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Jovens já representam 43% das mortes nos hospitais do ES, aponta secretário de Saúde

Óbitos por covid-19 em pacientes entre 18 e 29 anos subiram de patamar a partir de fevereiro deste ano no Estado

Marcelo Pereira

Redação Folha Vitória

O número de mortes em pessoas mais jovens por coronavírus tem subido nos hospitais do Espírito Santo. Segundo dados da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), de outubro de 2020 até 28 de fevereiro, óbitos hospitalares por covid-19 entre 18 e 29 anos representavam 25%. Mas de 1 de fevereiro a 18 de abril, os óbitos dessa faixa etária subiram para 43%. Os dados foram apresentados pelo secretário de Estado da Saúde, Nésio Fernandes, em coletiva à imprensa nesta segunda-feira (19). "Temos uma doença que se comporta com mortalidade maior na população jovem", destacou. Nos mesmos períodos, entre os pacientes jovens adultos de 30 a 49 anos, a taxa de mortes estava em 25% e passou para 35,37%.

O subsecretário de Saúde, Luiz Carlos Reblin, também presente na coletiva, reforçou a necessidade de que os jovens tomem mais consciência e cuidado em relação à pandemia. "Praticamente dobrou o número de óbitos em jovens que são internados. Os jovens precisam entender que não estão imunes à doença, independentemente de ter tido ou não a doença", reforçou. Reblin afirmou que o jovem pode ser causa prepoderante da subida de uma nova curva de casos, se arriscando a adoecer de forma grave, ser internado e ir a óbito.

O gestor da Sesa apontou uma diferença nesta que é considerada a terceira fase da pandemia de coronavírus. De 22 de fevereiro a 24 de março, o Espírito Santo viveu um período de aceleração. A partir de 1 de abril, foi alcançado um pequeno platô. "Estamos reconhecendo que o Espírito Santo viveu um período de queda acentuada de casos mas o mesmo período apresentou uma pressão assistencial muito grande e mantém um padrão de óbitos por semana em patamares muito elevado, superiores a 400 óbitos por semana", calcula.

Ele também prevê que o mês de abril terá um contexto inédito com um quantitativo inédito de óbitos e com ocupação de leitos acima de 90%.

Em relação à ocupação hospitalar, o secretário Fernandes aponta que há uma estabilização de internações, atualmente  sem fila de espera para pacientes graves ou moderados. "Estamos desde sexta-feira mantendo um comportamento de atender em menos de 24 horas toda a demanda de pacientes de enfermaria e UTI. A queda de casos poderá apresentar uma percepção da queda nas internações de UTI até o final de abril, em especial no início do mês de maio. Porém, não iremos alcançar em menos de 60 dias, os níveis que tivemos entre a primeira e a segunda expansão de casos", observa. 

Nova expansão da doença

O secretário Nésio Fernandes creditou que a lentidão na vacinação pode resultar numa nova expansão da doença no Espírito Santo. "Por não termos alcançado uma imunidade coletiva pela vacinação, é possível que ao longo do segundo quadrimestre o Estado possa viver uma nova expansão na curva de casos. Por isso temos que preservar até atingir 80% da imunização da população, evitar aglomerações e seguir as medidas de isolamento social", alertou. 

Ele também garantiu que a Sesa está atenta à presença de novas variantes do vírus. "Estamos neste momento incorporando tecnologias que poderão identificar comportamento da variante P1. Algumas expressões importantes dos Estados que têm a P1 como predominante: a quantidade de jovens internados é maior", apontou. 

Velocidade da vacinação

No entanto, na análise de Fernandes, a vacinação na população capixaba pode ser mais rápida. "Alcançamos o terceiro lugar como Estado em andamento da vacinação com as doses enviada pelo Ministério da Saúde. "Estamos preparando condições para que o Estado avance ainda mais nessa velocidade", aponta. O secretário acredita que, tendo a quantidade suficiente de doses contra a covid-19 enviadas pelo Ministério da Saúde ou adquiridas pelo Estado, o Espírito Santo poderá ser um dos primeiros do Brasil a atingir a imunidade coletiva por meio de cobertura vacinal. 

A vacinação em professores e profissionais da Educação foi lembrada pelos gestores. O subsecretário Reblin lembrou que, esta semana, a maioria das cidades deverá começar a aplicação neste grupo. 

Antecipação de vacinas para outros grupos

Em relação a outros grupos, o secretário Nésio Fernandes disse que, neste momento, não é possível precisar uma data. "Está demonstrado que a não chegada da vacinação mais ampla não está relacionada à capacidade de vacinação do SUS mas da pouca quantidade de doses. Caso o governo adquira a vacina, poderemos contemplar outros grupos essenciais ou de comorbidades que não estão inseridos no Plano Nacional de Imunização", garantiu. 

Ele antecipou que, caso haja disponibilidade de vacinas e o Estado possa adquirí-las, há um plano para vacinar dois milhões de capixabas por mês. Ele preferiu não detalhar o andamento de negociações de compra de imunizantes pelo governo estadual e deixou o anúncio, caso haja a concretização da venda, para o governador Renato Casagrande. 

Reblin afirmou que o Ministério da Saúde pode diminuir a quantidade de doses enviadas ao Espírito Santo ainda esta semana. Segundo ele, o ministério anunciou uma dificuldade da produção do imunizante. "Estamos aguardando confirmação mas é possível que recebemos muito menos doses nesta semana. Temos informação de que o Brasil receba a vacina da Pfizer, mas em poucas doses, ainda não confirmadas", ressaltou. 

Quanto à oferta de medicamentos do kit intubação, segundo Fernandes, ela não está sendo prejudicada porque a Sesa conta com as entregas parciais feitas pelos fornecedores contratados e também com as doações feitas pelas empresas privadas ao Ministério da Saúde. "Caminhamos para que, daqui a 15 dias, qualquer escassez de medicamentos seja cessada no Espírito Santo", afirmou, ressaltando que a dificuldade maior foi enfrentada na rede hospitalar particular e na rede hospitalar filantrópica. Ele garantiu ainda que os kits de intubação começarão a ser entregues ainda nesta segunda (19).

Para garantir um maior combate à transmissão do coronavírus, é necessário que haja, na população, o hábito de testagem. Segundo o subsecretário Reblin, há toda uma estrutura disponível nas unidades básicas de saúde, com a oferta dos chamados testes de antígeno, cujos resultados podem sair em 15 minutos. "Se deu positivo, confirmou a covid-19. Se deu negativo para quem tem o sintoma, vai fazer o teste PCR. Temos capacidade de realizar 8 mil testes PCR por dia chegando a 10 mil e mais uma infinidade de testes na atenção básica. Nos municípios, estão sendo feitos de 900 a 1200 testes de antígenos. Mas é preciso quadruplicar essa quantidade até maio", ressaltou. Reblin pediu que as pessoas tomem cuidado em não confundir sintomas de covid com alergias.  “Não fique em casa pensando que tem alergia. Isso pode ser um sintoma da covid-19", afirmou, aconselhando que se procure as unidades de saúde para fazer o teste.

A aplicação da segunda dose das vacinas contra covid-19 no Espírito Santo está garantida, segundo os gestores da Sesa. "Nós só fizemos a antecipação da segunda dose em momentos de véspera de recebimento de mais doses", afirmou Fernandes, não comprometendo a disponibilidade da segunda dose para quem recebeu a primeira. Ele apontou que, até o momento, não foi preciso utilizar as vacinas reservadas para a segunda dose em antecipação da imunização de toda a população. Mas essa possibilidade não está descartada podendo ser avaliada por autoridades sanitárias do país.

Leitos

Pelos cálculos de Nésio Fernandes, o Espírito Santo poderá passar de 1200 leitos para tratamento de covid-19 ao longo do mês de abril. Também são consideradas expansões para o mês de maio. Porém, o secretário apontou que há limitações em abertura de novos leitos. "Nós entendemos que a ampliação de leitos se torna cada vez mais difícil pela existência do que chamamos de 'pleno emprego' das categorias ligadas à Saúde. Torna-se mais difícil interiorizar profissionais, por exemplo. O recurso humano representa, hoje, o grande limitador da expansão", explicou. Ele disse que a pasta planeja estratégias para alcançar 1500 leitos de UTI em uma hipotética situação extraordinária, que não deve ocorrer nas próximas semanas. "Podemos transformar rapidamente leitos de enfermaria com monitores e respiradores mas sem os recursos humanos não servem de forma adequada", alertou. Atualmente, a taxa de ocupação de leitos está acima dos 90% alcançando 90,77% de ocupação de leitos de UTI. "Mantemos 964 pacientes internados. Mas a queda se dá principalmente com a ampliação de leitos com 20 leitos de UTI abertos no município de Linhares", precisou.

Comorbidades

Questionada pelo Folha Vitória, a Secretaria de Estado da Saúde espera determinar, ainda nesta semana, os critérios para vacinação em pessoas com comorbidades (doenças crônicas como diabetes, problemas cardíacos, entre outros). O subsecretário Reblin disse que irá pactuar os procedimentos com os municípios até sexta-feira (23). "Ainda esta semana, devemos encerrar a estruturação dos itens que serão comprobatórios da doença de base (comorbidade para tomar a vacina)", explicou. Reblin disse que o calendário para vacinar este público poderá não ser cumprido devido a diminuição da quantidade de doses vindas do Ministério da Saúde. "Se confirmarmos que esta semana vamos receber uma quantidade muito menor de vacinas, a previsão de que pessoas com comorbidades pudessem ser vacinadas a partir de maio fica comprometida", apontou.

Nas considerações finais, o secretário Nésio Fernandes pontuou que medidas extremas de paralisação de atividades só podem ser sustentadas por longo tempo se existir uma agenda econômica nacional, que ampare tanto a população economicamente mais vulnerável quanto o setor produtivo afetado pela suspensão do comércio e serviços devido à quarentena. "Não é sustentável manter a quarentena ao longo de 60 dias como em outros países do mundo, que tiveram agendas econômicas robustas. Nós reconhecemos que a metodologia atual, caso tenha adesão da população e seja respeitada, poderá preservar a tendência de queda de casos. Não é adequado relacionar uma única atividade como a responsável por toda a pandemia. Estamos tomando medidas mais rígidas que tenham expectativa de poder preservar a redução da interação social que levou ao crescimento da curva de casos e de óbitos", apontou.





















Foto: Divulgação/ Sesa




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