24 anos em coma

Caso Clarinha: "Angústia, um vazio na alma", diz médico que aguarda liberação do corpo

Jorge Potratz cuidou da "paciente misteriosa" até a morte dela. Nove famílias procuraram o DML para realizar exames de comparação de DNA

Maria Clara Leitão

Redação Folha Vitória
Foto: Reprodução TV Vitória

Após quase um mês da morte da paciente apelidada de “Clarinha”, que estava internada há 24 anos no Hospital da Polícia Militar do Espírito Santo (HPM-ES), a angústia e o vazio permanecem. Principalmente para o médico Jorge Potratz, que cuidou de Clarinha, a "paciente misteriosa", ao longo dos anos. 

Ela morreu no dia 14 de março e, sem identificação oficial, o corpo de Clarinha foi levado para o Departamento Médico Legal (DML), em Vitória, e está no local até agora, aguardando o reconhecimento por parte de algum familiar ou a liberação da Justiça para ser enterrado por alguma pessoa próxima.

Segundo a Polícia Civil, até o dia 27 de março, nove famílias procuraram o DML para realizar o exame de comparação de digitais, mas não foram encontradas correspondências com as digitais da paciente.

>> Quer receber nossas notícias 100% gratuitas? Participe da nossa comunidade no WhatsApp ou entre no nosso canal do Telegram!

Clarinha foi apelidada desta forma por conta da cor da pele muito clara. Ela foi atropelada em Vitória no dia 12 de junho de 2000. No dia do acidente, não possuia nenhum documento de identificação. Ela ficou internada no HPM, em Bento Ferreira, e Jorge Potratz acabou se tornando o “responsável por Clarinha”.

Em conversa com o Folha Vitória, diante da falta de respostas para a possível liberação e identificação do corpo da paciente para a possibilidade de um enterro digno, o médico desabafa e diz ter um "angústia e vazio na alma". 

"Tudo ainda fica no mesmo lugar e não evolui. Por outro lado, a existência de famílias ainda pendentes deixam a chama da esperança para uma identificação e saber de fato quem é ou era a Clarinha antes do infortúnio lhe acontecer", descreve. 

Mesmo após a morte da paciente, o médico ressalta que gostaria de ter a resposta da identidade e liberação do corpo. “Gostaria de poder ter essa resposta e acalmar as emoções e dúvidas que coexistem”, disse. 

Com o corpo de Clarinha ainda no DML, Jorge Potratz avalia ser “cruel” a não liberação para o sepultamento.

 "Uma angústia, um vazio fica na alma da gente. Porém tenho absoluta convicção de que Deus comanda tudo e certamente vai permitir aquilo que de fato importa. Vou aguardando com angústia e esperança o desfecho de tudo e com a consciência de que tentei e fiz de tudo para ajudar nessa busca", ressalta. 

Ministério Público não sabe quando será sepultamento

O Ministério Público do Estado do Espírito Santo (MPES) informou, em nota, que não é possível informar quando será realizado o sepultamento do corpo de Clarinha. E que a preocupação no momento é encontrar os familiares.

"Para poderem providenciar a liberação e o sepultamento digno de seu ente querido", diz a nota. 

Com isso, o MPES destaca que deverá ser aguardada a finalização dos trabalhos pela Polícia Civil.

"Caso não sejam encontrados parentes, pessoas próximas, como o Coronel PMES Jorge Potratz, que já manifestou interesse em momento anterior, poderão requerer autorização judicial para liberação do corpo. O MPES, por meio da Promotoria de Justiça Cível de Vitória, já se colocou à disposição para auxiliar no pedido, caso haja a necessidade", destaca a nota. 

O órgão também destacou que continua auxiliando todas as famílias que procuram o Ministério Público em razão da possibilidade de parentesco com Clarinha. 

"O MPES orienta que essas pessoas enviem à Polícia Civil do ES, por meio de um número de Whatsapp fornecido, a documentação do parente desaparecido, para que seja requerido o respectivo prontuário civil, que pode ser deste Estado ou de outro, a fim de comparação com as impressões digitais de Clarinha", finaliza o comunicado do Ministério Público. 

Polícia tem Whatsapp para possíveis parentes

A Polícia Científica explicou que, quando as famílias entram em contato pelo canal de WhatsApp da Antropologia (27 3225-8260), são solicitadas informações sobre possíveis identidades de Clarinha para localizar seu RG. A posse do RG é crucial, pois permite a comparação das digitais.

"A demora nesse procedimento ocorre frequentemente devido às informações das pessoas suspeitas, que muitas vezes não pertencem ao Estado do Espírito Santo, exigindo a busca por registros em outros Estados", diz a nota da polícia. 

Foto: Reprodução / TV Vitória
Clarinha foi cuidada no Hospital da Polícia Militar (HPM) por 24 anos

Suspeita de sequestro

Uma das hipóteses levantadas sobre a verdadeira identidade de Clarinha é de que a paciente seria uma bebê sequestrada no ano de 1976 no município de Guarapari.

Em meados de 2020, uma equipe composta por um perito e três papiloscopistas da Força Nacional de Segurança Pública do Ministério da Justiça, que atuou no Espírito Santo, tomou conhecimento do caso. Após exames faciais, concluiu que Clarinha tinha compatibilidade com a menina.

Apesar da suspeita, um exame de DNA descartou a possibilidade de Clarinha ser a menina desaparecida há quase 50 anos.

A informação foi confirmada pela Polícia Civil de Minas Gerais, após um confronto de dados genéticos, entre a paciente internada em Vitória e a família da criança.

Em 2016, mais de 20 pessoas realizaram exame de DNA para verificar se possuíam algum parentesco com a mulher. 

LEIA TAMBÉM: Instituto emite alerta de chuva para 37 cidades do ES


Pontos moeda