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"Defendo que a reivindicação foi legítima, porém foi feita de forma equivocada", diz comandante-geral sobre paralisação da PM

Cel. Nylton Rodrigues

Cel. Nylton Rodrigues é o novo comandante-geral da Polícia Militar (Foto: Reprodução Facebook)

Assumir o comando geral da Polícia Militar do Espírito Santo no meio da maior crise de segurança pública estadual tem sido o maior desafio da carreira profissional do Coronel Nylton Rodrigues.

Há cerca de um mês no cargo, o comandante é um dos responsáveis diretos pela reestruturação da corporação no Estado. Como fazer isso e quais são os desafios que virão pela frente?

Em entrevista ao Folha Vitória, o Cel. Nylton Rodrigues detalha sua função e como será a nova cara da Polícia Militar capixaba. Confira:

Folha Vitória: O Senhor assumiu o comando-geral da Polícia Militar do Espírito Santo há um mês praticamente, no meio da maior crise de segurança pública vivenciada no ES. Como foi esse primeiro mês na nova função para o senhor? 
Cel. Nylton Rodrigues: Este está sendo o meu maior desafio profissional. A sociedade capixaba passou por um período terrível, um momento triste, mas esse momento foi deixado para trás. Este foi um momento de exceção, de ruptura, onde a polícia deixou de cumprir sua função e deixou a sociedade desamparada. Foi um momento difícil, mas a PM retorna para cumprir sua missão como cumpre há 200 anos.

FV: A crise foi maior – ou demorou mais tempo – do que o governo imaginou?
N.R: Essa crise foi um fato que nós nunca imaginávamos que poderia ocorrer. Não só eu, comandante geral, mas qualquer outro policial achou que isso poderia ocorrer. Foi um erro. É claro que temos direito de reivindicar nossos anseios e nossas conquistas, mas a forma como foi feita não está correta. Eu defendo que a reivindicação foi legítima, porém a forma foi como foi feita foi equivocada, inadmissível. Não podemos optar por cometer um crime, porque aquartelamento é crime, para buscar nossos direitos. Não podemos optar por desassistir uma sociedade para buscar nossos anseios.

F.V: O senhor acredita que a imagem que ficou do governo (para os demais estados do Brasil) após a crise é positiva ou negativa?
N.R: A imagem que fica é de um governo responsável. O governo abriu um canal de negociação com o movimento, com as associações, mas não concedeu o aumento não porque não quer, mas porque não pode. Vivemos a pior crise econômica da história do País, o orçamento dos estados e municípios só reduz, temos inúmeros estados que não tem conseguido fechar a folha de salário, estão devendo. Então, acredito que a imagem que fica é de um governo responsável, que não faz o que não tem condição de fazer, mas deixa um canal de negociação aberto, exatamente para quando puder, dar esse aumento. 

F.V: E a imagem da PM perante a sociedade?
N.R: O fato da nossa instituição ter desassistido a população, com a ruptura da realização de um serviço essencial pode ter prejudicado a corporação, arranhado a imagem da polícia junto a sociedade. No entanto, sabemos que a população tem um respeito muito grande pela instituição que está ao seu lado há 200 anos.

F.V: Como reestruturar a corporação e a PM após esse período nebuloso vivido? Quais são suas principais funções agora?
N.R: Internamente, esse momento que nós passamos atingiu em cheio os nossos principais valores, como hierarquia e respeito. A reestruturação da PM passa pelo resgate desses valores, que serão resgatados pela força do exemplo das suas lideranças. Esse exemplo do alto comando vai chegar até o soldado e isso vai resgatar esses valores que foram “feridos”. Com relação a operacionalidade, o nosso maior desafio é aumentar a visibilidade e ostensividade da polícia nas ruas. Vamos fixar os policiais nas áreas importantes, com maior vulnerabilidade social e vamos aproximar o policial do cidadão ao qual ele tem a obrigação de proteger. Essa, inclusive, será uma das missões dessas novas Companhias Independentes que estão sendo criadas.

F.V: O que pode acontecer com esses quase três mil policiais que foram processados pela PM?
N.R: Esses policiais serão julgados e, se forem acusados nos inquéritos, serão encaminhados ao Ministério Público Militar. O que eu posso dizer é que todos terão direito a sua ampla defesa e que cada conduta será individualizada. Cada um vai responder pelo que fez e não pelo que o “todo” fez.

F.V: Ainda dentro desse processo, haverá novo concurso para a formação de novos oficiais num futuro próximo?
N.R: Por enquanto, não. Não tem como prever o que vai acontecer com esses policiais que serão julgados. Mas, se no futuro, for preciso, iremos fazer novos concursos.

F.V: Foi aprovado recentemente um novo modelo de promoção para os policiais do ES. O que estava em vigor anteriormente datava da década de 50, bastante desatualizado, mas este novo não agradou os próprios oficiais. Por quê?
N.R: O modelo antigo colocava a antiguidade como grande critério para promoção dos oficiais. Nesse novo modelo, juntamos o critério da antiguidade com o critério da meritocracia, do merecimento. Ele agrada os bons policias, que prestam um bom serviço. Já aqueles que não prestam um bom serviço vão ter dificuldade na sua promoção. É uma lei que todos os estados do país já atualizaram e o nosso não havia atualizado ainda. Posso dizer que essa lei vai ser boa para a sociedade e para os bons policiais, para os que prestam um bom serviço.

F.V: Depois desse período conturbado, qual vai ser o papel da PM no futuro?
N.R: A polícia vai continuar cumprindo a sua missão, como faz há 200 anos: trabalhar para a sociedade capixaba.

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