Thiago Braz, o mais improvável dos heróis de ouro no Engenhão

Sonho? Ser atleta olímpico. Sonho melhor ainda? Disputar os Jogos Olímpicos em casa. Sonho ainda mais incrível? Vencer o atual campeão da prova e recordista mundial. E aquele momento que nem em sonho daria para imaginar? Fazer tudo isso e ainda bater o recorde olímpico. Foi exatamente o que se viu na noite desta segunda-feira (15.08). O herói tem 22 anos, nasceu em Marília (SP) e atende pelo nome de Thiago Braz. O mundo acompanhou tudo isso no Engenhão, nos Jogos Rio 2016.

O novo recorde olímpico é de 6.03m e foi com essa marca que Thiago fez 200 milhões de pessoas se inflarem de orgulho. Ele se superou incrivelmente. Até esta noite, a melhor marca pessoal dele era um 5.93m em uma competição indoor, realizada em fevereiro de 2016, em Berlim. Ele simplesmente voou para subir essa marca em 10 centímetros, em pista aberta. Ele voou para história do Brasil e do mundo. Ele voou para tirar o sorriso do então campeão olímpico e ainda recordista mundial (6.16m), o francês Renaud Lavillenie e levar o Estádio Olímpico à loucura.

“Eu estou muito feliz. Eu e minha equipe trabalhamos muito duro por esse momento. Não para o ouro, mas para tentar uma medalha. Esse resultado é absolutamente incrível. É minha primeira vez acima de seis metros. A torcida estava torcendo muito. Eu tive de focar na minha técnica e esquecer as pessoas em volta para conseguir o melhor”, afirmou Thiago.

O final feliz, inesquecível e histórico veio em uma noite de chuvas e ventos, competidores encharcados, problemas com o sarrafo e muita tranquilidade e coragem.

Chovia forte no Estádio Olímpico quando a prova teve início, às 22h35. Três competidores fizeram o primeiro salto, todos falhos, e em menos de dez minutos a disputa parou em função do mau tempo. A prova voltou após uma hora e os três saltadores tiveram direito de repetir a primeira tentativa. O chinês Changrui Xue errou novamente na altura de 5.50m e ficou encharcado ao cair no colchão que amortece a descida dos atletas. O tcheco Michal Balner acertou, e comemorou igualmente molhado. Neste momento, os competidores já sabiam o que os esperava na aterrissagem.

“(A interrupção) me incomodou um pouco no início, mas tentei ficar tranquilo. O máximo que podia acontecer é eu ir mal, mas não quis pensar por esse lado. Se estava mal pra mim, estava para todos”, contou o brasileiro.

Thiago Braz preferiu não saltar 5.50m e começou bem a competição ao passar 5.65m na primeira tentativa. Por “problemas técnicos”, a prova foi interrompida por cerca de 15 minutos outra vez, até que finalmente conseguiram recolocar o sarrafo na altura de 5.65m. No retorno da competição, além de Thiago, outros cinco atletas seguiram na disputa para tentar a marca de 5.75m. Entre os que ficaram para trás, estava o canadense Shawnacy Barber, atual campeão mundial e que havia saltado 6.00m em 2016.

Renaud Lavillenie entrou na prova e não teve dificuldades para superar 5.75m. Outros dois atletas passaram de primeira, um ficou pra trás e Thiago Braz conseguiu na segunda tentativa. O norte-americano Sam Kendricks, após errar uma, decidiu tentar a altura seguinte. Neste momento, o brasileiro estava em quarto.

O recordista mundial, novamente, passou fácil 5.85m. Thiago também superou a altura de primeira, e assumiu a segunda colocação. O Engenhão gritou alto seu nome. Kendricks foi outro que obteve sucesso. Os dois que falharam na primeira oportunidade em 5.85m decidiram tentar direto a altura seguinte.

Lavillenie, sempre ele, brilhou mais uma vez em 5.93m. Thiago e Kendricks erraram na primeira. O tcheco Jan Kudlicka se despediu. Era a chance de Thiago igualar sua melhor marca, desta vez em pista aberta. Ele conseguiu e bateu seu próprio recorde sul-americano outdoor. Quando o polonês Piotr Lisek ficou para trás, Thiago já era pelo menos bronze. O Engenhão aplaudiu, sem nem imaginar o que viria na sequência.

O norte-americano Kendricks não foi capaz de passar 5.93m e ficou com o bronze. A medalha mudou de cor no peito de Thiago. Já era sensacional, ainda mais porque o ouro estava com o recordista mundial. Mas ele queria mais.

Agora eram apenas Thiago e o atual campeão da prova. Lavillenie passou 5.98m e desceu comemorando. O francês havia batido o recorde olímpico, que era dele mesmo, com a marca que venceu em Londres 2012 (5m97). Ele só não contava com a tranquilidade e a determinação de Thiago de voar ainda mais alto.

O brasileiro só tinha uma chance de quebrar todos os parâmetros de expectativa da noite: passar 6.03m, melhor do que o francês. Lavillenie errou a primeira, assim como Thiago. Na segunda, o europeu também errou. O Engenhão gritou: Eu acredito! E Thiago acreditou, entrando para a história. Recorde olímpico, o primeiro de um brasileiro após a façanha de Joaquim Cruz em 1984, nos 800m.

“Quando o Lavillenie passou 5.98m, eu escutei de Deus que eu passaria 6.03m. Falei com o meu treinador, a gente colocou o número do poste certinho. A gente pegou uma vara mais forte, que eu já tinha usado umas duas vezes. Na primeira tentativa, eu fui para testar. Na segunda, eu fui para completar, e deu certo”, explicou Thiago.

Mas ainda não era o fim. Lavillenie tinha sua última chance de tirar o ouro de Thiago. Era necessário ultrapassar 6.08m de primeira.  Quando se preparava para o salto, foi vaiado pelo público.

“Eu compreendo que os brasileiros torçam para o Thiago, mas o que não está certo é a falta de respeito em relação aos adversários. Isso não é fair play, não combina com Jogos Olímpicos. Em todos os campeonatos em que estive, mesmo quando tinha o atleta local, o público jamais vaiou. Você se prepara muito para os Jogos Olímpicos, por muitos anos e, ao final, o público estraga as  esperanças de muitos saltadores”, criticou Lavillenie.

Não seria inédito para o francês os 6.08m, porque ele sabe o que é passar 6.16m. Mas não era a noite dele. Era a noite de um menino de 22 anos que foi abandonado pela mãe, criado pelos avós, que deixou o país há um ano e meio para treinar na Itália com o ucraniano Vitaly Petrov, mentor de duas lendas do esporte (o ucraniano Sergey Bubka e a russa Yelena Isinbayeva), um menino que é religioso, que é humilde.Era uma noite de sonhos.

“Eu queria achar aquela pessoa (um jornalista, em entrevista após a classificatória) que falou que foi um milagre na qualificação. Fala pra ele que foi um milagre hoje também: 6.03m é uma marca que eu já esperava há muito tempo, há três competições a gente estava tentando bater os seis metros, e hoje, numa Olimpíada, é muito mais forte, algo muito mais surpreendente do que eu esperava pra mim”, resumiu.

(Foto: Reprodução Internet)
(Foto: Reprodução Internet)

Fonte: Ministério do Esporte


 

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