Marcelo Santos se movimenta e blocão de Vandinho já tem rachaduras

Crédito: Assembleia Legislativa

Diz o dicionário Michaelis que a expressão “bloco” significa: 1) porção volumosa e coesa de uma substância pesada ou matéria sólida; 2) conjunto das partes que constituem um todo coerente. Há outras definições para o mesmo substantivo, mas a maioria traz esse sentido de coesão e solidez.

Porém, no contexto político, o sentido pode ser outro e o blocão criado para definir os postos da nova Mesa Diretora da Assembleia Legislativa, assim como o comando das comissões temáticas, já não está tão firme assim. Pelo contrário, já vem apresentando sinais de rachaduras que podem colocar em risco toda a construção desenhada até agora pelo deputado estadual Vandinho Leite (PSDB).

No início…

Vandinho encabeça o blocão que, na semana passada, alcançou 24 nomes – dos 30 deputados eleitos e reeleitos – de adesão. O bloco entra no lugar das bancadas partidárias e define, caso tenha a maioria, quem vai ocupar os postos da disputa. O combinado era que não haveria nomes alçados aos cargos por agora, mas que seriam definidos num segundo momento, após a construção do bloco.

A coluna noticiou no dia 8 (o mesmo domingo dos ataques golpistas em Brasília) que Vandinho e Tyago Hoffmann (PSB) estariam com um passinho à frente dos outros três cotados – Dary Pagung (PSB), João Coser (PT), Marcelo Santos (Podemos) – na disputa pela cadeira de presidente. Os dois constam entre os 24 que assinalam o bloco.

Só os deputados Sergio Meneguelli (Republicanos), Camila Valadão (Psol), Alexandre Xambinho (PSC), Marcelo Santos (Podemos), Zé Esmeraldo (PDT) e Janete de Sá (PSB) não teriam assinado o bloco. Meneguelli e Camila por terem postura mais independente, mas os demais por serem próximos a Marcelo Santos, também cotado para a disputa à presidência.

O bloco parecia bem encaminhado e a sinalização era de Vandinho estaria se viabilizando para ser presidente. O que seria absolutamente normal, tendo em vista que ele conseguiu juntar 4/5 da nova formação da Assembleia, porém isso fugiria do combinado com outros componentes do bloco. Foi então que uma outra movimentação começou a surgir do final da semana passada pra cá.

Marcelo está vivo no jogo

Chamou a atenção na construção do blocão, que Vandinho conseguiu reunir a assinatura de deputados das mais variadas vertentes e ideologias, incluindo todos que hoje são oposição ou são de partidos que fazem oposição ao governo. Em contrapartida, entre os seis que ficaram de fora do bloco, cinco apoiaram a reeleição de Casagrande – Meneguelli foi o único que não se manifestou na campanha.

Esse “detalhe” – da oposição estar unida com Vandinho enquanto deputados da base aliada estavam de fora do bloco – foi percebido e passou a ser explorado pelo grupo de Marcelo, que começou a levantar suspeitas sobre as intenções de Vandinho.

Na sequência, começaram burburinhos sobre o passado de Vandinho com relação ao governo – na primeira metade do governo Casagrande (2019-2020), o deputado teve uma postura de opositor ao governo, mudando de lado após a eleição municipal.

E também começou, nos bastidores, reclamações de Vandinho estaria se viabilizando para ser presidente sem diálogo com outros atores, inclusive nas tratativas da montagem da chapa e das comissões. Alguns teriam ficado frustrados ao perceberem que não seriam contemplados nos espaços que pleiteavam.

A suspeita de que opositores poderiam ter cargo na Mesa Diretora no lugar dos aliados, a construção de uma chapa supostamente sem diálogo e a insatisfação dos não contemplados colocaram Marcelo, que é vice-presidente da Ales, em evidência e teriam feito com que os novatos Denninho Silva (União) e Pablo Muribeca (Patriota), que até então constam na lista de Vandinho, passassem a se reunir com o grupo de Marcelo.

Eles devem pedir a retirada da assinatura no blocão de Vandinho. Com relação a Muribeca, também pesa a disputa municipal da Serra, já que ele e Vandinho disputam o mesmo reduto. Mas, além dos dois, outros nomes estariam balançados a também trocarem de lado, pelos mais diversos motivos.

Jogo pode virar?

Vandinho ainda tem o apoio da maior parte dos deputados. Mas, os próximos dias serão decisivos para os dois grupos. Se Vandinho conseguir manter seu bloco na casa dos 20 deputados, os demais devem aderir. Mas se Marcelo conseguir esvaziar o “ninho” do tucano, a Assembleia poderá ser palco de uma reviravolta que há muito tempo não se vê.

É possível que os deputados apresentem dois blocos no próximo dia 1º para a disputa da Mesa Diretora? O blocão de Vandinho pode ser tragado pelas movimentações de Marcelo? Ou as articulações de Marcelo não passarão de um balão de ensaio?

Não há consenso sobre o que diz o regimento em casos assim. O grupo de Vandinho defende que uma vez assinada a lista do bloco, não se pode mais sair. Usam como base o parágrafo 8º do artigo 14 do regimento interno que diz: “O partido integrante de bloco parlamentar dissolvido, ou que dele se desvincular, não poderá constituir ou integrar outro na mesma sessão legislativa”.

E também o parágrafo 6º do mesmo artigo, que cita: “O partido integrante de um bloco parlamentar não poderá fazer parte de outro concomitantemente”. Vandinho já teria informado ao presidente da sessão da eleição da Mesa Diretora – que será Theodorico Ferraço (União), por ser o mais velho entre os pares – da existência do bloco, que será protocolado no dia da eleição.

Mas, para o grupo que apoia Marcelo, isso não quer dizer nada. Os deputados acreditam que não há dispositivo no regimento que os obrigue a ficar num bloco se eles não quiserem. Se for construído um segundo bloco e os mesmos deputados assinarem nos dois e eles forem protocolados, como fica? O que vale? Eles terão de decidir na hora em que grupo ficarão?

E a benção do Anchieta?

Mas há um trunfo que pode definir o jogo antes mesmo da eleição: o apoio do Palácio Anchieta – leia-se, do governador. Casagrande já deu algumas dicas de quem deve apoiar: disse que precisa de tranquilidade na Assembleia para poder governar, que o presidente do Legislativo precisa ser da sua confiança e ter autoridade para comandar o Legislativo que promete ter uma oposição mais estridente.

Ele também disse, porém, não querer apontar nomes, por ser um assunto da Assembleia, e que prefere ouvir os deputados e ver quem se viabiliza.

O governador iria começar a ouvir os deputados na semana passada, mas por conta dos ataques em Brasília e dos desdobramentos nos estados, adiou para essa semana. Alguns que já foram ouvidos, disseram que o governador não apontou nomes, apenas ouviu o que os parlamentares tinham para dizer.

Dos cinco nomes que no início apareceram como cotados, todos são da base do governo (alguns mais outros menos) e Casagrande já disse à coluna não ter restrição a nenhum. Mas as últimas movimentações podem influenciar o cetro do palácio nesses 15 dias que faltam para a eleição. A conferir.

Em tempo: Um restaurante localizado no Shopping Vitória – que fica em frente à Assembleia – tem sido usado como “bunker” do grupo de Vandinho para as articulações para a Mesa Diretora. Já o grupo de Marcelo tem sido visto constantemente na vice-presidência da Ales.

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