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"Embalos de Sábado à Noite" ganha versão restaurada

Redação Folha Vitória

São Paulo - John Travolta já havia feito o telefilme "O Garoto na Bolha" e jogado aquele balde de sangue em "Carrie, a Estranha", a primeira versão, de Brian de Palma, em 1976. Bad boy - Travolta só estourou dançando na discoteca de "Embalos de Sábado à Noite", em 1977. Foi lá que virou astro, mas ninguém teve mais altos e baixos na carreira. A própria sequência de "Embalos" - "Staying Alive/Os Embalos de Sábado Continuam" -, que Sylvester Stallone dirigiu em 1983, foi um fiasco, mas Travolta ainda ressurgiria, e como! Quentin Tarantino deu-lhe aquele papel em "Pulp Fiction/Tempo de Violência", em 1994. Em maio, Tarantino, Travolta e Uma Thurman apresentaram a versão restaurada de "Pulp Fiction" no Cinema da Praia, em Cannes. Tiveram uma recepção grandiosa. Gloriosa?

Os embalos estão de volta, e em versão restaurada. Na sequência, virá a versão, igualmente restaurada, de "Grease - Nos Tempos da Brilhantina", que Travolta fez depois. O curioso é que, ao deixar Nova Jersey para tentar a sorte na Broadway, sua primeira oportunidade foi no coro de Grease, na Broadway. Mal sabia ele que seria o protagonista do filme de Randal Kleiser, com Olivia Newton-John, em 1978. "Embalos de Sábado à Noite" fez dele um astro planetário. E o filme com trilha dos Bee Gees disseminou, pelo mundo, a febre das discotecas. O Brasil entrou na dança, e Sonia Braga vestiu aqueles meias coloridas para as noites quentes de "Dancing Days", a novela de Gilberto Braga, que foi ao ar na Globo entre 1978 e 79.

Anos mais tarde - em 2008 -, o chileno Pablo Larraín fez "Tony Manero", com Alfredo Castro no papel de um carinha cujo sonho é dançar como Travolta em "Embalos". Raul Peralta é seu nome e ele não liga para o que ocorre no Chile, à sua volta, o que permite ao diretor refletir sobre a alienação da juventude de seu país durante os anos de chumbo da ditadura de Augusto Pinochet. Por tudo isso, não há como negar - "Embalos de Sábado à Noite", o filme, marcou época, toda uma era. Virou referência. Os críticos vão dizer que não é um 'clássico', e não é mesmo. Mas é um cult movie, e o culto, com certeza, vai ganhar novos oficiantes.

Há 30 e tantos anos, não era só a febre, ou o erotismo de Travolta que atraía os jovens. O filme também levou para Hollywood a linguagem das ruas, e até isso, ou principalmente isso, foi decisivo para a identificação do público. Imagine - pouco antes, em 1976, o jovem Robert De Niro, como Travis, fora para a frente daquele espelho, em "Taxi Driver", de Martin Scorsese, para repetir a pergunta emblemática. 'Are you talking to me?' O cinema falava outra língua para atgingir os jovens. E tudo ocorria ao mesmo tempo. A violência de Scorsese, a saga interplanetária de George Lucas (Star Wars), os encontros imediatos de Steven Spielberg e o requebro de Travolta na pista.

Tudo começou com um artigo de Nick Cohn no The New York Times, relatando a febre das discotecas e como jovens de classes mais humildes viviam seus 15 minutos de fama - como Andy Warhol previra, uma década antes - nas pistas de dança de clubes mais abastados. Com base no texto de Cohn, o produtor Robert Stigwood encomendou um roteiro a Norman Wexler, um prestigiado escritor da época, que havia conseguido indicações para o Oscar pelo script de filmes como "Joe", de John G. Avildsen, e "Serpico", de Sidney Lumet, em 1970 e 1973. Wexler deu forma à história de Tony Manero, garoto do Brooklyn que trabalha numa loja de tintas. Melhor seria dizer - vegeta, ou sobrevive, porque Tony dá duro a semana inteira somente para brilhar no sábado à noite, na discoteca.

É aí, na pista, que ele se solta e assume a persona festiva que criou para si mesmo. Dançar é o que ele acha que sabe fazer de melhor, e vive aprimorando novos passos. Quando é anunciado um concurso de dança, Tony sente que é sua grande chance. Prepara-se, mas sofre duas decepções - uma amorosa, com sua parceira, e a outra quando se dá conta de que os segundos colocados, embora melhores, só não ganharam por discriminação, porque eram latinos. É o que basta para que o roteiro de Norman Wexler dê a base para uma interessante reflexão do diretor John Badham, contratado para dirigir a produção.

Esse Badham é irmão de Mary Badham, atriz mirim de "O Sol É para Todos", de Robert Mulligan, e "Essa Mulher É Proibida", de Sydney Pollack, de 1962 e 66. John começou a dirigir na TV e era muito bom. Depois de "Embalos", fez "De Quem É a Vida, Afinal?", sobre a eutanásia, e três filmes que focavam a questão da tecnologia no mundo moderno - "O Trovão Azul", "Jogos de Guerra" e "Short Circuit". Em "Embalos", Tony dança - e vence - para descobrir que aquela, no limite, foi uma experiência vazia para ele. Mas, talvez, não seja isso que o público retenha do filme, e sim 'a febre'. As cenas de danças são ótimas e a trilha dos Bee Gees, com hits como "Night Fever", "How Deep Is Your Love" e "Staying Alive", foi decisiva para a aura que a obra ostenta. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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