Política

Vice Michel Temer agora busca negociação com presidente do Senado Renan Calheiros

Antigo desafeto de Temer, Renan já adiantou que não vai acelerar os prazos do processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff na Casa, o que poderia ajudar o vice-presidente

Redação Folha Vitória
Temer busca acordo Foto: Reprodução/Facebook

Brasília - O vice-presidente Michel Temer ainda vai ter de superar uma série de desafios para assumir a Presidência da República e montar seu governo. Seus aliados mais próximos já listaram alguns dos obstáculos e sabem que não terão muito tempo para comemorar a aprovação do pedido impeachment ocorrida ontem pelo plenário da Câmara dos Deputados.

O primeiro passo é abrir uma linha direta de negociação com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Antigo desafeto de Temer, Renan já adiantou que não vai acelerar os prazos do processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff na Casa, o que poderia ajudar o vice-presidente. No Senado, o vice apostará suas fichas nas articulações de Romero Jucá (RR) e Eunício Oliveira (CE), líder da bancada.

De passagem pela Câmara dos Deputados, Jucá, que assumiu a presidência do PMDB de forma interina, ressaltou neste domingo, 17, que espera que Renan conduza de forma "institucional" o processo de impeachment no Senado.

"Não é o perfil do senador Renan Calheiros, ele vai ser juiz, um presidente institucional do Senado. É claro que pessoalmente ele até pode ter a torcida dele, mas ele representa uma instituição que é maior do que qualquer processo de impeachment", ressaltou Jucá. Na avaliação dele, a decisão dos deputados teve como principal ingrediente a pressão realizada nos respectivos Estados. "Aqui não está votando a pessoa jurídica, o partido. O que pesa na votação é a prestação de contas do deputado junto às bases", considerou.

A preocupação com os avanços do impeachment no Senado chegou a ser alvo de conversas realizadas na véspera da votação na Câmara por um pequeno grupo de deputados do PMDB e Michel Temer. Na avaliação do grupo, o regimento do Senado apresenta alguns pontos "ambíguos", o que só aumenta o poder de Renan na condução do processo. "Já há contagem de votos no Senado, mas há uma preocupação com o rito. Outro ponto também discussão é o de ampliar a nossa base entre os senadores", afirmou à reportagem o deputado e ex-ministro de Dilma Edinho Araújo (PMDB-SP).

Fator Cunha

Temer também terá de manter seu bom relacionamento com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). O deputado fluminense teve papel decisivo na vitória do impeachment ontem. Foi ele quem articulou a escolha do relator do processo na Casa e garantiu que o texto do relatório seria a favor do afastamento da petista do cargo.

Cunha sabia que qualquer relator seria pressionado pelo Palácio do Planalto, por isso queria uma pessoa de sua extrema confiança. Ele escolheu o deputado Jovair Arantes (PTB-GO), que estava reticente e só foi convencido a cumprir a tarefa depois que o peemedebista sinalizou que poderia indicar o petebista como seu sucessor na Presidência da Câmara.

"O Eduardo disse para o Jovair: 'estou aqui decidindo o futuro da Câmara'", contou o deputado Paulinho da Força (SD-SP), que acompanhou a conversa. "O Eduardo saiu da sala e eu completei: 'viu que ele vai te indicar presidente? Ele pediu um tempinho para pensar, e aceitou'", afirmou.

Cobrança

Aliados de Cunha vão cobrar os compromissos firmados por Temer. Neste domingo, o deputado André Moura (PSC-SE) fez questão de acompanhar o ex-ministro Eliseu Padilha, braço direito de Temer, na visita que ele fez na Câmara para seu último corpo a corpo com as lideranças.

Além das cobranças dos espaços e cargos negociados nos bastidores, a expectativa entre os partidos que deixaram da base aliada de Dilma é de que Temer apresente propostas concretas para discussão no Congresso, logo após a conclusão do impeachment. "Temer tem mais habilidade porque é da área, mas vai pegar uma situação muito complicada na política e na economia. Não vai ter vida fácil", considerou o ex-ministro de Dilma e líder do PP, Aguinaldo Ribeiro.

Expectativa

A votação na Câmara foi acompanhada por Michel Temer, familiares e aliados no Palácio do Jaburu, residência oficial da Vice-Presidência. Eles usaram uma um pequena sala de cinema que fica no subsolo do prédio. Temer passou a tarde o tempo todo na companhia do ex-ministros Eliseu Padilha e Henrique Eduardo Alves. Ele almoçou salada, arroz, frango e lagarto. Inicialmente, não estava prevista a presença dele na capital federal, que decidiu deixar São Paulo na noite da última sexta-feira após ser pressionado por aliados e diante da "guerra psicológica" instaurada nos dias que antecederam a votação.

No domingo, a ansiedade do vice-presidente com a votação do impeachment se mostrou no número de ligações feitas ao longo do dia a Eliseu Padilha, responsável pela tabulação dos votos. No fim da manhã, Temer já havia telefonado pelo menos quatro vezes para Padilha. O Estado de S. Paulo acompanhou uma das ligações. "É mentira, é mentira. Ele está com a gente", disse o ex-ministro, referindo-se à suposta mudança de voto do deputado Alberto Filho (PMDB-MA). As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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