Esportes

Depois de vencerem a morte, atletas capixabas se reencontram no tiro

O tiro esportivo e o tiro com arco são esportes ainda pouco difundidos no País. Muita gente ainda não sabe, mas o Espírito Santo tem praticantes das duas modalidades que têm chances de estarem representando o Brasil nos Jogos Paralímpicos do Rio, em 2016.

O esporte de Watachos Queiroz, 31, é o tiro esportivo. Já o de Fernando Chagas, 47, o tiro com arco. As modalidades são diferentes, mas em comum os dois têm a obsessão pelo alvo e a superação de terem vencido a morte em acidentes automobilísticos e conseguido se reencontrar no esporte.

Fernando Chagas sofreu um acidente de moto em 2004, quando se chocou de frente com um caminhão. Ele sobreviveu, mas teve sequelas. Perdeu parte dos movimentos da perna esquerda por causa de uma grave lesão no joelho.

Há cinco anos ele descobriu o tiro com arco no núcleo de treinamento que existe na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), em parceria com a Federação Capixaba de Tiro com Arco.

"Eu nem sabia que existia categoria paralímpica. Logo na minha primeira competição, no Campeonato Brasileiro, em 2011, fiquei em quarto lugar. No mesmo ano fui convocado para a seleção brasileira. Já estive em competições internacionais, o Para-Pan de Guadalajara (no México, em 2011), e fui o primeiro colocado nos Jogos Mundiais por equipes na Holanda, no ano passado", disse Fernando.

A categoria dele é o standing (quando o para-atleta compete de pé). Desde 2011, o arqueiro é convocado para a seleção brasileira todos os anos e as chances de participação nas Paralimpíadas do Rio são grandes.

"São os três primeiros do ranking brasileiro que competirão. Eu, neste ano, estou na primeira colocação. Espero manter a boa média até as Paralimpíadas", disse Fernando, que em 2013 bateu todos os recordes paralímpicos e no tiro de 18 metros está na primeira colocação geral, não só dos para-atletas mas também dos arqueiros sem deficiência.

Tiro esportivo

Já no tiro esportivo, o Espírito Santo também está bem representado com o para-atleta do Álvares Cabral, Watachos Queiroz, que, depois de sofrer um grave acidente de carro em 2006, perdeu os movimentos do braço esquerdo.

O capixaba começou no esporte no final de 2011 e, já no ano seguinte, deu o que falar, quando conquistou o primeiro lugar na Copa do Brasil com a pistola de ar comprido, nos 10m, e ainda a prata no Campeonato Brasileiro. 

No ranking de 2013 ele foi o terceiro colocado pelo Comitê Paralímpico e o segundo colocado na Confederação Brasileira de Tiro Esportivo. Além  das provas nacionais, Watachos já serviu à seleção brasileira, quando no ano passado conquistou a medalha de bronze por equipes na terceira etapa da Copa do Mundo, na Inglaterra.

"Vou me esforçar para conseguir agora estar também nas Paralimpíadas do Rio. Para isso precisamos treinar bastante e estar bem ranqueado. Acho que o tiro no Espírito Santo pode crescer muito ainda futuramente", disse o capixaba.

Estrutura

A estrutura da Ufes é uma das melhores do Brasil para o tiro com arco, tanto que foi classificada pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) com nota B (que vai de A até E). Até junho a seleção paralímpica deverá realizar treinamentos no Estado e o local está habilitado para receber seleções de tiro com arco para aclimatação para os Jogos Olímpicos e Paralímpicos.

Além de Fernando, outros atletas capixabas treinam em alto rendimento na Ufes. "São 40 atletas federados, mas temos de oito a 10 com um alto rendimento. O Fernando é um deles. Mas temos ainda a Dalila Machado, Juliano Scardua, entre outros atletas que já se apresentam bem em competições nacionais", disse o presidente da Federação, Daniel do Nascimento.

No tiro esportivo, a estrutura do Álvares Cabral também vem melhorando. São cinco baias de tiro no local. Ainda não se dá para comparar com cidades do Rio de Janeiro ou Curitiba, no Paraná, mas o Comitê Paralímpico Brasileiro viu o potencial do Estado e custeou equipamentos para se iniciar uma escola para a formação de novos atletas.

"A nossa é a terceira escola do Brasil. Só tem outras duas, que ficam em Curtiba e em Campo Grande (MS). O Comitê doou duas pistolas e duas carabinas, que são caras. As pistolas custaram R$ 10 mil e as carabinas R$ 24 mil. Já temos uma primeira turma com nosso coordenador Mário Pinheiro trabalhando com 15 alunos para-atletas com o início dos trabalhos com a teoria", disse Watachos.

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