Casagrande x Manato: o balanço dos apoios no 2º turno

A primeira semana após a votação do primeiro turno foi marcada pela corrida dos dois candidatos ao governo do Espírito Santo em busca de apoios. Renato Casagrande (PSB), que disputa a reeleição, e Carlos Manato (PL) passaram a semana anunciando os novos aliados. Algumas alianças já eram esperadas. Outras, porém, surpreenderam.

A campanha no 1º turno já revelava qual seria a postura dos demais candidatos ao governo. Os debates sinalizaram que havia um alinhamento entre os opositores de Casagrande, o que fez o governador até “acusar” um complô – negado pelos candidatos. Após o resultado do último domingo (02), porém, houve um ajuntamento em torno de Manato.

Apoios a Manato

Guerino Zanon (PSD) foi o primeiro a declarar apoio a Manato. Um apoio que já era esperado. Durante a campanha, ao participar de um evento com lideranças religiosas, Guerino e Manato selaram uma aliança em que um teria o apoio do outro, em caso de um deles chegar ao segundo turno. O acordo foi cumprido.

Os apoios de Aridelmo (Novo) e Cláudio Paiva (PRTB) a Manato vieram logo em seguida. Na quinta-feira foi a vez de Audifax Barcelos anunciar sua saída da Rede e apoiar Manato também. Embora justificasse que a decisão foi tomada para manter a coerência de sua campanha, Audifax acabou se colocando em rota de colisão com sua própria trajetória política – traçada sempre em partidos de esquerda.

Chamou a atenção também que na campanha houve um ruído entre Audifax e Manato. O candidato do PL entrou na Justiça para impugnar a candidatura da vice na chapa do ex-redista, Tenente Andresa (SD). Em algumas sabatinas e debates, Audifax chegou a falar em “mudança com responsabilidade” para o governo do Estado, e embora não tivesse citado nomes, a fala era entendida como uma “indireta” a Manato. As diferenças, porém, não os impediram de selar a união.

O Republicanos não declarou apoio a nenhum candidato ao governo no primeiro turno, embora muitas lideranças do partido tenham caminhado com Guerino. O presidente da Assembleia, Erick Musso, que disputou o Senado e terminou em terceiro lugar, foi um dos primeiros da legenda a declarar apoio a Manato.

Erick também teve um estranhamento na pré-campanha com o candidato do PL. Na época, Erick era pré-candidato ao governo e muitos burburinhos davam conta que o Republicanos e o PL poderiam se juntar para retirar a candidatura ao governo do PL em apoio a Erick, o que gerou desgaste para Manato.

Logo depois veio o episódio da visita de Bolsonaro ao Estado em que Erick foi impedido de subir ao palanque onde estavam as autoridades. Manato posou ao lado do Presidente. Os dois casos arranharam um pouco a relação, mas, nada que impedisse os dois de estarem juntos, como acontece agora. Erick também deixou para depois da eleição do 1º turno para declarar apoio ao presidente Bolsonaro.

O deputado federal Amaro Neto veio logo em seguida e com o mesmo posicionamento: declarou voto em Bolsonaro e também apoio em Manato para o segundo turno. Da cúpula do Republicanos no Estado, Amaro era considerado o mais próximo do governador.

No PSD, o presidente da Câmara de Vitória, Davi Esmael – que foi candidato a deputado estadual, mas sem sucesso –, também declarou apoio a Manato e, no Patriota, o candidato ao governo conquistou o apoio do deputado Hércules Silveira. O deputado, que sempre foi aliado de Casagrande, está magoado com o governador.

Hércules deixou o MDB em busca de uma legenda competitiva para disputar. Tentou ir para o PSB, chegou a fazer uma filiação online no site do partido, mas foi barrado pelo presidente do PSB capixaba, Alberto Gavini. Hércules insistiu em entrar na legenda e cobrou uma intervenção do governador, o que não ocorreu. Quem lhe deu abrigo foi o Patriota e mesmo obtendo 23.534 votos, não conseguiu se eleger.

Manato e apoiadores

Mas, nada causou mais estranheza que o posicionamento do deputado federal Neucimar Fraga (PP). Aliado do governador, inclusive com cargos de confiança indicados na gestão, Neucimar no primeiro turno, assim como seu partido, esteve com Casagrande. O governador chegou a participar de eventos promovidos pelo deputado, como o lançamento de sua candidatura em 29 de agosto. Neucimar sempre deixou claro seu apoio a Bolsonaro, como a maior parte do PP. Mas declarar apoio a Manato no segundo turno foi uma guinada inesperada.

No último sábado, Manato reuniu seus apoiadores em um evento de campanha.

Apoios a Casagrande

O primeiro apoio público recebido pelo governador Casagrande após domingo passado está reverberando até hoje e pode ter sido decisivo para alianças com outros atores, até de fora do cenário político. O deputado federal Felipe Rigoni (União), que não foi reeleito à Câmara Federal, fez um vídeo, em apoio à reeleição do governador, mas criticando fortemente Manato, ligando-o ao retorno do crime organizado no Estado e desenterrando fatos de um passado recente capixaba.

O vídeo de Rigoni pautou o debate da semana e as primeiras propagandas eleitorais na TV. Aliás, foi Rigoni também quem pautou o debate no início da campanha quando, ainda pré-candidato ao governo do Estado, começou a citar que chegava ao final o ciclo político de PH-Casão à frente do Palácio Anchieta. Ele recuou da disputa ao governo, mas sua “tese” foi absorvida por outros candidatos. Ao declarar apoio a Casagrande, ele lembrou das críticas e também dos elogios que fez aos dois governantes, mas enfatizou que agora é necessário impedir o que chama de “retrocesso”.

Casagrande também anunciou ter recebido o apoio de 73 dos 78 prefeitos do Estado, que foram reunidos durante a semana. Uma contraposição ao discurso adversário que tem defendido que Bolsonaro e Manato deveriam ser eleitos para haver harmonia no país, já que os aliados de Bolsonaro são maioria no Congresso. A defesa desse discurso também poderia ser usada por Casagrande que teria com ele a maior parte dos prefeitos ao seu lado, já que a Assembleia está meio a meio.

No mesmo evento, a senadora Rose de Freitas – que até então não tinha se pronunciado sobre o segundo turno, fez uma fala de apoio a Casagrande. “A eleição do Senado acabou e agora somos todos Casagrande”, disse Rose no evento. Nos bastidores, havia um temor de que Rose não se envolveria na campanha de segundo turno devido à derrota que sofreu na tentativa de se reeleger.

Após a saída de Audifax da Rede, o partido declarou apoio à reeleição do governador. A decisão foi tomada pela Rede estadual e pela Nacional, uma vez que foi assinada uma resolução de que o partido não apoiaria, nos estados, candidatos ligados a Bolsonaro. A líder da Rede citou Marina e Eduardo Campos, para justificar o apoio ao PSB, além de também citar “retrocesso” no outro caminho.

Durante a semana, aliados que estão na coligação de Casagrande, mas que votam em Bolsonaro, dispararam em suas redes sociais a declaração de voto nos dois, o que causou estranhamento. Embora, na frente ampla da chapa do governo há aliados que apoiaram Lula, Ciro Gomes, Simone Tebet e Bolsonaro, a declaração pública com postagens e vídeos chamou a atenção e repercutiu.

Fora das lideranças políticas, Casagrande recebeu apoio dos petroleiros (Sindipetro) e assinou um compromisso público em defesa da Petrobras. Ele também recebeu o apoio da Liga Independente das Escolas de Samba do Grupo Especial e representantes de diversos sindicatos do Estado também se uniram ao governador, sob intermédio do senador Fabiano Contarato e de outras lideranças do PT.

Casagrande e prefeitos

O antropólogo e autor do livro “Elite da Tropa” – que inspirou o filme “Tropa de Elite –, Luiz Eduardo Soares, também gravou um vídeo de apoio a Casagrande. Estudioso da segurança pública, ele citou a Scuderie Le Cocq e o passado do Espírito Santo.

O mesmo tema foi a justificativa do presidente da OAB capixaba, José Carlos Rizk Filho, ao declarar apoio a Casagrande em suas redes sociais. Sem citar nomes, ele também justificou seu posicionamento falando da luta da Ordem contra o crime organizado e afirmou que Casagrande “é a única resposta possível à tentativa de volta a um passado que todos queremos deixar definitivamente para trás”.

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