Jan 2021
17
Ricardo Frizera
MUNDO BUSINESS

porRicardo Frizera

Jan 2021
17
Ricardo Frizera
MUNDO BUSINESS

porRicardo Frizera

Uma história que explica os riscos das transações imobiliárias

Recentemente o proprietário de um determinado imóvel entrou em contato para entender como funcionava meu trabalho. Após nossa reunião ficou decidido que o imóvel entraria na minha carteira em caráter exclusivo, pois ele não gostaria de receber ligações a todo momento tanto de clientes quanto de corretores diversos.

Na sequência, nos encontramos no imóvel para assinatura do contrato de prestação de serviço em caráter exclusivo e entrega das chaves, momento em que o proprietário retirou a placa que ele havia feito com seu próprio número.

Já na calçada em frente ao imóvel, ele comentou que um casal já havia visitado o imóvel e estava prestes a fazer proposta, sendo sugerido por ele que o dito casal entrasse em contato comigo. Dias depois, recebi contato do interessado via WhatsApp e tudo o que se seguiu foi muito estranho.

Logo de início estranhei o contato feito fora de horário comercial, mas tudo bem, as pessoas têm horários corridos e a tecnologia ajuda a encurtar distâncias de comunicação. Todavia, por se tratar de imóvel com alto valor agregado, sugeri contato telefônico e, para minha surpresa, o interessado disse que era muito difícil pois ele estava a todo vapor na empresa sem brechas para ligações.

Depois de algumas tentativas consegui contato telefônico e, novamente para minha surpresa, o interessado em questão disse que gostaria de ter 10% de desconto na compra do imóvel. Expliquei que essa porcentagem costuma ser trabalhada para pagamento à vista, e recebi como resposta que o banco pagaria tudo à vista para o proprietário – nessa parte foi preciso uma pausa para explicar que processo de financiamento pode levar até 120 dias para ser liberado na conta do proprietário.

Posto haver descoberto que o pagamento não seria à vista e envolveria um financiamento, a pergunta seguinte – bem óbvia e pertinente, inclusive – foi então qual seria o valor de entrada. Estranhamente e nada usual, o interessado disse que não me daria tal informação pois eu era somente um corretor e que tal informação dizia respeito apenas a ele e ao meu cliente vendedor. Bem estranho. A conversa terminou comigo solicitando a formalização da intenção de comprar o imóvel por e-mail. Pasmem, leitores: o que recebi foi um e-mail curto dizendo “Gostaria de comprar o apartamento com 10% de desconto”.

Minha resposta continha as seguintes informações: o valor exato em que se daria o fechamento para o tipo de pagamento pretendido pelo interessado, a necessidade de saber exatamente qual seria o valor pago a título de sinal de negócio, quanto seria financiado e por intermédio de qual banco seria feito o financiamento. Durante esse vai e vem de informações, ligações e muitas mensagens, o suposto interessado entrou em contato diversas vezes com o proprietário dizendo que eu estava dificultando as coisas e que seria melhor ele vender o imóvel após acabar o período de vigência de nossa exclusividade.

Curiosamente e para minha surpresa, decorridos quase 60 dias desde o último contato o suposto interessado ressurgiu, desta vez informando possuir uma carta de crédito aprovada e afirmando que esta seria a última chance de fazermos negócio. Perguntei, por óbvio, se era aprovação de financiamento, carta de consórcio contemplada ou crédito pessoal aprovado que são, inclusive, os únicos jeitos de interpretar uma carta de crédito.

O que se seguiu foi uma sequência de informações desconexas sobre valores de sinal de negócio, cronograma de pagamento, expectativa de imissão na posse imediatamente após pagamento do sinal, proposta de assinatura digital do contrato de compra e venda, impossibilidade de ligações telefônicas e muitas outras.

Em uma das conversas o referido interessado chegou a dizer que daria uma boa entrada a ser paga “para o banco” e que eu não deveria ser tão insistente em querer os dados dele e nem entender a transação, sendo que minutos depois perguntou qual seria a entrada mínima que poderia dar. Quando questionado sobre como assinaria o contrato, mencionou que eu poderia ir ao encontro de sua advogada, mas somente após chegarmos no valor de compra proposto por ele; mais uma vez, relembrei que o valor de fechamento havia sido informado desde o primeiro contato e reiterado diversas vezes em outros momentos.

Ao final de todo esse processo, com áudios de 3 a 5 minutos, muita ironia e informações totalmente inverídicas e desconexas, o suposto interessado novamente entrou em contato com o proprietário, desta vez dizendo que ele estava deixando de vender o imóvel numa excelente condição por minha culpa exclusiva.

Uma lição importante

E qual motivo de eu compartilhar hoje com vocês, leitores desta coluna, esse relato com riqueza de detalhes? Por um motivo bem importante: transação de compra ou venda de imóveis envolve altos valores e, por conseguinte, altas expectativas.

Em mais de uma década no mercado imobiliário nunca tive um caso sequer de distrato, devolução de sinal ou clientes buscando a justiça para reaver valores ou desfazer negócios. É um negócio sério demais e há uma gama de detalhes que não podem ser ocultados por nenhuma das partes em momento algum do processo. As informações sobre o imóvel, sobre o cadastro do vendedor, sobre o condomínio e sobre o comprador precisam ser de qualidade e verídicas. A base e o sucesso do meu negócio são as informações.

Não raro vemos muitos relatos de compradores que tiveram problemas, mas nesse caso específico o problema seria do vendedor, meu cliente. De nada adianta receber valor mínimo de sinal e assinar um contrato particular comprometendo-se a vender se o comprador não tiver real poder de compra, tanto para completar pagamentos que foram prometidos a prazo quanto para tomar financiamento em instituições bancárias. O cadastro do comprador deve sim ser escrutinado para que não frustre expectativas de quem vende e nem seja necessário o desfazimento do negócio com a consequente devolução do valor pago.

O interessante para você, vendedor, é que tenha uma assessoria profissional não só com uma carteira de corretor na mão, e sim um profissional de verdade, que saiba o que está fazendo, que detenha o controle da situação e uma visão 360 graus de todo processo. Quando o patrimônio construído com esforço ou fruto de herança está sob negociação, todo cuidado é pouco.

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