UNIVERSIDADE X EMPRESA – Parceria e produtividade

Colaboração para o Gestão e Resultados de William Schulz – UFES.

No cenário brasileiro atual, sabe-se que é preocupante a baixa taxa de inovação tecnológica no país, onde pesquisas apontam gargalos que impedem o setor industrial de avançar no competitivo mercado internacional. Em recente Pesquisa (3º trimestre de 2012) da ABDI (Associação Brasileira de Desenvolvimento Industrial), constatou-se que apenas 13% das indústrias entrevistadas desenvolveram algum produto novo para o mercado nacional, e apenas 8% desenvolveram algum processo novo para o mercado nacional.

Por outro lado, observa-se em alguns estados brasileiros, iniciativas empreendedoras no sentido de agregar forças e obter resultado satisfatórios desenvolvimento de novos produtos e processos. Um exemplo é o Parque Tecnológico da PUCRS (TecnoPuc), inaugurado em 2003, e até fevereiro de 2012, abrigava 97 organizações, sendo 77 empresas, 8 entidades e 12 estruturas de pesquisa da PUCRS, somando 5,5 mil postos de trabalho.

Porém, iniciativas como o TecnoPuc são exceções e não refletem a grande realidade nacional, que é a falta de diálogo entre as Universidades e o setor industrial. Segundo dados do IBGE, através do Pintec (Pesquisa de Inovação Tecnológica) 2008, apenas 3% das empresas inovadoras mantêm uma relação de parceria com Universidades ou Institutos de Pesquisa. E 27% das empresas entendem que o principal obstáculo com o setor acadêmico é a falta de informação sobre os serviços prestados pelas Universidades. Para entender de uma forma resumida o papel da Universidade, veja a figura abaixo:

Nesse sentido, o Estado do Espírito Santo também sofre com essa falta de diálogo, que acarreta consequência graves no longo prazo, como a perda de competividade industrial e o desestímulo ao surgimento de empreendimentos que possam gerar postos de trabalho qualificados.

Para combater essa falta de diálogo, o presente artigo sugere um modelo de parceria entre a UFES e as empresas estaduais, com o objetivo de aproximar os 2 lados e criar um relacionamento saudável e duradouro entre a pesquisa científica e a produção industrial em escala. Para aproximar os 2 lados, é interessante estabelecer uma parceria com a Federação da Indústrias do ES (Findes) , justamente por ela representar o setor industrial e empresarial estadual como um todo.

É importante destacar que, enquanto o empresário sofre com a falta de informação sobre o acesso à pesquisa na Universidade, por outro lado, a Universidade sofre com a falta de estímulo por parte do governo federal, visto que os órgao de fomento à pesquisa (CNPQ, por exemplo) premiam aos pesquisadores que mais publicam, mas não valorizam a nível de careira aqueles que geram inovação para o mercado. Para contornar este problema, é fundamental que instituições como a Federação das Indústrias, o Sebrae, as Universidades, dentre outros interessados, elaborem uma proposta a nível nacional, para ser discutida junto ao governo federal, de forma que a carreira do pesquisador acadêmico possa ser valorizada por contribuições para a inovação tecnológica nacional, e não apenas publicações de trabalhos realizados.

Considerando os problemas já discutidos, segue abaixo uma proposta de modelo de cooperação entre a UFES e as empresas capixabas, via FINDES.

No primeiro momento, deve-se obter um mapeamento todos os atuais projetos de pesquisa desenvolvidos no Centro Tecnológico da UFES, e entender quais linhas de pesquisa a Universidade já possui e que sejam do interesse das indústrias capixabas.

Logo depois, deve-se mapear as necessidades atuais das empresas cadastradas no FINDES, para que se entenda quais são os gargalos tecnológicos que as empresas capixabas atravessam, e por isso não conseguem inovar.

Ao obter os 2 mapeamentos acima citados, deve-se cruzar os dados, e observar se já existem projetos desenvolvidos no Centro Tecnológico que possam atender demandas já existentes nas empresas capixabas.

Paralelo aos mapeamentos e cruzamento de dados citados, é interessante que a FINDES possa fazer uma parceria com a Universidade e as empresas interessadas, no sentido de capacitar tanto professores, como alunos e funcionários de empresas, para fornecer um curso para elaboração de projetos, de maneira que existam profissionais qualificados para especificarem planos de projeto e de negócios, visto que é uma demanda importante para estabelecer uma efetiva comunicação entre as partes interessadas. Muito editais governamentais para fomento à inovação são perdidos por empresas, por nao saberem apresentar um projeto de forma coerente consistente. A Universidade, de uma forma geral, apresenta dificuldades nesse sentido, por não haver muitos incentivos dentro da mesma, para capacitação em elaboração de projetos.

Após o cruzamento de dados linhas de pesquisa x demandas, o próximo passo é elaborar visitas técnicas da UFES às empresas, com o objetivos de conhecer um setor de produção específico da empresa e tomar conhecimento de alguma demanda que a UFES possa colaborar com algum tipo de pesquisa. Estas visitas técnicas seriam priorizadas para as empresas que tivesse alguma demanda compatível com alguma linha de pesquisa em andamento no Centro Tecnológico. Neste passo, começa a se quebrar de forma efetiva o problema da “timidez” e falta de informação entre empresas e meio acadêmico. Depois de um certo tempo, com algumas parcerias estabelecidas, as empresas passariam a procurar a UFES com frequência. Neste sentido, para que isto ocorra, acreditamos que a UFES deve dar esse primeiro passo, para romper essa barreira aqui no ES. As visitas tecnicas devem ser feitas no sentido de se apresentar a empresa e oferecer a pesquisa como uma forma de ajudá-los a vencer a barreira da dificuldade de conseguir inovar.

Realizada a visita técnica, espera-se que se concretize uma parceria de fato, seja em forma de bolsa, de projeto de pesquisa, de contrato, enfim, um compromisso entre a Universidade e a Empresa, e realizar a pesquisa acordada. Os alunos podem ser encorajados a participar desse processo através de iniciacao cientifica ou projetos de graduacao, dissertacao de mestrado, tese de doutorado, etc.

Por último, é necessário acompanhar todos os passos acima, controlando e aprendendo com os erros, e permitir que esse modelo apresentado possa ser contínuo e cada vez mais eficaz. Afinal, a inovação tecnológica é um processo contínuo, sujeito a acertos e erros, e o dialógo é o primeiro passo que esse processo também seja contínuo aqui no ES.

Veja abaixo uma figura que descreve este modelo:

William Schulz é Engenheiro de Computação e Professor no Departamento de Engenharia de Produção da UFES, na disciplina Gestão da Inovação Tecnológica.

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