CICLO DAS ÁGUAS

Mais empresas, turismo, educação e saúde em cidades com saneamento

Água e esgoto tratados são motor de crescimento e ajudam a transformar regiões

Redação Folha Vitória

Foto: Edu Kopernick

Um visual de tirar o fôlego, natureza exuberante e todos os elementos para atrair turistas. Assim é o restaurante da Drika Guimarães, bem na margem do Rio Jucu. A pandemia, lá em 2020, a obrigou a empreender, depois que ela foi afastada da empresa onde trabalhava. Ela só pode transformar o sonho em realidade porque a região tem saneamento básico.

“Foi durante a pandemia que eu vi esse lugar maravilhoso. Realizar o meu sonho só foi possível graças às condições que tenho aqui. A água é tudo, sem a água a gente não vive”, disse a empresária.

Empreender fica bem mais fácil quando se tem água e esgoto tratados. E não é só o exemplo prático da Drika que mostra isso. Os números também. Um estudo do Banco do Nordeste mostra que, até 2035, os ganhos para o turismo brasileiro com a valorização ambiental devem atingir R$ 24,5 bilhões.

Para se ter ideia do volume desse dinheiro, esse é praticamente o valor do Orçamento do Espírito Santo neste ano (receita estimada total de R$ 24,9 bilhões, segundo dados do governo do Estado).

Foto: Arte/Folha Vitória

O saneamento faz tanta diferença assim para a atividade turística porque ninguém quer visitar um lugar que não tem água limpa. Muito menos um lugar com mau cheiro e esgoto a céu aberto. Isso atrapalha a experiência de qualquer um.

Ter saneamento básico significa ter condições não só de receber mais turistas. É um forte atrativo para receber mais empresas, gerar mais empregos e oferecer mais oportunidades.

Ricardo Buzatto é o executivo responsável pela logística de uma plataforma que atua no segmento de moda e decoração em todo o Brasil. Empresa grande que prevê ainda mais crescimento.

Há seis meses, o grupo paulista resolveu expandir marcas e, depois de estudar muitos locais, escolheu a Serra para ampliar a atuação. E o salto tem muito a ver com o saneamento básico.

“Levando em consideração todo o plano de desenvolvimento da cidade e a parte de infraestrutura que estava em andamento, nós nos instalamos aqui. Um dos pontos que a empresa leva em consideração é o bem-estar dos colaboradores e todo esse investimento em saneamento previsto pela cidade faz a diferença para o nosso público”, afirma o executivo.

Mais renda, escolaridade, valorização imobiliária e saúde

Água e esgoto tratados são responsáveis diretos por mais renda, mais escolaridade, valorização imobiliária e mais saúde.

Segundo o Instituto Trata Brasil, a renda média das pessoas sem saneamento é de R$ 835 por mês e a renda média das pessoas com saneamento é de R$ 2.766 mensais. Três vezes mais.
No Espírito Santo, a escolaridade média das pessoas sem saneamento é 5,62 anos. Quando a pessoa tem água e esgoto tratados, o tempo de estudo sobe para 9,25 anos.

“Quando uma criança não tem acesso à água tratada e à coleta de esgoto, consequentemente fica mais doente, falta mais à escola e isso acaba reduzindo os anos de escolaridade. E as chances de ela ter um bom emprego, lá no futuro, diminuem”, afirma Ana Emília Thomaz, auditora do Tribunal de Contas do Estado (TCE-ES) e responsável pelo Painel do Saneamento Básico do Espírito Santo.

Painel traz 38 indicadores de cada cidade

O painel reúne informações de 38 indicadores do governo federal e está disponível do site do TCE-ES. Os dados apontam como cada município do Estado está em relação ao saneamento, a evolução de cada cidade e o andamento dos investimentos.

Afinal, o Marco Legal do Saneamento determina que até 2033 todos os municípios precisam ter 90% das pessoas com esgoto coletado e tratado e 99% das pessoas com acesso à água tratada. Um desafio grande sob o olhar de quem acompanha os investimentos e a evolução a cada número.

“O painel traz informações inclusive relativas ao investimento que se faz anualmente por prefeituras, concessionárias, Estado. Então, o que a gente tem: para universalizar até 2033, o investimento anual deveria ser de R$ 115 por habitante. Na média do Estado a gente está um pouco acima de R$ 63 por habitante. Mas, essa é a média. A gente tem município que tem investido bastante, que supera R$ 500, mas tem município que tem investimento de R$ 5”, pontua Ana Emília Thomaz.

“O problema pode não ser o município que está com investimento baixo agora. Às vezes ele já fez o maior investimento lá atrás e já está perto da universalização. O problema é o município que tem índices ruins e mesmo assim não investe. Tudo passa por investimento”, explica a auditora.

Saneamento: menos afastamento por doenças

Um dos motivos que fazem o saneamento ser tão relevante para a economia é a condição de saúde da população. Menos afastamentos por doenças de veiculação hídrica como gastroenterites, viroses e verminoses promovem produtividade maior e mais escolaridade.

Quem não fica doente estuda mais, consegue trabalhos melhores, rende mais e ganha salários melhores. Simples assim. E, além de gerar mais riqueza, proporciona economia nos gastos gerais dos governos com saúde.

“Existem dados demonstrados, inclusive pela ONU, de que cada real investido em saneamento gera economia de R$ 4 em investimento em saúde. Evitar a doença é mais barato do que tratar a doença”, aponta Ana Emília Thomaz.

Foto: Arte/Folha Vitória

Por isso, a presidente executiva do Instituto Trata Brasil, Luana Pretto, chama atenção para o direcionamento dos investimentos em saneamento.

Para ela, a maior parte dos recursos deve chegar às regiões mais carentes. Só assim é possível aproveitar o que a água e esgoto tratados podem oferecer de melhor para a população.

“As pessoas pensam: mas só tem saneamento nas regiões mais ricas. Então isso é um indicativo de que é preciso investir nas regiões mais pobres para as pessoas se desenvolverem”, declarou.

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