ARTIGO IBEF

Teoria dos jogos e sua aplicação no mundo dos negócios

Empresas podem ser tratadas como “jogadores” no mercado e, em um jogo competitivo, cada uma define estratégias para otimizar seus resultados

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Foto: Freepik
*Artigo escrito por Pedro Henrique Mariano, MBA em Controladoria e Finanças, consultor e executivo de Controladoria, Planejamento, Finanças, Orçamento, Resultado e Processos e Coordenador do Comitê Qualificado de Conteúdo de Economia do IBEF-ES.

A Teoria dos Jogos é uma área de estudo da matemática aplicada na modelagem de situações em que indivíduos interagem entre si e tomam decisões. Os denominados “jogadores” visam melhorar os seus resultados a cada decisão, sendo que tal objetivo tem potencial para apoiar diversos ramos da sociedade, incluindo na economia.

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Pode-se enxergar essa teoria como uma ciência em busca da melhor estratégia para determinada situação, tendo como pioneiros do século XX os estudiosos John von Neumann e Oscar Morgenstern que, em 1944, publicaram, em conjunto, a obra “A Teoria dos Jogos e comportamento econômico”.

“O objetivo deste livro é apresentar uma discussão de algumas questões fundamentais da teoria econômica que requerem um tratamento diferente daquele encontrado até então na literatura.”

Posteriormente, em 1950, o matemático John Nash construiu um modelo para definição de uma estratégia ótima em uma sequência de quatro artigos que lhe renderam, em 1994, o Prêmio Nobel em reconhecimento às suas contribuições para os estudos relacionados, incluindo o desenvolvimento do denominado “equilíbrio de Nash”. 

Nesse estudo, é proposta uma situação em que, em dado jogo com dois ou mais jogadores, nenhum deles têm ganhos alterando sua estratégia individualmente.

Para ilustrar a teoria, tem-se o exemplo conhecido como “o dilema do prisioneiro”. A situação se dá com dois ladrões presos e acusados de um mesmo crime, em que o delegado responsável faz uma mesma proposta aos envolvidos, porém de forma isolada. 

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Com a opção individual de confessar ou negar o crime, a situação visa entender como cada prisioneiro deve reagir, analisando se: 

1) Ambos cooperam entre si e ficam em silêncio, com o risco de piorar a própria pena, ou se 
2) Cada um age em benefício próprio, confessa o crime na tentativa de reduzir sua pena e trai a confiança do cúmplice.

No “mundo real”, os estudos podem se complementar com os conhecimentos relacionados à economia comportamental, considerando a busca por entender as decisões de indivíduos, assim como na utilização de tecnologias e ferramentas sofisticadas baseadas em inteligência artificial desenvolvidas no século XXI.

Mercado e o jogo da concorrência

Empresas podem ser tratadas como “jogadores” no mercado e, em um jogo competitivo, cada uma define estratégias para otimizar seus resultados, enquanto gera reações na concorrência e, em paralelo, reage às decisões que seus adversários colocam em prática. 

Uma boa visão de jogo ainda permite antecipar os movimentos rivais, de forma a permitir uma postura ativa para que as melhores contramedidas sejam adotadas.

Por exemplo, em uma guerra de preços, rivais seguem uma dinâmica de ação e reação para se manterem competitivos nas vendas de seus produtos e serviços, lutando por sua fatia de mercado muitas vezes em detrimento de maiores margens e lucros. 

Portanto, um bom entendimento sobre o ramo de atividade, assim como dos clientes e adversários, é importante para que estratégias eficientes sejam traçadas.

Os estudos propostos pela economia comportamental relacionam aspectos da economia e psicologia para entender “como” e “por que” as pessoas tomam suas decisões. 

Dessa forma, busca-se olhar além da teoria econômica tradicional, que se baseia em escolhas racionais e apresenta os humanos como seres lógicos. 

No entanto, essa abordagem não é capaz de explicar certas situações e tomadas de decisão econômica, prevendo corretamente os resultados em determinados contextos reais.

O trabalho do estudioso da Universidade de Chicago e Prêmio Nobel Richard Thaler examina as diferenças entre o que as pessoas “deveriam” fazer e o que realmente fazem, bem como as consequências dessas ações. 

Além da lógica, existem fatores de influência nas decisões humanas, como racionalidade limitada, arquitetura de escolha, viés cognitivo, discriminação e mentalidade de rebanho.

No cenário econômico, as empresas visam maximizar seus lucros. Contra o instinto da competição, a melhor estratégia para um determinado jogo pode ser cooperar com outros jogadores, mesmo em um contexto de concorrência direta. 

Por exemplo, corporações podem ser agressivas em suas estratégias umas contra as outras, mas é compreensível que vejam como benéfico unir forças para defender interesses comuns junto ao poder público.

De forma geral, a Teoria dos Jogos é uma ferramenta poderosa nas decisões estratégicas dos negócios. 

A criação e análise de cenários pode potencializar os resultados frente a cenários de competição, de forma a apoiar as empresas no alcance de seus objetivos.

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