Reinvente-se!

Reinvente-se!

Não há mais lugar no mundo para profissionais que só conseguem olhar em uma direção.

Artigo do nosso amigo de longa data, Claudius D’Artagnan C. Barros. Pioneiro nos estudos da Qualidade, Criatividade e Inovação no Brasil a partir de sua atuação na Embraer – S. J. dos Campos SP, e seu trabalho nas entidades associativas que hoje se organizam como União Brasileira para a Qualidade – UBQ. D’Artagnan esteve várias vezes no Espírito Santo contribuindo para nossa luta nas empresas, especialmente a CST e Vale, entre outras.

Vamos ao artigo do mestre:

O mundo dá sinais de se transformar cada vez mais rapidamente e mais radicalmente. Em todos os aspectos: tecnológico, político, econômico, social, ecológico. Não temos como ignorar isso.

E, não podendo ignorá-lo, não podemos tampouco ficar passivos a respeito. Não nos transformar igualmente significa estagnar, ficar para trás. Quem não muda pessoalmente não está se protegendo; está se tornando mais vulnerável.

Assim, reinvente-se! Reinvente-se profissionalmente, reinvente-se emocionalmente, reinvente-se socialmente!

Em especial os ambientes de trabalho, os mercados, os contextos para os negócios estão exigindo de nós que criemos opções de ação – novos produtos, novos serviços, novas formas de concebê-los, de elaborá-los, de divulgá-los nos mercados, de vendê-los, entregá-los e cuidar que continuem sendo úteis aos seus consumidores.

Não importa se você é um profissional autônomo, ou se presta serviços a uma ou mais empresas como empregado com carteira assinada ou “pejotado”. Não importa se você é ou representa uma empresa ou outro tipo de organização, com ou sem fins lucrativos. Não importa se seus clientes são pessoas físicas ou jurídicas. Sua transformação, sua mudança permanente é imperiosa do mesmo jeito, em qualquer caso.

Abra espaço na sua mente e no seu coração para os novos modos de enxergar o mundo e lidar com ele. Sim, em sua mente, porque é preciso que você considere novas formas de pensar, agir e refletir sobre as coisas; e em seu coração, porque você precisa querer mudar, aceitar o desafio e encará-lo com um sentimento de otimismo e prazer.

Tudo bem, você tem razão: não é nada fácil fazer isso! Não gostamos de sair da zona de conforto, preferimos mil vezes mais o conhecido que o desconhecido, num mundo seguro e sem ameaças.

Mas, compreenda: o conhecido, o já sabido, é sumamente perigoso – traz-lhe, como foi dito anteriormente, um risco enorme de acabar ficando para trás, obsoleto, deslocado num mundo que se move para frente! Estão surgindo novas maneiras de gerenciar e de trabalhar, de relacionar-se com as pessoas, de interpretar o que acontece no mundo, de comunicar-se com os outros. Você precisa enxergá-los, encará-los de frente e saber lidar com eles.

Não é uma questão de idade – você pode ter 18 ou 80 anos. Não é uma questão de prestígio – você pode ser conhecido e admirado no mundo todo ou não passar de um ilustre desconhecido. Não é uma questão de poder aquisitivo – você pode ser podre de rico ou morar debaixo da ponte. Não é uma questão de sexo – você pode ser homem, mulher ou outro gênero. E tampouco é uma questão de inteligência – você pode ser uma sumidade ou um ignorante.

Qualquer que seja o caso, é preciso mudar! É imperioso, é inevitável e é vital para sua sobrevivência que você se reinvente.

O cinema a cada semana nos apresenta um novo blockbuster, em que o protagonista tem de se virar para lidar com um zumbi, um vampiro, um androide ou um transformer. Mas, o cinema nos ajuda a refletir sobre quem somos e para onde estamos indo, pois curiosamente é a própria vida real que está repleta desses personagens.

Sim, o mundo está cheio de zumbis, indivíduos que não sabem se continuam vivos ou já morreram social ou profissionalmente -procuram seu lugar num mundo em que se sentem profundamente deslocados. Está cheio também de vampiros, que não têm capacidade de construir suas próprias soluções e vivem de roubar a energia dos outros.

Está, igualmente, cheio de androides, que automatizaram a tal ponto seus modos de pensar, sentir e agir, que agora não são mais capazes de se renovar para as mudanças que os cercam. E está cheio, finalmente, de transformers, que ora são uma coisa, ora são outra, mudando aleatoriamente o tempo todo, mas sem um direcionamento, sem sentido definido, sem saber para onde ir – mudam simplesmente porque mudam, não porque seja importante mudar naquela hora e para aquilo em que se transformam.

Transforme-se, reinvente-se – mas com inteligência, aprendendo sobre o novo e não como um androide; com vitalidade, drive, garra e não como um zumbi; fazendo uso de suas habilidades e energias e não como um vampiro; sabendo perfeitamente para onde está se dirigindo, e não como um transformer.

A autorreinvenção deve ser assumida pelas pessoas como uma nova estratégia de vida. Elas devem abandonar sua zona de conforto, não porque estejam mal vivendo desse modo, mas porque precisarão abandoná-la de qualquer modo, mais cedo ou mais tarde. Que seja, então, mais cedo, quando se pode fazer isso voluntariamente e não por estar sendo obrigado, ou ameaçado a fazê-lo.

Tudo que se faz voluntariamente é mais leve, mas fácil, mais prazeroso e mais efetivo. As pessoas, no entanto, têm outra estratégia, que não é a da autotransformação, mas a da permanência enquanto der, da segurança a todo custo, mesmo que não saiba por que fazem isso.

Sigmund Freud, médico neurologista criador da psicanálise, erigiu sua teoria psicanalítica sobre vários conceitos já consagrados pela cultura mundial, um dos quais é o da busca da maturidade e da sabedoria pela troca do princípio do prazer pelo princípio da realidade. As crianças buscam o prazer e a evitam a dor a todo custo, não querem deixar aquilo que lhes é seguro, não saem da zona de conforto. Ao primeiro sinal de que podem vir a sofrer com uma alteração naquilo que já conhecem, apavoram-se, perdem-se emocionalmente, choram.

Os adultos maduros não fazem isso. Certamente querem também o prazer e não desejam sofrer. Mas, sabem calcular de forma adequada um nível suportável de risco, de sofrimento, para construir uma situação nova, que depois lhes será melhor que a atual. Ou então, tolerar a frustração e esperar pela recompensa incomparavelmente melhor que virá depois, ao invés de aceitar o “menos bom” agora.

A maioria das pessoas nunca deixa o princípio de prazer pelo princípio de realidade, entretanto. Nunca deixa de ser criança, de fato. Por isso o mundo dos adultos está cheio de kidults ou adultescentes que não sabem esperar, construir para mais tarde, investir para ter mais depois, privar-se agora para desfrutar depois.

Essas pessoas repetem comportamentos arcaicos, pré-históricos, vindos ainda dos tempos das cavernas, quando era preciso, aqui e agora, colher a raiz, o fruto ou a folha, ou matar o animal que se encontrasse logo à frente, para comer a refeição do dia. O homem evoluiu, mudou. Aprendeu a plantar para colher depois, mais e melhor.

Aprendeu a domesticar o animal para ter acesso à proteína quando precisasse. Aprendeu a usar o fogo para cozinhar e ter alimentos mais fáceis de digerir e assim viver mais, agredindo menos o estômago. Aprendeu a construir uma casa em que pudesse se abrigar das intempéries…

Olhar para o futuro e imaginar o que de melhor poderia ter daqui a algum tempo, em relação ao que se teve antes e ao que se tem agora, isso é uma conquista humana, decorrente da troca do princípio de prazer pelo princípio de realidade. Não há por que ignorar essas extraordinárias conquistas da civilização e manter-se, na mente e no coração (no campo das ideias e dos sentimentos) num estágio pré-histórico.

Não há mais lugar no mundo para profissionais de viseira, ou seja, aqueles que só conseguem olhar numa direção – a direção conhecida, aquela que lhe é dada por alguém, sem considerar o que vai à sua volta. Esses profissionais são aqueles que se especializam em dado tema e não se preocupam em saber de outro, quando o mundo pede interdisciplinaridade e continua recontextualizando tudo que sabemos e podemos.

Quem não tem as limitações de uma viseira é capaz de recolher conhecimentos que se encontram num dos lados da estrada pela qual passa, para retransmiti-los imediatamente para o outro lado – e vice-versa, fazendo o mixing de conhecimentos vindos de fontes e temáticas totalmente diferentes entre si, que o ajudarão a produzir novos e originais conceitos. Tire a viseira e olhe para todos os lados. Por vezes seus olhos poderão doer um pouco, de tanta coisa a ser vista e processada.

Mas, não se angustie com isso, pelo contrário: lembre-se de que essa breve dor é necessária, para que essa riqueza intelectual lhe seja benéfica mais adiante. Enfim…reinvente-se!

Claudius D’Artagnan é vice-presidente da Academia Brasileira da Qualidade (ABQ), membro da Academia de Letras de Lorena (SP), empreendedor e coautor do livro Aprenda a Empreender – Antes que o mercado exija! – Agência Literária Kun Verkistoj – 2018

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *