O TEMPO na visão do poeta

O Valioso Tempo dos Maduros !

Mário de Andrade – colaboração de Luiz Toniato.

Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para a frente do que já vivi até agora.

Tenho muito mais passado do que futuro.

Sinto-me como aquele menino que recebeu uma bacia de cerejas.

As primeiras, ele chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço.

Já não tenho tempo para lidar com mediocridades.

Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflamados.

Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram,cobiçando seus lugares, talentos e sorte.

Já não tenho tempo para conversas intermináveis, para discutir assuntos inúteis sobre vidas alheias que nem fazem parte da minha.

Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar da idade cronológica, são imaturos.

Detesto fazer acareação de desafectos que brigaram pelo majestoso cargo de secretário-geral do coral.

‘As pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos’.

Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência, minha alma tem pressa…

Sem muitas cerejas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleita antes da hora, não foge de sua mortalidade,

Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade,

O essencial faz a vida valer a pena.

E para mim, basta o essencial!

Mário de Andrade – OBRAS PUBLICADAS:

1917 – Poesia – Há uma Gota de Sangue em Cada Poema

1922 – Poesia – Paulicéia Desvairada

1926 – Poesia – Losango Cáqui

1926 – Contos – Primeiro Andar

1927 – Poesia – Clã do Jabuti

1927 – Romance – Amar, Verbo Intransitivo

1928 – Romance – Macunaíma

1930 – Poesia – Remate de Males

1934 – Contos – Belazarte

1941 – Poesia – Poesia

1946 – Poesia – Lira Paulistana

1946 – Poesia – O carro da Miséria

1946 – Contos – Contos Novos

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