Arquitetura comunitária: Francis Kéré vence o prêmio Pritzker 2022

O impacto nas comunidades e as transformações sociais promovidas através da arquitetura destacam a necessidade de se pensar cada vez mais em projetos com responsabilidade socioambiental.

Promover o engajamento comunitário e a valorização dos bens locais contribui para o desenvolvimento regional e ainda permite explorar as estratégias com o melhor custo-benefício para atender as necessidades reais de quem irá usufruir dos espaços.

A arquitetura comunitária ainda promove uma maior socialização entre as pessoas e preza pela história local.

O arquiteto Diébédo Francis Kéré. Foto: Lars Borges

Foi essa consciência que rendeu ao arquiteto Diébédo Francis Kéré o prêmio Pritzker, principal honraria na área da arquitetura do mundo. O vencedor da edição de 2022 do “Oscar da arquitetura” nasceu na vila de Gando, no país africano Burkina Faso.

Reconhecido mundialmente por “empoderar e transformar comunidades através do processo da arquitetura”, o arquiteto prioriza o envolvimento da comunidade em seus projetos, bem como a mão-de-obra e os materiais dos lugares onde executa suas obras.

“Cresci em uma comunidade onde não existia jardim de infância, mas onde a comunidade era a sua família. Todos cuidavam de você e a vila inteira era seu playground. Meus dias eram preenchidos por garantir comida e água, mas também por simplesmente estar junto, conversar e construir casas junto”, compartilha Kéré.

Com projetos de destaque também em países fora da África, como Alemanha, Dinamarca, Suíça, Itália, Reino Unido e Estados Unidos, foi em sua cidade natal que iniciou sua carreira.

“Eu lembro do cômodo onde minha avó se sentava e nos contava históricas com pouca luz, enquanto nos amontoávamos e a voz dela ecoava no ambiente nos cercando e nos convocando a nos aproximar ainda mais, formando um lugar seguro. Essa foi a minha primeira percepção da arquitetura”, recorda o arquiteto.

CONHEÇA ALGUNS PROJETOS Do arquiteto

Pavilhão Serpentine de 2017, em Londres, Inglaterra

O projeto foi inspirado em uma árvore de Burkina Faso, terra natal do arquiteto. Era embaixo dessa árvore, sob sua sombra, que as pessoas se reuniam para realizar atividades cotidianas.

Na época, uma grande estrutura de madeira se expandia sobre uma estrutura de aço, reproduzindo a copa das árvores.

Serpentine Pavilion 2017. Foto: Iwan Baan
Parlamento de Benin, na República Popular do Benin

Nessa obra, que ainda está em construção, o arquiteto faz uma releitura do formado das raízes de árvores ancestrais para planejar a estrutura do edifício do Parlamento de Benin.

O objetivo é fazer com que prédio fosse visto como a maior dentre as árvores da região. Além disso, a fachada vazada favorece a ventilação natural, aspecto importante considerando o clima local.

Parlamento de Benin. Render: Kéré Architecture.
Escola Primária, em Gando, Burkina Faso

Assim que começou a desenvolver seus conhecimentos, Kéré buscou retribuir à comunidade onde nasceu e cresceu.

“Boa arquitetura em Burkina Faso é uma sala de aula onde você pode se sentar, ter luz filtrada, entrando da maneira que você deseja, sobre o quadro ou uma mesa. Como podemos remover o calor do sol, mas usar a luz solar em nosso benefício? Criar condições climáticas para promover conforto básico permite o verdadeiro ensino, aprendizado e emoção”, relata o arquiteto.

Primary School. Foto: Erik-Jan Ouwerkerk.
Sarbalé Ke, na Califórnia, Estados Unidos

O Sarbalé Ke, que significa “Casa de Celebração” no idioma Bissa de Burkina Faso, foi uma instalação para o festival de música e artes Coachella de 2019.

O projeto foi inspirado na árvore Baobá. A medida que a árvore cresce, o suas cavidades internas e claraboias se desenvolvem ao longo do tronco central. Na África Ocidental, essa árvore é profundamente valorizada como um marco da comunidade e reverenciado por seus usos medicinais e nutricionais.

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