o presidente da Ales, durante o almoço não foi falado em nomes e nem em possíveis candidatos, porém, outros deputados que participaram do encontro disseram para a coluna De Olho no Poder que o nome de Marcelo Santos chegou a ser ventilado como um possível candidato à vaga – o que Marcelo, ao ser questionado pela coluna, não negou.

“Há um movimento muito grande de parlamentares para que seja alguém da Casa (…) Meu projeto não cogita ser conselheiro. Tem sido ventilado (meu nome) porque eu consegui fazer uma harmonia muito bacana aqui, então é natural. Vou conversar com todas as forças aqui dentro”, disse o presidente.

Perguntado, então, se descartaria ser candidato, Marcelo desconversou: “Eu não sei, até porque eu não estou colocando meu nome, então não posso falar sobre aquilo que não estou colocando”. Depois, falou sobre os planos de ser reeleito presidente da Assembleia e chegar à Câmara dos Deputados.

Como o nome de Marcelo surgiu?

Até pouco tempo atrás, o nome do presidente Marcelo Santos não aparecia na lista de cotados – que tinha como favorito o chefe da Casa Civil, Davi Diniz – para preencher a vaga de conselheiro no Tribunal de Contas.

Até porque, acreditava-se, que a cadeira no TCES teria entrado no acordo com o governo na eleição para presidente da Assembleia, assim como a candidatura em Cariacica: Marcelo abriria mão dos dois postos e em troca receberia apoio do Palácio Anchieta para comandar o Legislativo.

Em entrevista para a coluna De Olho no Poder há um ano, um dia antes da eleição da Mesa Diretora da Ales, Marcelo disse com todas as letras: “Não está mais nos meus planos a vaga de conselheiro”.

De fato, até hoje, ao menos publicamente, ele nunca expressou a intenção de disputar a cadeira. Isso, porém, não quer dizer que ele não a queira. Raposa política, com muito tempo de estrada – só de mandatos na Ales tem seis consecutivos –, Marcelo sabe que queimar a largada ou se mostrar precocemente no jogo pode colocar tudo a perder.

Marcelo se articula nos bastidores, longe dos holofotes e da ansiedade que acomete muitos candidatos. “A eleição é um jogo de paciência”, disse Marcelo na mesma entrevista à coluna no ano passado. Afinal, quem não se lembra da costura política que ele fez para chegar ao comando da Assembleia?

Em meados de janeiro do ano passado, o deputado Vandinho Leite (PSDB) era franco favorito para se tornar presidente. Tinha conquistado o apoio de 24 dos 30 deputados eleitos, quando, de repente, começaram a surgir nos bastidores questionamentos sobre a lealdade de Vandinho ao governador e sobre a aproximação do deputado com nomes da oposição – que foi explorada, pelo grupo que apoiava Marcelo, como suspeita e perigosa e, ainda, com potencial de colocar em risco a estabilidade do governo na Assembleia.

Ao mesmo tempo, Marcelo dava ao Palácio Anchieta a garantia de que haveria estabilidade política no Legislativo sob seu comando – o que ele conseguiu cumprir, ao longo do ano passado.

A partir daí, a adesão ao nome de Vandinho foi minando e ao de Marcelo, que até então tinha apoio de apenas três deputados, começou a crescer.

É claro que o determinante mesmo foi o apoio explícito do governador a Marcelo, que é o que sinaliza que irá pesar agora na eleição de conselheiro. Deputados da base aliada – que são maioria –, em conversa com a coluna, disseram que vão ouvir o governador, independentemente de quem tenha maior apoio na Ales.

Sessão de abertura dos trabalhos legislativos / crédito: Ales

Os poréns…

Se o nome a ser escolhido for o de um deputado, não há, hoje, quem tenha maior apoio que Marcelo. Ele consegue atrair os votos tanto da base quanto da oposição e até pelo poder que tem nas mãos, ocasionado pela presidência, pode até ter uma maioria esmagadora ao seu lado.

Porém, a saída de Marcelo da presidência abre vaga – por tempo limitado, mas abre – para a ascensão do 1º vice-presidente da Ales, o deputado Hudson Leal (Republicanos), à cadeira de presidente. Não à toa que ele seja um dos principais entusiastas dos movimentos “A vaga é da Ales” e “O nome é Marcelo”.

De acordo com o artigo 20 do Regimento Interno da Ales, “vago qualquer cargo da Mesa, até 30 de novembro do segundo ano do mandato, a eleição respectiva se processará dentro de cinco sessões subsequentes à ocorrência da vaga, devendo o eleito completar o tempo do antecessor”.

Ou seja, o 1º vice assume e tem até cinco sessões para convocar uma nova eleição para a cadeira de presidente. O eleito assume o mandato tampão e fica todo o restante do período que seria do primeiro titular da vaga.

Acontece que alguns deputados da base aliada tem um pé atrás com Hudson por ele ser bem próximo dos principais opositores do Palácio Anchieta na Ales. Eles temem o que ele poderia fazer, com a caneta de presidente na mão, durante esse período. “Em cinco sessões dá pra fazer muita coisa”, disse um deputado sob reserva à coluna.

Tudo resolvido até o final do mês

Marcelo Santos disse que ligaria para o governador ainda ontem para marcar uma agenda para tratar do assunto. Também quer se reunir com o presidente do Tribunal de Contas. Os dois encontros devem acontecer nessa semana.

Em entrevista, após a sessão solene que abriu os trabalhos da Casa, o presidente afirmou que quer findar todo o processo da escolha do novo conselheiro até o final desse mês, embora não haja prazo definido. “Há tempo hábil para isso”, disse ele.

Com relação à fala contundente no discurso, o anfitrião negou que tenha sido um recado ao governo ou ao Tribunal de Contas. “Eu quis dizer como é que é feita a composição do Tribunal de Contas. Tem a vaga que compete ao TCES, ao governo do Estado e à Ales. Essa é a vaga da Assembleia”.

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