Mar 2024
16
Ricardo Frizera
MUNDO BUSINESS

porRicardo Frizera

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Orlando Caliman | Estamos acostumados a observar o desenvolvimento econômico muito mais pelo lado dos resultados contabilizados como incrementos sucessivos do total de riquezas produzidas do que estes mesmos incrementos possam resultar em riquezas distribuídas. Daí a quase obsessão nos números do PIB e das principais atividades que o compõem, que são vistos mais pela ótica da oferta. Poucos atentam efetivamente para quais “bolsos” e para quais dimensões essas riquezas são destinadas. Poucos olham pela ótica da pobreza, que tem a ver com desempenho dos mercados.

Em Nota Técnica desta semana o IJSN – Mapa da Pobreza no Brasil e no Espírito Santo entre 2012 e 2022 -, traz um comparativo dos percentuais de pobres no Brasil e no Espírito Santo. Os números nos mostram avanços, mas fica aquela percepção de que estamos longe do que seria aceitável. No país, o percentual de pobres caiu de 36% para 33% no período. Já no Espírito Santo, de 30% para 26%. Na pobreza extrema, enquanto no Brasil é observada queda de 6,4% para 4%, no Espírito Santo sobe de 3,3% para 4,1%.

São números impactantes. Imaginemos o quanto representaria em termos de impactos em mercados e na economia como um todo a retirada da condição de pobreza de todo esse contingente. Afinal, teríamos, somente no Espírito Santo, e adicionalmente, algo em torno de um milhão de pessoas ativas impulsionando a demanda por bens e serviços, e ao mesmo tempo criando oportunidades de crescimento em investimentos produtivos, empregos e renda. Certamente teríamos uma economia e uma sociedade muito melhores.

Em verdade, se bem analisarmos a história da economia brasileira vamos identificar duas armadilhas que funcionam sem parar como fatores limitadores do processo de um crescimento que de fato gere desenvolvimento.

São elas: a armadilha da renda média e a armadilha da pobreza. A primeira nos dificulta ultrapassar a linha que nos separa do mundo desenvolvido. A segunda cria obstáculos estruturais na transformação do crescimento econômico em massa de consumo na mesma direção e intensidade. São armadilhas que se interconectam e das quais o Espírito Santo não tem ainda como escapar totalmente.

Uma evidência forte da existência dessas duas armadilhas pode ser levantada analisando, por exemplo, o crescimento real do PIB brasileiro e do Salário Mínimo real num período mais longo. Fiz esse exercício faz bastante tempo. Mas vale reproduzi-lo aqui, mesmo com a defasagem no tempo.

Enquanto o PIB ao poder de compra de hoje (PPP), portanto em termos reais, cresceu 1.144% entre 1944 e 2002 e o PIB per capita 360%, nesse mesmo período o Salário Mínimo real cresceu apenas 48%. Temos aí, portanto, um verdadeiro travamento inerente ao modelo de crescimento, que conta com barreiras estruturais à expansão da classe média e redução da pobreza.

Observando os dados da pobreza no Espírito Santo vale comemorar avanços, mesmo que contidos. Mas, vale buscar caminhos que acelerem esse processo, mesmo sabendo das limitações que nos impõem o fato de estarmos sob as influências das mesmas armadilhas do país.

Com menos pobres teremos mais mercados.

 

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As informações/opiniões aqui escritas são de cunho pessoal e não necessariamente refletem os posicionamentos do Folha Vitória

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