Política

Prefeitos, ex-deputados e ex-governador do Estado na lista de doações da Odebrecht

Também há inúmeras anotações fazendo referência a repasses para políticos e partidos, acertos com outras empresas referentes a obras e até documentos sobre "campeonatos esportivos"

Redação Folha Vitória
A planinha com o pagamento aos políticos foi encontrada na casa do presidente da Odebrechet. Foto: ​Divulgação 

Investigadores da Lava Jato encontraram na residência do presidente da Odebrecht Infraestrutura, Benedicto Barbosa Silva Junior, no Rio de Janeiro, planilhas e diversas tabelas com nomes de políticos dos principais partidos da base governista e também da oposição.

As buscas fazem parte da 23ª fase da Lava Jato, a Acarajé, que teve como alvo o casal de marqueteiros João Santana e Monica Moura que atuaram nas campanhas de Lula (2006) e Dilma Rousseff (2010 e 2014) e também o executivo da Odebrecht, apontado pelos investigadores como o canal de Marcelo Odebrecht para tratar de doações eleitorais e repasses ilícitos a políticos.

A devassa da Polícia Federal na residência de um dos executivos-chave do esquema de propinas na empreiteira rendeu um total de sete arquivos onde aparecem inúmeras planilhas, algumas separadas por Estados e regiões do Brasil e outras por partidos, com nomes dos principais políticos do País.

Na lista estão incluídos nomes de políticos do Espirito Santo, como o ex-governador Renato Casagrande (PSB), o prefeito de Vitória, Luciano Rezende (PPS), o presidente do Bandes, Luiz Paulo Vellozo Lucas (PSDB), a ex-deputada Rita Camata (PSDB) e o prefeito de Vila Velha, Rodney Miranda (DEM). 

As buscas fazem parte da 23ª fase da Lava Jato, a Acarajé, que teve como alvo o casal de marqueteiros João Santana e Monica Moura que atuaram nas campanhas de Lula (2006) e Dilma Rousseff (2010 e 2014) e também o executivo da Odebrecht, apontado pelos investigadores como o canal de Marcelo Odebrecht para tratar de doações eleitorais e repasses ilícitos a políticos.

Também há inúmeras anotações manuscritas fazendo referência a repasses para políticos e partidos, acertos com outras empresas referentes a obras e até documentos sobre "campeonatos esportivos", que lembram documentos semelhantes já encontrados na Lava Jato e revelaram a atuação de cartel das empreiteiras em obras na Petrobras.

Em meio aos avanços da Lava Jato, os executivos da empreiteira anunciaram nesta terça-feira, 22, que vão fazer uma "colaboração definitiva" com as investigações.

Nos documentos, contudo, não há nenhum indicativos que os pagamentos sejam irregulares ou fruto de caixa 2 e tampouco a Polícia Federal teve tempo para analisar a vasta documentação.

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Era na Odebrecht Infraestrutura que funcionava o setor de "Operações Estruturadas", que as investigações revelaram ser o departamento da propina na empresa, no qual funcionários utilizavam um moderno software de gerenciamento de contratos e pagamentos para fazer a "contabilidade paralela" da empresa, que incluía entregas no Brasil e também transferências em contas no exterior. Diferente das planilhas encontradas naquele setor, contudo, os documentos que estavam na residência de Benedicto não possuem codinomes para se referir a políticos.

Na tabela, não especifica a cifra, apenas o número das doações. Luiz Paulo, por exemplo, recebeu 650 (que pode ser mil), Rita Camata 40, o prefeito Rodney Miranda 100. Casagrande aparece como beneficiário de 1.000, mas o valor aparece riscado e em seguida uma anotação de 500. Já o prefeito Luciano Rezende, segundo a planilha, teria recebido 100. 

Sigilo

O juiz federal Sérgio Moro decretou nesta quarta-feira, 23, sigilo sobre a superplanilha da Odebrecht que cita dezenas de políticos e partidos como supostos destinatários de valores da empreiteira. O magistrado pediu ao Ministério Público Federal que se manifeste sobre ‘eventual remessa’ da documentação ao Supremo Tribunal Federal (STF). A superplanilha foi apreendida em fevereiro na Operação Acarajé, desdobramento da Lava Jato, na residência do empresário Benedicto Barbosa da Silva Júnior, presidente da Odebrecht Infraestrutura.

O documento aponta uma longa sucessão de transferências para deputados, senadores, prefeitos, governadores e agremiações políticas.

Inicialmente, a Acarajé estava sob sigilo. Depois que a operação foi deflagrada, em fevereiro, o magistrado afastou o sigilo dos autos, como tem feito desde o início da Lava Jato. Nesta quarta-feira, ao constatar que a lista contém ‘registros de pagamentos a agentes políticos’, Moro restabeleceu o sigilo nos autos.

"Prematura conclusão quanto à natureza desses pagamentos. Não se trata de apreensão no Setor de Operações Estruturadas da Odebrecht e o referido Grupo Odebrecht realizou, notoriamente, diversas doações eleitorais registradas nos últimos anos", argumentou o juiz.

"De todo modo, considerando o ocorrido, restabeleço sigilo neste feito e determino a intimação do Ministério Público Federal para se manifestar, com urgência, quanto à eventual remessa ao Egrégio Supremo Tribunal Federal para continuidade da apuração em relação às autoridades com foro privilegiado."

O outro lado

O ex-governador Renato Casagrande afirmou, em sua rede social, que de fato, seu comitê financeiro recebeu, de forma transparente e republicana, recursos da Odebrecht, e os valores foram devidamente registrados em nossa prestação de contas junto à Justiça Eleitoral. 

Segundo ele, essa doação obedeceu a todos os requisitos da legislação vigente naquele momento e não foi condicionada a nenhuma negociação de caráter ilegal ou contrário aos princípios da ética e da moralidade. "A melhor prova disso é que, em meu período de governo, não houve nenhum contrato assinado com essa construtora", pontuou. 

O prefeito Luciano Rezende afirmou, por meio de nota, que o diretório municipal do PPS não recebeu doação da empresa investigada para a campanha à Prefeitura de Vitória em 2012, cujas contas foram aprovadas sem ressalvas pelo TRE-ES.

O advogado do Luiz Paulo, Luciano Ceotto, afirmou que o tucano não recebeu, na campanha à prefeitura de Vitória em 2012, doações diretamente da Odebrecht, mas do Diretório Nacional do partido. Essas doações da empreiteira foram feitas, segundo Ceotto, de forma lícita e conforme a legislação vigente na época permitia.

Em nota, o prefeito Rodney Miranda informou que não recebeu nenhum recurso da Odebrecht e que a lista divulgada refere-se as eleições de 2014, ano em que o prefeito sequer foi candidato. 

A nota informa ainda que as doações, para os diversos candidatos da coligação, constam originalmente em nome do presidente e do tesoureiro estadual do Democratas e, que por isso, o prefeito aparece na lista por ser presidente da sigla no Espírito Santo. 

O comunicado finaliza dizendo que todos os recursos foram recebidos de forma oficial e devidamente repassados aos candidatos da coligação, que são responsáveis pela prestação de contas junto ao Tribunal Regional Eleitoral.

A ex-deputada Rita Camata foi procurada, mas não atendeu às ligações da reportagem. 

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