Impasse no MDB: Chapa de Rose convoca eleição da executiva, mas Lelo diz que não reconhece

Quem viu a cena da ex-senadora Rose de Freitas levantando a mão de Lelo Coimbra, com os dois falando em entendimento, após a convenção do MDB terminar em empate para as duas chapas na semana passada, até acreditou que um acordo poderia ser selado para que o maior partido do Estado em número de filiados finalmente pudesse sair dos escombros rumo à corrida eleitoral de 2024.

Mas foi pura ilusão.

Embora Rose e Lelo tenham dito que esperariam o prazo de cinco dias para que a Executiva Nacional do partido se manifestasse, um documento datado do mesmo dia da convenção (21) começou a circular.

Assinado pelo aposentado José Maria Pimenta, na condição de membro mais idoso do diretório, o documento cancelava a convenção estadual ocorrida horas antes no Cerimonial Oásis, em Vitória.

Aos 76 anos – mais de 40 no MDB –, Pimenta é membro da chapa de Lelo Coimbra e fez uma lista de justificativas para embasar o cancelamento da convenção. Ele citou que:

  • A convenção não obedeceu qualquer rito e que foi um “tumulto generalizado”;
  • O local de votação era improvisado e vulnerável, não assegurando voto direto e secreto;
  • Não obedeceu a ordem de votar primeiro o delegado titular e depois o suplente, citando o caso de Colatina;
  • Constava o nome do delegado de Pedro Canário, sem que ele estivesse apto para votar (ele não votou);
  • Sete municípios estariam irregulares e não aptos para votar;
  • Não existe critério de idade para desempatar a votação do diretório e que nem é possível compor a Executiva de forma proporcional com o empate.
Pimenta pediu o cancelamento da convenção

Ele defendeu que não há previsão estatutária para os casos de desempate e que a convenção foi tomada por “vícios formais e vícios materiais” e, por isso, precisaria ser cancelada.

O documento foi enviado para Brasília, para ser submetido à Executiva Nacional do partido. Também foi pedido que uma nova convenção seja feita, mas com a fiscalização direta e sob a convocação do MDB Nacional.

Pois bem.

No dia seguinte (22), um outro documento, agora assinado pela emedebista Salém Ayub Fraga, também evocando a autoridade de militante mais idosa (89 anos) começou a circular.

No documento, Salém, que faz parte da chapa protocolada por Rose de Freitas, convocou todos os membros do diretório para a eleição da Comissão Executiva e da Comissão de Ética. A eleição está marcada para hoje (26), de 14h às 19h, na sede do partido, que fica na Enseada do Suá, em Vitória.

Dona Salém é mãe do ex-deputado Marcelino Fraga, que passou os últimos anos disputando com Lelo Coimbra o comando do partido. Marcelino não está mais no MDB, mas quer voltar à legenda e ajudou a montá-lo em Colatina, seu reduto eleitoral.

Já Salém, não estava presente no dia da convenção, mas seu nome constaria na chapa de Rose, como membro do diretório. Sendo a mais velha, caberia a ela a decisão sobre a convenção.

As ofensivas por parte das duas chapas foram suficientes para um final de semana de confusão, bate-cabeça e conflitos. E se havia um resquício de esperança para a composição de uma chapa na base do consenso e do apaziguamento, foi por água abaixo. Clima agora é de guerra!

Rose ergue a mão de Lelo após empate: clima não estava dos melhores

“Não reconheço”

O ex-deputado Lelo Coimbra disse que, tão logo soube da convocação para eleger a Executiva, seu advogado, Sirlei, entrou em contato com a ex-senadora, que teria negado envolvimento com o assunto.

“Ela disse para o meu advogado que não tinha nada a ver com isso. O advogado dela, o Rodrigo, também disse que não sabia. Então, nós não reconhecemos esse edital para eleição da Executiva, não reconhecemos o ato. Vamos esperar para ver se realmente tem ou não tem a ver com a Rose”, disse Lelo.

Ele contou à coluna que não irá comparecer à eleição da Executiva, uma vez que não reconhece como legítima a convocação. “É lamentável o uso que Marcelino está fazendo da mãe dele, uma senhora de 89 anos, nesse episódio”, disse Lelo.

O ex-deputado disse que está aguardando um posicionamento da direção nacional da legenda. Tanto ele quanto Rose já teriam conversado com o presidente nacional do MDB, Baleia Rossi, e que ele ainda não teria se manifestado. Não há confirmação, mas nos bastidores o burburinho era que Lelo estaria em Brasília.

“Eleição está de pé”

Marcelino Fraga

Já Marcelino disse que a eleição para a Comissão Executiva está de pé e que só não irá ocorrer se não tiver quórum. “Se tiver 36 membros do diretório, vai ter eleição”, afirmou, rebatendo fala de Lelo, que disse que não iria comparecer, com seu grupo.

Ele contou que sua mãe está em Colatina e que irá tentar levá-la para a eleição. E que o fato dela não estar presente na convenção, na última quinta-feira, não a desautoriza a fazer a convocação, seguindo o artigo 31 do Estatuto. “Ela não é delegada, não precisou ir para votar, mas ela foi votada por pertencer à chapa”, justificou Marcelino.

O ex-deputado também estava na expectativa de uma manifestação da direção nacional até o final do dia de ontem, o que não ocorreu, segundo ele. Mas defendeu como legítima a convocação para eleger a executiva.

Rose de Freitas foi procurada pela coluna em seu número de celular, mas não atendeu aos telefonemas e nem retornou aos contatos feitos via WhatsApp.

Decisão só quinta ou sexta-feira

A coluna entrou em contato com a assessoria do presidente nacional emedebista, Baleia Rossi, na semana passada e ontem. Na sexta-feira passada, não houve retorno sobre qual seria a posição do dirigente sobre o imbróglio do MDB regional.

Já ontem, por meio de nota, a assessoria informou que: “o tema será debatido entre o presidente e as principais lideranças do partido com vistas a se tomar uma decisão entre quinta ou sexta-feira”.

Até o final da noite de ontem, o grupo de Rose defendia a eleição hoje para formar a Executiva (comando) do partido e o grupo de Lelo dizia que a convocação não tem legitimidade e que a convenção da semana passada precisaria ser anulada.

Fato é que do jeito que as coisas estão caminhando no MDB capixaba, vai precisar mais que a articulação da cúpula nacional para se chegar a um entendimento, uma vez que esse impasse tem potencial para aprofundar, ainda mais, a crise pela qual o partido passa.

Em tempo: A coluna registrou, lá em cima, que “agora” o clima é de guerra entre Rose e Lelo, mas, a bem da verdade, sempre foi. A diferença é que antes da convenção, era velado.

 

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