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'As pessoas só querem músicas com letras', diz Delfeayo Marsalis

Redação Folha Vitória
Trombonista vem de família de músicos Foto: Reprodução

 Um Marsalis pode ser mais ou menos sorridente, mais ou menos negociador, mais falante ou reservado, mas será sempre um Marsalis e estará dentro de um terno bem cortado. Sua música sairá de algum outro órgão vital que não seja o cérebro e ela sempre se tornará única e abrangente.

Delfeayo Marsalis, 50 anos, é o trombonista de uma família que deve ter um churrasco daqueles aos finais de semana. Wynton é o trompetista; Branford, o saxofonista; Jason, o baterista; e Ellis, o pai, o grande mestre, pianista. Delfiô (é assim que se diz) está em São Paulo para uma única apresentação, nesta quarta-feira, 21, no Bourbon Street, antes de seguir para o Festival de Jazz & Blues de Mangaratiba, no Rio, entre 23 a 25.

À reportagem ele fala de jazz, New Orleans, próximo disco, plateias sonolentas, crianças e o mal que a "era do rap faz à música instrumental". Enfim, um Marsalis sendo um Marsalis.

Ainda impera a ideia de que o jazz se trata de uma música distante, apenas para estudiosos e especializados. Quebrar esse conceito ainda é um desafio?

A vida está mais difícil para os músicos que investem em gêneros instrumentais por causa da ‘era do hip-hop', que direcionou os ouvidos para que eles aceitassem apenas músicas com letras. O importante em New Orleans é estarmos certos de que a música que fazemos tem um groove forte o suficiente para funcionar com ou sem palavras. E as pessoas sempre entendem quando o som está bombando.

 

Quando uma plateia está sonolenta, de quem é a culpa? Da plateia ou dos músicos?

Se toda a plateia estiver sonolenta, dos músicos. Ela não pode degustar um prato fino esperando que vá bater em seu estômago como um hambúrguer com batatas fritas. Eu sinto que as plateias têm perdido a paciência e desejado que todas as músicas tenham uma batida reconhecível, como na música popular. Cabe ao músico saber o quanto sua plateia está aberta para ser explorada. Digo que, se ela não estiver, aumente o funk, baby!

 

Como está a gravação de seu próximo disco? A África será o tema central?

Vou gravar com a Uptown Jazz Orchestra em novembro, usando várias canções baseadas em temas africanos. Muitos profissionais de jazz estão removendo a alegria e a emoção da música africana e substituindo o que ela tem de melhor por equações matemáticas chatas. Os povos nativos têm uma relação única com a terra e o mundo espiritual. Eles têm um ideal que tentamos transmitir.

Um de seus irmãos, Branford, foi acusado de ter ido longe demais com seus experimentos. Outro deles, Wynton, é às vezes acusado de ser arraigado às raízes. Afinal, os Marsalis são progressistas ou tradicionalistas?

Somos radicais fundamentalistas (risos).

Como é um churrasco na casa dos Marsalis? O pai vai ao piano, um irmão pega o sax, o outro o trompete, e vocês tocam por horas, imagino.

Quando éramos jovens, sim. Agora conversamos sobre esportes, política e disputamos para ver quem faz nossa comida típica, o bom e velho gumbo.

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