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Após superar câncer, Raquel Viel festeja 'bronze com sabor de ouro' no Mundial

Redação Folha Vitória

Cidade do México - Uma batalha de mais de um ano contra um câncer foi recompensada dentro do complexo que abriga a Piscina Olímpica Francisco Marquez, no final da noite do último sábado, na Cidade do México. Foi neste mesmo palco histórico que recebeu disputas da Olimpíada de 1968 que a brasileira Raquel Viel conquistou a medalha de bronze na prova dos 100m costas da categoria S12 do Mundial Paralímpico de Natação.

Deficiente visual desde o nascimento (congênita), Raquel enfrentou um duro tratamento antes de chegar à capital mexicana, onde até mesmo os médicos não acreditavam que ela poderia estar presente depois do diagnóstico que constatou um tumor maligno da sua mama esquerda pouco depois de disputar os Jogos Paralímpicos do Rio-2016. Lá, ela ficou perto do pódio ao terminar a final da prova dos 100m costas com a quarta colocação e o melhor tempo de sua carreira.

Apesar da grave doença, que a obrigou a ser submetida a muitas sessões de quimioterapia e radioterapia durante vários meses, a nadadora que tem apenas 10% de visão manteve a sua rotina de atleta paralímpica como uma forma de substituir os remédios tomados para combater a depressão que esse tipo de doença costuma provocar.

E, superando as expectativas dos próprios médicos que temiam pela sua continuidade no esporte de alto rendimento durante o tratamento, ela conquistou em abril deste ano o índice para poder disputar a competição que está sendo realizada no México. Assim, veio para o seu terceiro Mundial.

Após conquistar um lugar no pódio no último sábado, a nadadora paulista nascida na cidade de Vinhedo estava emocionada, mas muito feliz por ter visto a sua batalha ser recompensada. "Essa medalha de bronze tem mais sabor de ouro do que de bronze para mim. A medalha de ouro eu já tinha ganhado antes de vir para cá, que foi uma nova oportunidade de viver e de poder estar aqui. Então, essa medalha veio como um presente para concluir o ano, para passar a virada deste ano melhor, pois no final do ano passado foi bem difícil para mim. E estou feliz também principalmente por agora ter um diagnóstico bom, por ter feito todo o tratamento e ter melhorado. Então essa medalha foi um presente para mim", afirmou Raquel, em entrevista ao Estado, pouco depois de terminar a sua final em terceiro lugar.

A batalha da nadadora contra o câncer foi longa e, neste período, em maio passado, ela foi submetida a uma cirurgia para retirada de parte da mama que foi afetada pelo tumor. E a operação foi apenas um dos muitos capítulos deste drama. Até setembro, a nadadora ainda tomava comprimidos que tinham o mesmo impacto de uma quimioterapia e que provocaram fortes efeitos colaterais, como irritações na pele, e a debilitaram fisicamente.

Por causa disso, sua médica (Vivian Antunes) optou por interromper este tipo de tratamento às vésperas do Mundial, que inicialmente estava marcado para ocorrer entre 29 setembro e 6 outubro, mas foi adiado para começar dois meses depois em virtude dos efeitos trágicos do forte terremoto que abalou à Cidade do México em 19 de setembro.

Agora, porém, veio a recompensa para Raquel, que ainda revelou que não pode ainda se considerar 100% livre deste câncer que combateu com sucesso, pois o mesmo pode reaparecer. "Tratamento eu não tenho de fazer mais, mas essa doença requer muitos cuidados. Então eu tenho de fazer um acompanhamento bem rigoroso, de dois em dois meses, mas no momento estou sem a doença, graças a Deus. E só tenho de agradecer a Deus mesmo por ter essa oportunidade de estar aqui", ressaltou a nadadora, com lágrimas nos olhos de quem só tem 10% de visão.

E a luta contra a doença é uma lembrança difícil para Raquel também pelo fato de que ela perdeu a sua mãe, vítima de câncer, antes de a própria nadadora ser diagnosticada com o tumor na mama. "Dedico muito essa medalha à minha mãe, que faleceu de câncer, e eu vi muito a luta dela contra a doença. Dedico à minha família, à minha irmã, à minha prima, que me apoiaram muito durante o tratamento. E também dedico ao meu técnico, que me apoiou muito e foi muito mais do que meu amigo. E agradeço muito à minha médica, a doutora Vivian, que me deu uma nova oportunidade de viver uma nova vida agora", destacou.

Raquel garantiu lugar no pódio já em sua primeira prova neste Mundial do México, no qual ela voltará a competir na próxima quarta-feira, quando estará presente nas eliminatórias do 100m peito da sua categoria e lutará por uma vaga na final, que ocorrerá na noite do mesmo dia. E, para quem já superou todas as barreiras que ela enfrentou, não há motivos para não estar confiante de que avançará para disputar por uma nova medalha. "Eu priorizei mais a prova do costas, que é a minha mais forte, mas eu vou tentar fazer o meu melhor nesta prova de peito". E é melhor não duvidar das chances dela.

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