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Acredita que suas informações estão seguras na internet? Veja o que especialista diz!

Atuando como desenvolvedor de sistemas do Portal R7, parceiro de conteúdo do jornal online Folha Vitória, Rafael Costa, de 17 anos, acredita que qualquer sistema é passível de falhas

Rafael Costa já desenvolveu 13 aplicativos e atua como desenvolvedor de sistemas Foto: Divulgação

Esquecer a senha do próprio email ou cartão de crédito, por um minuto, já é o suficiente para acarretar constrangimentos e desconfortos. Mas imagine perder esses dados para sempre. E o pior, ter informações pessoais compartilhadas por bandidos. Tais situações podem depender de apenas um clique.

A expansão da internet, a queda dos preços dos smartphones e demais dispositivos móveis geram números cada vez maiores de usuários conectados à rede. Agora, será que todo mundo sabe como proteger suas informações digitais?

Atuando como desenvolvedor de sistemas do Portal R7, parceiro de conteúdo do jornal online Folha Vitória, Rafael Costa, de 17 anos, acredita que qualquer sistema é passível de falhas. E alerta que a exposição desses dados trazem consequências irreparáveis.

Para ele, o Brasil ainda precisa avançar quando o assunto é segurança da informação. “Estamos atrasados porque ainda dependemos de softwares do exterior. Corremos o risco de usar sistemas desenvolvidos pelo governo de outros países que estejam interessados apenas em espionar nossas informações”, diz.

Rafael, que atualmente mora em São Paulo, é especialista em informática. O envolvimento com as novas tecnologias começou bem cedo, aos nove anos, quando “invadiu” o computador da própria mãe.

“Tudo começou aos nove anos. Entrou um vírus no meu computador, e eu queria saber como ele funcionava por dentro. Meus pais não entendiam exatamente o que eu estava fazendo. Eles só tiveram a noção de que estava fazendo algo diferenciado quando o Banco do Brasil me chamou para uma palestra, nesta fase já estava com 11 anos”.

O interesse pelo assunto só aumentou, e Rafael já desenvolveu 13 aplicativos, a maioria disponível para iPhones.

O jovem também foi responsável pela criação do FacePAD, ferramenta que aprimorou o FaceTime, da Apple, que faz chamadas de vídeo entre portáteis, como o celular iPhone. Com a inovação, tornou-se possível realizar chamadas para contatos que estejam fora das redes sociais. “Isso já faz um tempo. Na época, chegamos a 1,2 mil dowloads por mês”, lembra.

Em entrevista ao Folha Vitória, Rafael fala sobre  a exposição dos sistemas de segurança, o amor pela área tecnológica, e os planos para o futuro. Confira:

Folha Vitória: Quando você começou a se interessar por essa área, as pessoas ainda não tinham tanto acesso às tecnologias. Como foi esse processo com a família, amigos?

Rafael Costa: Na escola muita gente não tinha tanta noção do que eu estava fazendo. Mas isso nunca me atrapalhou em nada.

FV: Atualmente é natural encontrarmos crianças brincando com tablets e smartphones. Como você avalia esse cenário? Acredita que essa relação com as novas tecnologias seja benéfica para o desenvolvimento das crianças?

RC: Acho que quanto mais cedo essa “alfabetização tecnológica” começar é melhor. No entanto, os pais precisam avaliar os pontos positivos e negativos desse processo. A criança não pode deixar de lado as experiências com o mundo real. Os estudos, por exemplo, não podem ser abandonados por causa disso. Tem que ter hora para tudo.

FV: Quanto ao processo educacional e utilização das novas tecnologias, acredita que os professores estejam preparados para o uso dessas ferramentas em sala de aula?

RC: Não. Nem os professores, nem as crianças. Os professores ainda desconhecem os benefícios dessas ferramentas, e os alunos não têm maturidade. A própria legislação apresenta falhas sobre isso. Em alguns municípios o uso de celulares, por exemplo, é terminantemente proibido por meio de lei. Acredito que este não seja o caminho. Acho que os colégios precisam ter o poder de decidir se vão aderir ou não a estes dispositivos. Uma escola que hoje não aceita, amanhã pode querer mudar, mas vira refém legislação.

FV: Em 2012 entrou em vigor no país, a Lei 12.737/2012, mais conhecida como Lei Carolina Dieckman, que prevê punições para alguns crimes em ambientes virtuais, principalmente em relação à invasão de computadores. Qual a sua opinião sobre a legislação brasileira para crimes eletrônicos? Quais os pontos em que ainda é preciso avançar neste cenário?

RC: O Marco Civil da Internet apesar de ter sido bom, deixa muito a desejar. Em alguns pontos deixa de cumprir o seu papel, e em outros momentos não é aplicado de forma correta. Muita coisa ainda pode ser burlada, e não há quem fiscalize. Falta uma aplicação mais concreta para que tenhamos resultados melhores.

FV: Apesar de grandes operações já realizadas, quadrilhas do mundo inteiro continuam fazendo milhares de vítimas na internet todos os dias. Redes de pedofilia e prostituição estão entre os principais casos. Em sua opinião, como os avanços tecnológicos, e a segurança da informação podem contribuir neste tipo de investigação criminal? Acredita que faltam investimentos?

RC: A polícia tem muito que avançar, mas acredito que este seja um processo natural. A gente nota que uma nova geração de policiais já tem mais interesse por essa área, se informam e encerram muitos casos. Acho que em breve teremos uma força policial muito mais preparada em relação ao uso dessas tecnologias, e soluções mais rápidas.

FV: De modo geral, os “hackers” são conhecidos por invasões à computadores alheios. Mas é possível afirmar que existam “hackers do bem”? Quais seriam as principais diferenças entre esses grupos?

RC: O “hacker do bem” não usa as informações que adquire para fins maliciosos. Por exemplo, se encontrada uma falha no sistema de segurança de uma empresa, ele reporta o caso para que os responsáveis tomem as medidas cabíveis. Ele não vai vender esse tipo de informação com o intuito de causar prejuízos. O “hacker do bem” está preocupado em criar soluções, em aprimorar os programas e projetos.

FV: Como as empresas que estão no alvo dos hackers podem se preparar?

RC: As empresas já fazem o papel delas que é investir em segurança. Estão certas. Elas devem contratar profissionais especializados. Acredito que o problema seja maior nos órgãos públicos. Eles são mais vulneráveis porque não investem tanto em profissionais especializados. Muitas vezes, o processo seletivo dos órgãos públicos para a contratação desses serviços já deixa a desejar. Quando desejam construir um site, abrem uma licitação, e contratam quem faz o serviço por um preço mais barato, mas correm o risco de ter um sistema cheio de falhas, alvo de invasão. A segurança na internet ainda é um processo de difícil entendimento para muitas pessoas.

FV: Muitos especialistas acreditam na possibilidade de grandes ataques virtuais nas Olimpíadas de 2016. Dentre os principais alvos estaria o sistema Comitê Olímpico. Acredita que isso possa realmente acontecer?

RC: Todo sistema é falho, e grandes eventos atraem mesmo a atenção de hackers. Mas, hoje, muitos hackers não estão investindo em ataques tão elaborados. Investem em ataques que demandam menos tempo. Então, acho que esses hackers não estejam tão interessados em gastar todo esse tempo com este tipo de invasão.

FV: Você acabou de dizer que todo sistema é falho, e no Brasil há uma grande polêmica sobre o sistema de segurança das urnas eletrônicas. Acredita que o resultado das eleições no Brasil possa vir a ser alvo de fraudes comandadas por hackers?

RC: Sim, apesar do sistema de criptografia ser muito rígido. Quem fiscaliza essas urnas? O Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Mas como garantir que o sistema operacional que está rodando dentro dessas urnas é mesmo o sistema do TSE? Então, o que está por dentro das urnas ainda é muito obscuro, e pode ser alvo de ataque.

FV: Você é adepto das compras virtuais? Acredita que seja possível fazer compras pela internet sem comprometer seus dados pessoais? 

RC: Compro e recomendo, desde que sejam em sites seguros.  É preciso comprar em site conhecidos, que adotem algumas regras de segurança, como o TLS, que é aquele cadeado exibido na parte superior dos sites.

FV: E para os usuários de redes sociais, existem outras formas de se proteger?

RC: Uma das principais dicas é não utilizar redes Wi-Fi abertas, que sejam desconhecidas. Essa pode ser justamente a rede do hacker, que vai capturar suas senhas de emails e redes sociais, e causar grandes problemas.

FV: Quais os seus planos para o futuro?

RC: Bom, estou no terceiro ano do ensino médio e este é sempre um momento difícil. Ainda não decidi se vou fazer faculdade nessa área da tecnologia, ou optar por algum curso completamente diferente.

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