Março amarelo: por que a endometriose pode causar infertilidade?

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Dra. Layza Merizio Borges

Março é conhecido como o Mês Amarelo, de conscientização mundial sobre a endometriose, causa importante de infertilidade nas mulheres, estando presente em até 50% das mulheres inférteis. Estima-se que 10% a 14% das mulheres em fase reprodutiva (19 a 44 anos) e 25% a 50% das mulheres inférteis sejam acometidas pelo distúrbio.

Nos últimos anos, a doença ficou mais conhecida após várias famosas, como a cantora Anitta e as atrizes Larissa Manoela e Tatá Werneck terem declarado ter a doença.

Mas ainda assim, o pouco conhecimento sobre a endometriose leva as mulheres a acreditarem que ter cólicas intensas durante o período menstrual é normal, o que pode retardar o diagnóstico em até 10 anos ou mais, comprometendo não só a qualidade de vida, como a fertilidade. Muitas mulheres só descobrem que têm a doença quando tentam engravidar e não conseguem.

Mas o que é endometriose?

A doença se caracteriza pela presença do endométrio – tecido que reveste o interior do útero – fora da cavidade uterina, ou seja, em outros órgãos da pelve como trompas, ovários, intestinos e bexiga. Representa um desafio para o especialista em reprodução humana, pois, apesar da evolução contínua das técnicas de tratamento, a presença da endometriose limita a taxa de sucesso gestacional.

O problema interfere na fertilidade, pois provoca um processo inflamatório crônico que influencia o processo de ovulação, fertilização e implantação do embrião.

A paciente que tem a doença possui, em sua cavidade abdominal, diversos mediadores inflamatórios que tornam o ambiente hostil à ocorrência da gravidez, uma vez que tais mediadores prejudicam a qualidade dos óvulos, comprometem a fecundação do óvulo pelo espermatozoide, atrapalham a receptividade endometrial, entre outros efeitos.

Anamnese e o exame físico ginecológico consistem no primeiro passo para o diagnóstico, que pode ser confirmado por exames complementares, sendo os mais fidedignos o ultrassom endovaginal com preparo intestinal e a ressonância magnética da pelve.

Visualizar as lesões por videolaparoscopia e realizar o estudo histopatológico das biópsias das lesões suspeitas constituem o exame padrão ouro no diagnóstico, possibilitando também seu tratamento cirúrgico, quando indicado.

Porém, o diagnóstico de endometriose não deve ser motivo para desistir do sonho de se ter um filho. O tempo é crucial para isso: ou seja, quanto mais cedo ela for diagnosticada, mais chances de se engravidar.

Tratamento

Para indicação do tratamento adequado, faz-se necessário avaliar alguns fatores, como desejo gestacional, estágio da doença, presença de dor, interferência na qualidade de vida, entre outros fatores.

Se a paciente não deseja engravidar no momento do diagnóstico, está indicado o uso de métodos hormonais contínuos que bloqueiem a menstruação, já que a doença é decorrente da menstruação retrógrada. Se ela deseja engravidar, é preciso avaliar o grau da doença, se há fator tubário ou outro fator associado que dificulte a concepção.

O tratamento cirúrgico pode ser indicado quando a paciente apresenta dor pélvica intensa, incapacitante, refratária a tratamento clínico e que prejudique sua qualidade de vida.

Além disso, a cirurgia pode ser indicada quando a doença é superficial, sem outros fatores de infertilidade associados, objetivando gravidez natural no pós-operatório. Porém, se a paciente apresenta endometriose profunda, endometrioma ou obstrução tubária, a fertilização in vitro (FIV) é o tratamento mais eficaz para obtenção da gravidez, já que a cirurgia impacta consideravelmente na reserva ovariana.

Em alguns casos, como, recomenda-se o congelamento de óvulos ou embriões previamente à cirurgia, visando preservar a fertilidade para uma gravidez futura.

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Dra. Layza Merizio Borges

Médica. Mestre (IAMSPE-SP) e Doutora (UNIFESP) em Reprodução Assistida. Título de Especialista em Reprodução Assistida pela Associação Médica Brasileira e pela Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia. Membro internacional da Sociedade Europeia de Reprodução Humana e Embriologia (ESHRE). Membro efetivo da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana (SBRH) e de Reprodução Assistida (SBRA). Responsável Técnica do Instituto de Medicina Reprodutiva. @medicinareprodutiva