Reunião de emergência para apagar incêndio na base

Crédito: Ellen Campanharo/Ales

Deputados estaduais da base aliada cobraram do governador Renato Casagrande mudanças sobre a distribuição dos recursos, via fundo a fundo, aos municípios. Pelo menos cinco parlamentares usaram a tribuna da Assembleia – e outros tantos falaram pelos corredores – reclamando que secretários, que seriam candidatos nas eleições do ano que vem, estariam usando a distribuição de recursos como ferramenta política, direcionando mais para suas bases e tentando faturar politicamente em cima das entregas.

A revolta dos deputados tomou tamanha proporção que o líder do governo na Ales, deputado Dary Pagung (PSB), entrou em contato com o chefe da Casa Civil, Davi Diniz, e marcou uma reunião de emergência. “Liguei para o Davi, expliquei a situação e pedi a reunião. Ele ficou de marcar. É para acalmar a base”, disse Dary. Davi Diniz também teria telefonado para alguns deputados.

No microfone, não foram citados nomes. Mas a coluna apurou que o principal alvo da insatisfação dos deputados aliados é o secretário de Governo, Gilson Daniel (Podemos). Nos bastidores, deputados acusam Gilson de ter interferido na distribuição dos recursos do Funpaes – fundo que distribuiu R$ 231 milhões para a Educação – e que estaria se colocando como o responsável pelos repasses. Gilson é pré-candidato a deputado federal.

crédito: Ellen Campanharo

Os recados dos deputados para o governo começaram com Vandinho Leite (PSDB). Chegou à Assembleia o Projeto de Lei Complementar 28/2021, que altera alguns pontos da lei sobre o Fundo de Apoio aos Municípios. Vandinho disse que vai votar favorável, mas falou da necessidade de se estabelecer critérios para a distribuição de recursos, citando o Funpaes como exemplo. “Alguns municípios, que eu represento, tiveram valores menores. Quero entender que não foi por questão política. É difícil entender que um secretário decida todos os investimentos, isso deveria ser discutido conosco, com a sociedade”, disse Vandinho.

Na distribuição dos recursos do Funpaes – o evento ocorreu no último dia 14 – 75 municípios receberam recursos, sendo Rio Bananal o município que recebeu menos (R$ 436.600) e Serra o município que recebeu mais (R$ 10,7 milhões). No evento, o governo explicou que foram usados critérios técnicos para definir o recurso de cada um.

O deputado Marcelo Santos (Podemos) e Freitas (PSB) fizeram coro ao discurso de Vandinho e defenderam que os deputados sejam sócios também dos resultados positivos e das entregas. “O que não pode é a Ales ser parceira incondicional do governo e dois secretários imaginarem que são donos desses fundos, chamarem os prefeitos e saírem entregando como se fossem o governador. Eles são candidatos e estão usando a politica pública como ferramental eleitoral”, disse Freitas.

O deputado Renzo Vasconcelos (PP), que costuma ter fala mansa e tranquila, subiu o tom. “O que a gente construiu foi destruído por alguns secretários. Se o governador estiver mal assessorado, que troque. Vamos cobrar do governo algumas alterações para continuarmos sendo base”. Bruno Lamas (PSB) amenizou, mas também deu apoio aos colegas.

Aproveitando a deixa…

O presidente da Assembleia, Erick Musso (Republicanos), que a cada dia que passa dá dois passos na direção oposta a do governo, observou atentamente os discursos ressentidos dos deputados aliados, e aproveitou a oportunidade para também mandar seu recado ao governador.

Com a justificativa de que estaria “defendendo a Casa”, Erick disse que cabe ao governador determinar a forma de trabalho da equipe e que seria “inadmissível que ao apagar das luzes, secretários de Estado façam política eleitoral nas costas dos deputados”. E cobrou providências para que “essa pequena ebulição de fervura não se torne uma panela de pressão a estourar daqui um tempo”.

Ele também chegou a sugerir incluir no projeto do Fundo de Apoio aos Municípios – que deve ter pedido de urgência nessa quarta-feira (27) e ser votado na semana que vem – uma emenda para a criação de um comitê, formada pelo Executivo e pelo Legislativo, para debater sobre o repasse de recursos.

Davi, o bombeiro

A sessão ainda ocorria quando o chefe da Casa Civil entrou em ação. Ele teria ligado para alguns deputados para saber mais a respeito das reclamações, após ser informado da situação por Dary. “Nós vamos avaliar e apurar. Sempre respeitamos a base do governo, sempre agimos de forma transparente com os recursos públicos. Vamos acolher as observações dos deputados, a quem respeitamos, e analisar. Já falei com alguns deputados. Hoje (ontem) foi a primeira reclamação pública dos parlamentares sobre isso”.

Sobre a artilharia estar voltada para Gilson Daniel, Diniz disse que os recursos do Funpaes são da Educação e que, embora Gilson seja uma peça importante do governo, os repasses não passam pela caneta dele. Diniz não deu detalhes sobre a reunião pedida pelo líder do governo.

Ciúme?

Gilson Daniel é um dos nomes fortes da gestão Casagrande. Presidente do Podemos no Estado e à frente da Secretaria de Governo há quase oito meses, Gilson está sempre presente nas principais agendas e entregas do governo, discursando, saindo na foto, cumprimentando os eleitores. Vai fazer parte da campanha do ex-ministro e ex-juiz Sergio Moro e será candidato a uma cadeira na Câmara Federal.

Não é a primeira vez que Gilson vira alvo de deputados estaduais, principalmente dos que têm pretensão de disputar a Câmara Federal e/ou são da base aliada. Parlamentares criticam a visibilidade proporcionada pelo governo ao secretário a qual seria, na visão deles, desproporcional à que é dada aos deputados. Como quem é visto (nas entregas) é lembrado (nas urnas), a situação preocupa e tende a ficar ainda mais tensa com a proximidade do período eleitoral.

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Tô sabendo de nada…

O presidente estadual do PP, Marcus Vicente, disse não ter sido comunicado sobre a futura saída do deputado estadual Renzo Vasconcelos (PP) do partido para se filiar ao Pros. Conforme a coluna noticiou na segunda-feira (25), Renzo fechou com o Pros – presidido pelo seu chefe de gabinete, Kauê Oliveira – e vai disputar vaga de deputado federal.

“Estamos aguardando a comunicação dele, até o momento só estamos sabendo pela imprensa”, disse Vicente. Segundo ele, nos próximos dias, o partido fará uma reunião da Executiva para definir os critérios sobre novas filiações no PP, como por exemplo, se vão aceitar candidatos com mandato.

O presidente do Cidadania, deputado Fabrício Gandini, disse também não ter sido comunicado pelo ex-prefeito Juninho sobre sua desfiliação da legenda. “Tem anos que Juninho não participa do partido”. Juninho também vai para o Pros.

 

Mistério

Falando em Cidadania, o ex-prefeito de Vitória Luciano Rezende foi para Brasília ontem participar de reunião da Executiva nacional do partido. O Cidadania defende a aliança política com outras legendas por meio da federação para superar a cláusula de barreira. Questionado sobre seu futuro político e se vai disputar as eleições do ano que vem, Luciano disse que ainda não há nenhuma definição.

 

Façam suas apostas:

O presidente do PSD, Gilberto Kassab, disse ontem a um veículo de comunicação nacional que teria uma surpresa no partido do Estado. Quem será:

a) Paulo Hartung
b) Guerino Zanon
c) Os dois

 

Debandada?

Há outras lideranças políticas de peso pensando em deixar o MDB capixaba. A preocupação com a formação das chapas estadual e federal seria o principal motivo.

 

Amor e ódio

Alguns filiados do DEM adoraram saber que a legenda está se aproximando do governador Renato Casagrande. Já outros…

 

Cartilha contra a censura

A vereadora de Vitória Camila Valadão (Psol) lança nesta quarta-feira (27), numa live às 19h30, a cartilha “Guia de orientações básicas contra censuras nas escolas”. O material contém informações sobre como profissionais da educação podem proceder em situações de perseguição e censura. Participam da live o professor e ex-coordenador da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Daniel Cara, e a professora e coordenadora do Fórum de Educação de Vitória, Sumika Freitas.