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Vazamento de radiação coloca em risco pacientes e funcionários da UPA de Guarapari

Inaugurada em 2010, ela é referência em urgência e emergência na região de Ipiranga, no município. Um dos serviços mais requisitados é a radiologia

A UPA fica localizada no município de Guarapari Foto: TV Vitória

Um problema praticamente invisível, que coloca em risco a saúde de trabalhadores e usuários da unidade de pronto atendimento do município de Guarapari. A falta de cuidado na instalação da sala de radiologia permite o vazamento de radiação e quem circula pelo local está exposto aos raios x, sem controle, e sem saber dos perigos.

Inaugurada em 2010, ela é referência em urgência e emergência na região. Um dos serviços mais requisitados é a  radiologia. Embora a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) tenha sido inaugurada em 2010, o aparelho de raio x utilizado para a realização dos exames é bem mais antigo. A idade não seria problema se estivesse tudo em ordem. 

Um aviso improvisado no aparelho alerta o operador para o risco de explosão. Mas o problema mais grave é invisível. As paredes deveriam ser blindadas, o que significa que nenhuma radiação deveria passar para o lado de fora. A equipe da TV Vitória fez um teste com uma moeda de 1 real e uma chapa de radiografia. A chapa foi levada para o lado de fora e a máquina foi acionada pelo tempo normalmente usado para uma radiografia de coluna. Ao revelar a chapa, o contorno da moeda estava no exame, um indício grave de que a radiação está passando pela parede. 

“O que nos deixa pasmos é como isso vem acontecendo e como a unidade vem trabalhando sem essas proteções exigidas por leis e quem liberou que essa sala trabalhasse dessa forma”, disse o presidente do Sintteres Max Amorim.

O Sindicato dos Técnicos em Radiologia afirma que os trabalhadores não estão recebendo o dosímetro, um dispositivo usado para controlar a quantidade de radiação a que os funcionários foram expostos. “São milhares de exposições, são centenas ou milhares de pessoas que são expostas as essas radiações emitidas naquela sala, naquele aparelho, que é um aparelho sem condições de trabalho”, declarou Amorim. 

O especialista, o professor Rodrigo Moll, que é médico radiologista e chefe do setor de apoio ao diagnóstico do Hospital das Clínicas, em Vitória, explica que existem normas para construção, que as salas de radiologia devem ser blindadas. “A blindagem tem que ser com chumbo ou barita, um cálculo de acordo com a especificação do equipamento. Outra coisa importante é que essa barita ou esse chumbo tem que ser  reavaliado anualmente. Os hospitais e clínicas tem que fazer uma avaliação radiométrica para ver se está tendo algum escape para corrigir”, disse. 

A fiscalização deve ser feita pela vigilância sanitária estadual. O professor explica porque os trabalhadores devem usar o dosímetro. “Ele não protege o funcionário, ele dosa a quantidade de radiação que o funcionário está recebendo. Por ali as pessoa sabem se está tendo excesso a exposição a radiação e se for necessário o funcionário deve ser afastado”, explicou. 

Para o especialista, o vazamento de radiação é inaceitável. “Pode causar desde alteração dermatológicas, pode alterar no hemograma da pessoa. Existem casos de câncer relacionados ao uso excessivo de radiação”, declarou. 

O professor Marcos Tadeu Orlando, é doutor em física nuclear, no laboratório dele na Universidade Federal do Espírito Santo, há uma máquina de raio x similar as usadas nos exames de radiologia e explica como é o funcionamento deste tipo de equipamento. “O raio x faz parte das radiações ionisantes. Ele penetra muito e pode ser usada para ver as coisas por dentro, como o corpo, porém ele ionisa o que penetra, ele pode recombinar esses átomos e fazer uma outra ligação.”

O professor explica que os efeitos da radiação são acumulativas, isso quer dizer que exposições de baixa intensidade podem causar danos se repetidas várias vezes. “Se você tomar doses repetidas, mas dentro do limite de recuperação do corpo é aceitável, mas se  a dose aumentar um limear, o corpo não terá tempo de reparar o defeito, o que pode causar um tumor, por exemplo.”

Um aviso improvisado no aparelho alerta o operador para o risco de explosão Foto: TV Vitória

Pode ser o caso das enfermeiras que trabalham na UPA de Guarapari, a sala delas fica do outro lado da parede que abriga o equipamento de raio x. Apesar de não conter material radioativo, as máquinas modernas podem causar acidentes graves e tem riscos de explosão. “Dentro dessas máquinas tem que ter um gerador de alta-tensão, como um transformador desses de poste. Dentro tem óleo, tem material explosivo, se a tensão subir demais e tiver uma falha elétrica, o óleo pode entrar em combustão e explodir”, explicou. 

Todos os especialistas chamam atenção para um grupo particularmente vulnerável, as gestantes. O presidente da Sociedade de Ginecologia e Obstetrícia do Espírito Santo, o doutor Elvídio dos Santos, alerta para o risco de má formação dos bebês e até abortos. “Os riscos podem ser vários, depende da quantidade de exposição e do tempo de exposição. Desde um abortamento inicial até uma má formação importante, são vários os riscos.”

Os problemas na unidade de pronto atendimento de Guarapari são de conhecimento das  autoridades municipais e estaduais a pelo menos um ano. Em um ofício de setembro de 2013, a vigilância estadual comunicou a secretaria municipal de saúde sobre os problemas de radiologia. 

A unidade é administrada pela Prefeitura de Guarapari que determinou que a diretora da UPA falasse sobre o assunto. Ela confirmou que a sala tem problemas com a blindagem mas que o aparelho está em perfeito estado. “Isso não procede, o equipamento está 11%”, disse.

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