Disputa na Ales: Quem apoia quem e as estratégias dos dois grupos formados

Deputados em plenário / crédito: Lucas S. Costa-Ales

A disputa pelo comando na Assembleia, que andava bastante morna nos últimos dias e parecia bem encaminhada, começou a esquentar e movimentar os bastidores. O cenário, hoje, é de indefinição, principalmente depois que o bloco coordenado pelo deputado Vandinho Leite (PSDB) perdeu algumas adesões para a formação de um segundo grupo, encabeçado pelo deputado Marcelo Santos (Podemos).

Conforme noticiou a coluna ontem, o blocão de Vandinho começou a rachar após Marcelo se movimentar nos bastidores. Os dois, agora, encabeçam dois grupos de parlamentares e estão levando os apoios que conseguiram para o crivo do governo. Vandinho e Marcelo querem a presidência da Ales. E não só eles. Os eleitos Dary Pagung (PSB), Tyago Hoffmann (PSB) e João Coser (PT) também colocaram o nome pra jogo.

Vandinho recolheu assinaturas para a criação de um bloco parlamentar e, com exceção de Marcelo, os demais cotados para a presidência deram apoio ao bloco, que chegou a contar com 24 assinaturas. O combinado era que o grupo não teria, a princípio, um nome definido para presidente. Quem, entre eles, tivesse maior adesão, encabeçaria a chapa.

Vandinho e Tyago chegaram a ficar com um passinho à frente dos demais na preferência dos deputados que formavam o bloco, mas da semana passada para cá o clima mudou. Tyago estaria se afastando supostamente por perceber que não haveria espaço para que ele se viabilizasse no bloco, comandado por Vandinho.

A estratégia de Marcelo

Tyago então estaria se aproximando do grupo de Marcelo, também numa tentativa de se viabilizar por lá. Ele levou, com ele, dois novatos, que assinaram o blocão de Vandinho, para dialogar com o novo grupo: Pablo Muribeca (Patriota) e Allan Ferreira (Podemos).

Marcelo Santos

Marcelo já tem o apoio de Xambinho (PSC), Janete de Sá (PSB), Zé Esmeraldo (PDT) e Denninho Silva (União) – este deu o nome no blocão, mas mudou de lado, principalmente pela proximidade de Marcelo com seu primo: o prefeito de Cariacica, Euclério Sampaio (União).

O grupo de Marcelo, então, contaria com oito nomes (incluindo Marcelo), que pode chegar a 10 se Dary Pagung (PSB) e Zé Preto (PL) também deixarem o blocão de Vandinho. Os dois estariam conversando com os dois grupos.

Embora seja do PL, Zé Preto teria uma boa relação com a base aliada. Já Dary, foi um dos últimos a entrar no blocão de Vandinho, mas sem muita convicção. Ele está balançado e tem ouvido os dois lados, além de se reunir com o governo, de quem é líder na Assembleia.

Informações de bastidores dão conta que Marcelo e seu grupo tiveram uma reunião ontem (17) com o chefe da Casa Civil, Davi Diniz. No encontro, eles teriam passado a mensagem de que formam um bloco governista, diferente do comandado por Vandinho, que abrigaria toda a oposição.

A principal estratégia de Marcelo é levantar a suspeita de que Vandinho, no comando da Ales, não garantiria governabilidade a Casagrande, tendo em vista os possíveis acordos que teria feito para ter o apoio da oposição na eleição da Mesa Diretora. O que ainda não está claro no grupo de Marcelo, porém, é sobre quem iria encabeçar a chapa: ele ou Tyago.

O contra-ataque de Vandinho

Vandinho soube da movimentação de Marcelo e logo tratou de se mexer. Além de já informar ao deputado Theodorico Ferraço (PP) sobre a existência do bloco – Theodorico é o deputado eleito mais velho e vai presidir a sessão da eleição da Mesa Diretora no próximo dia 1º –, numa tentativa de garantir a homologação do grupo, também saiu em busca dos deputados que se comprometeram com o grupo.

Vandinho Leite / crédito: Ellen Campanharo

Ele convocou os integrantes do bloco para uma reunião nesta quarta-feira (18) para solidificar o apoio à manutenção do grupo e ao seu nome para a disputa à presidência. Depois da reunião, o grupo também deve ir ao encontro de Davi Diniz.

Nas contas dos aliados de Vandinho, o bloco contaria com 18 nomes garantidos (contando com Vandinho), podendo chegar a 20, caso Dary e Zé Preto permaneçam. Em sua defesa, vai alegar que a oposição só permanece no bloco se ele for o candidato a presidente.

Para o governo, é importante a construção de um bloco parlamentar e que ele tenha a maioria absoluta dos novos deputados. Isso porque a maior bancada da nova legislatura é do PL, partido de oposição, que elegeu cinco parlamentares.

Se as alternativas de bloco fracassarem, a divisão dos cargos na Mesa e no comando das comissões será proporcionalmente às bancadas eleitas. Ou seja, o governo corre o risco de ter, por exemplo, um opositor no comando da Comissão de Justiça, uma das mais importantes da Casa, com poder de barrar os projetos encaminhados pelo governo. Ou ainda de ter um adversário no comando da Comissão de Finanças, podendo causar dificuldades, por exemplo, na votação da peça orçamentária do governo.

Vandinho também deve levar para o governo seus números, com a defesa de que teria maior adesão entre os deputados – já que há uma tradição do governador em respeitar a vontade da maioria dos parlamentares. Aliados de Vandinho também apostam que por ele comandar o PSDB no Estado, o governo não deve querer comprar uma briga para barrar a candidatura do presidente do partido do seu vice-governador, Ricardo Ferraço.

Enquanto isso…

Dois novatos ainda não se posicionaram sobre a eleição da Mesa Diretora por conta do perfil mais independente que ostentam. A deputada estadual eleita Camila Valadão (Psol) disse à coluna que ainda discute dentro do partido qual posição irá tomar. Ela não assinou a lista do blocão de Vandinho e também não tem se reunido com Marcelo Santos.

O deputado estadual eleito Serginho Meneguelli (Republicanos) também é outra incógnita. Ele também não entrou no blocão, não declarou publicamente apoio a ninguém e não tem participado das movimentações sobre a disputa. Ele, aliás, está internado, com diverticulite, e deve passar por uma cirurgia hoje.

Mas, tudo pode mudar…

Muitos deputados ouvidos pela coluna, tanto do blocão como do grupo de Marcelo, aguardam, porém, uma sinalização do Palácio Anchieta e não teriam problema algum em mudar de grupo caso o governo indique um candidato preferido.

Com exceção daqueles que têm problemas pessoais envolvidos – como os deputados do PL que não apoiam candidato do PT de jeito nenhum, Xambinho que não adota Vandinho nem pintado de ouro, e Theodorico que prefere ir para a oposição do que apoiar Marcelo – os demais devem seguir a orientação do Palácio Anchieta (se houver) e apostar naquele que acreditam que vai levar, afinal, há muitas outras coisas em jogo, como por exemplo, os mais de 300 cargos da Mesa Diretora – conforme a coluna noticiou no mês passado – a serem divididos entre os apoiadores do futuro presidente eleito.

 

LEIA TAMBÉM:

Marcelo Santos se movimenta e blocão de Vandinho já tem rachaduras

De cargos à eleição de 2024: o que está em jogo na disputa pelo comando da Assembleia