ARTIGO IBEF

Impactos econômicos das mudanças demográficas

Os desafios com os quais a economia se depara estão em grande medida relacionados à forma como cada geração estabelece suas aspirações e seus propósitos

IBEF-ES

Foto: Freepik
*Artigo escrito por Pedro Henrique Mariano, MBA em Controladoria e Finanças, consultor e executivo de Controladoria, Planejamento, Finanças, Orçamento, Resultado e Processos e Coordenador do Comitê Qualificado de Conteúdo de Economia 2024 do IBEF-ES.

Há décadas, a discussão sobre as relações entre o crescimento populacional e o desenvolvimento econômico amadurece, considerando as mudanças demográficas cada vez mais relevantes. 

O aumento populacional se dá por motivos diversos, tais como os avanços da medicina e da tecnologia, que possibilitaram um melhor controle das taxas de natalidade e mortalidade. 

Em contrapartida, os níveis de urbanização e industrialização da sociedade moderna avançam em ritmo acelerado.

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No Brasil, a pirâmide etária oferece informações e análises importantes sobre a natalidade, idade média da população e longevidade. 

No gráfico abaixo, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) demonstra que, em um intervalo de 10 anos, entre 2012 e 2022, a distribuição populacional concentra menos jovens (base da pirâmide) e mais adultos e idosos (topo da pirâmide).

Foto: Divulgação/IBGE

Tem-se um diagnóstico objetivo das principais causas das mudanças demográficas, porém, como mapear e lidar com suas consequências?

Estabelece-se, então, estudos como:

1. Relação entre oferta de trabalhadores jovens os cenários econômicos;
2. O nível de dependência, relacionando a população economicamente ativa e o total;
3. Sustentabilidade do sistema previdenciário.

Atualmente, há uma situação inédita na história da humanidade: quatro gerações economicamente ativas compartilhando o ambiente de trabalho. 

Dessa forma, os desafios com os quais a economia se depara estão em grande medida relacionados à forma como cada geração estabelece suas aspirações e seus propósitos e, portanto, deve-se equilibrar o convívio social e as relações de trabalho.

Se faz presente que encarar a realidade identificando e promovendo o diálogo e a colaboração é um caminho possível. 

Para isso, além de políticas que atendam aos anseios de cada geração, se faz necessário que as pessoas se dediquem a desenvolver habilidades de relacionamento interpessoal e empatia.

É razoável contrastar o retrato atual da população brasileira com o fato de que o Brasil não possui uma cultura voltada para a valorização do idoso, tampouco investe em medicina preventiva para antecipar os cuidados necessários na idade avançada.

Para caminhar em direção ao futuro da sociedade e do mercado de trabalho, a chave para um desenvolvimento econômico sustentável é entender e tratar os conflitos geracionais, encontrando pontos comuns e de união.

Propor soluções é mais complexo do que estabelecer diagnósticos, mas deve-se fazer o exercício de buscar ideias e meios para implementá-las. 

Ainda, é ilusória a expectativa de que determinada ideia funcione para o todo, quando há tanta diversidade demográfica em um país com mais de 200 milhões de habitantes.

Inovação tecnológica e energética, por exemplo, são temas centrais do desenvolvimento sustentável da economia, mas é através das pessoas que os saltos de evolução ocorrem. 

As crianças e os jovens ocuparão posições na pesquisa acadêmica, no mercado de trabalho e na política, bem como serão responsáveis pelas decisões que apontam os rumos da sociedade. Assim, é importante o entendimento de que a qualidade da colheita de adultos está diretamente ligada à qualidade do plantio de jovens.

Desenvolver o capital humano implica em colocar o assunto no topo das prioridades, com investimentos estruturados e massivos. 

Essa é uma forma de tratar, na origem, outros temas relevantes, como a saúde, a segurança, os empregos, o meio ambiente, a infraestrutura e a economia. 

É preciso formar a pessoa que será o professor, cientista, administrador, engenheiro, mecânico, arquiteto, médico, enfermeiro, advogado, político, psicólogo, designer e artista que trabalhará em prol da coletividade.

"Não deixando ninguém para trás em um mundo envelhecido"

A ONU (Organização das Nações Unidas), em 2023, apresenta o relatório social nomeado “Leaving no one behind in an ageing world” em que é discutido o envelhecimento da população mundial e os desafios consequentes. 

A abordagem utilizada entrega reflexões humanitárias poderosas para a sociedade moderna vislumbrar o futuro.

“O envelhecimento da população é uma grande história de sucesso do nosso tempo, assim como representa uma consequência inevitável e irreversível da transição demográfica para vidas mais longas e famílias menores.”

Tem-se um alerta para que países com uma população mais velha viabilize meios para que, em todas as fases da vida, a população tenha capacidade produtiva, contribuindo pelo período mais longo possível com uma economia sustentável. 

Por outro lado, países com população jovem, que certamente seguirão o mesmo caminho futuramente, precisam planejar e se antecipar aos fatos para atenuar os impactos da migração etária.

“Dar a todas as pessoas oportunidades iguais de envelhecer com boa saúde e com a segurança econômica começa pela promoção da igualdade de oportunidades desde o nascimento.”

Acesso à educação e a cuidados com a saúde, assim como oportunidades de trabalho, são fatores que podem reduzir as desigualdades sociais em idades mais avançadas, bem como aliviar a pressão sobre os sistemas previdenciários ao redor do mundo.

Cada região do planeta possui particularidades e os países possuem contextos e necessidades diferentes. 

Portanto é essencial que os cuidados demográficos adotados por cada governo tenham flexibilidade e visem tanto garantir o bem-estar em idades mais avançadas quanto a expansão da capacidade produtiva da economia.

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