Esportes

Ex-jogadores negros do Espírito Santo falam sobre racismo e preconceito no futebol

Ondas de atitudes preconceituosas vêm tomando conta das arquibancadas, colocando em risco o grande espetáculo visto pelas torcidas brasileiras

Marcos Roberto, o Pantera, sofreu preceito racial durante sua carreira no futebol Foto: ​Reprodução Facebook

Considerado hoje o mais democrático dos esportes, o futebol vem passando por altos e baixos. Ondas de atitudes preconceituosas vêm tomando conta das arquibancadas, colocando em risco o grande espetáculo apresentado pelas torcidas brasileiras.

O futebol era um esporte exclusivo da elite, e no Espírito Santo não era diferente. Um dos clubes mais antigos do Estado, o Rio Branco Atlético Clube, surgiu em uma época em que futebol era coisa de branco e rico, não se admitindo mulato ou negro nos campos, sendo raridade também na arquibancada.

De um lado fala-se de evolução, do outro, em retrocesso e falta de punição dentro e fora de campo. Com história no futebol capixaba, o ex-jogador Marcos Roberto, conhecido até hoje como “pantera”, falou sobre as ofensas raciais sofridas em campo, e do desrespeito que não se limita apenas a torcida, mas também aos profissionais da categoria.

”Nunca tive problemas com parceiros de equipes nos clubes que joguei aqui no Espírito Santo, mas já sofri ofensas racistas de jogadores adversários, e posso afirmar que para o negro, ser aceito no futebol é muito mais difícil. Essas atitudes não são coisas que acontecem apenas por parte do torcedor, muitas vezes não existe respeito entre os próprios jogadores. Quando ouvia os atletas adversários me chamarem de ofensiva relacionada a minha cor, eu procurava corresponder me divertindo e fazendo gols, mas não discordo de quem corre atrás dos seus direitos, como no caso do goleiro Aranha”.

O ex-goleiro Jorge Reis, que ficou conhecido como o “Goleiro recordista Mundial”, fez história no Espírito Santo, em especial, pela equipe Capa Preta. O ex-goleiro, que durante os anos de 1970 e 71, ficou 1.605 minutos sem levar gols, citou a evolução da contratação de negros no atual cenário futebolístico, e falou da pressão sofrida devido a continuidade de atos preconceituosos.

“Sempre tive apoio dos jogadores que estavam em campo, e sabemos que futebol é popular e ali está a emoção. Hoje, grande parte dos jogadores são negros e oriundos de periferias. Sempre tive liberdade para jogar dentro de campo, mas não posso dizer o mesmo em relação aos jogadores de hoje. Atualmente os jogadores são muito vigiados, tudo que gira em torno do futebol ganha grande repercussão. Mas evoluímos. Hoje, em uma equipe de 23 jogadores, você chega a encontrar 18 negros, o que realmente antes era complicado”, disse o ex-goleiro Jorge Reis.

Casos recentes

Vevé

Após um jogo pegado no último sábado (13), o técnico da Desportiva Ferroviária, Vevé, juntamente com o maqueiro e o goleiro da equipe do Atlético-ES foram encaminhados para a 9ª Delegacia Regional, de Itapemirim. O técnico é suspeito de injúria racial.

Aranha

A confusão no futebol capixaba aconteceu 15 dias após o caso de racismo que mais repercutiu no Brasil. No último dia 28 de agosto, no final da partida contra o Grêmio, pela Copa do Brasil, o goleiro santista Aranha foi alvo de um episódio lamentável para o futebol brasileiro. O goleiro sofreu insultos racistas de um grupo de torcedores na reta final da vitória por 2 a 0 sobre o time gaúcho, em Porto Alegre, e saiu de campo indignado.

Daniel Alves

Outro caso que gerou polêmica foi o do jogador Daniel Alves. Na partida entre Villarreal e Barcelona, que aconteceu em abril, pelo Campeonato Espanhol, a torcida do time da casa jogou uma banana em direção ao lateral-direito da seleção brasileira quando ele se preparava para cobrar um escanteio.

Pontos moeda