Hotel Canto do Sol: temos muito a refletir, para além de uma demolição

Greg Repsold analisa história do Hotel Canto do Sol. Fotos: Thiago Soares/Folha Vitória e Acervo pessoal

Inaugurado em 1983, o Hotel Canto do Sol, localizado em Jardim Camburi, é um empreendimento que marcou a vista do litoral da capital do Espírito Santo. Contando com uma área de 11 mil metros quadrados de frente para o mar, a construção está prevista para ser demolida e logo dará espaço a um empreendimento residencial de grande porte.

Projetado pelo arquiteto Paulo Cazé, juntamente com o sócio Luiz Acioli, o hotel foi uma referência, não só em hotelaria no Estado, mas também como construção arquitetônica a nível nacional. Quando foi inaugurado na década de oitenta, o hotel, na época, chamava-se Porto do Sol.

Ele teve as atividades encerradas em 2015. A princípio, ele passaria por modificações estruturais, mas com a crise financeira, as reformas não ocorreram. Ainda, era um dos hotéis mais importantes de Vitória, principalmente pela localização, perto da praia e do Aeroporto de Vitória.

Considerando exclusivamente a questão arquitetônica, com a demolição da construção, a cidade de Vitória perde um ícone projetado por um dos escritórios mais renomados do Brasil.

O Hotel não atuou somente como uma construção de destaque na paisagem urbana, mas também como personagem relevante do cenário social capixaba, uma vez que o local foi palco de vários acontecimentos importantes na cidade.

Com a construção prevista no local, moradores da região ficam incertos quanto aos benefícios de tal.

Apesar da clara necessidade de renovação na região, ocasionada pelo abandono de longa data do imóvel, existe uma preocupação com relação ao aumento do número de moradores e a vazão no fluxo destes nas vias existentes.

A situação é um pouco mais confortável porque o empreendimento é de frente para a Dante Michelini, mas a questão do fluxo e trânsito de pessoas precisa ser estudado com atenção.

Por outro lado, é importante destacar que essa nova construção proporciona a valorização do bairro e dos imóveis da região. É uma renovação do espaço que estava abandonado, dando assim uma nova função social para o terreno.

Um empreendimento de uso misto, com uma fachada ativa conectada ao tecido urbano, pode evitar que as ruas do entorno se tornem inóspitas aos pedestres.

Vale ressaltar que, com a construção, será feita também a renovação das calçadas limítrofes, que há muito tempo estão completamente deterioradas.

Há de se salutar que um empreendimento desse porte por certo terá um estudo de impacto da vizinhança. Os moradores de Jardim Camburi devem participar ativamente das audiências públicas para apontarem quais são as contrapartidas relevantes para o bairro.

É muito importante o envolvimento popular no debate urbanístico para evitar o efeito da gentrificação na região. Se a população local e a incorporadora unirem forças, a cidade como um todo sai ganhando.

Greg Repsold

Arquiteto, urbanista e Conselheiro do Instituto Brasileiro de
Arquitetura

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