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Idosa de 82 anos faz tatuagem para eternizar amor pela filha vítima da covid-19

Dona Lenimar conta que a saudade da filha Leninha, morta há 9 meses, ainda é profunda, mas garante que hoje consegue olhar para o desenho e sorrir

Nadine Silva Alves

Redação Folha Vitória
Foto: Acervo pessoal

A advogada aposentada Lenimar Callado, de 82 anos, moradora de Iúna, na região do Caparaó, encontrou na tatuagem uma forma de homenagear e amenizar a dor pela saudade da filha, de mesmo nome. Lenimar, mais conhecida como "Leninha'', morreu em setembro de 2020, aos 58 anos, vítima de covid-19.

Foto: Acervo pessoal
"Leninha", como era chamada a filha de dona Lenimar, morreu aos 58 anos, vítima de covid-19

"Ela não era apenas uma filha, mas uma companhia, uma amiga. Um dia olhei para o céu e pedi a Deus uma forma de homenagear minha filha. Vi a infinidade e pensei: uma tatuagem, com símbolo e nome da minha menina", contou a idosa.

A aposentada conta que a saudade ainda é profunda, mas hoje ela consegue olhar para o desenho e sorrir. "Consigo falar o nome dela e não chorar. Agora eu tenho ela no coração e marcada na minha pele", disse. 

"Depois que tatuei, cheguei na janela e olhei para o céu: 'filha, é para você'" 

De acordo com a neta e dona do estúdio de tatuagem, Iuli Callado, 28 anos, o desejo partiu da avó. 

"Ela não tem mais sobrancelha e perguntou se tinha como fazer uma definitiva. Mas, no outro dia, chegou determinada a fazer a tatuagem", explicou Iuli. 

Dona Lenimar admite que chegou a sentir medo. No entanto a vontade era tanta, que a ansiedade de ver o registro foi maior. "Só senti uma dor no final, quando ela fez os dois corações. Mas a felicidade e satisfação foram imensas. Cheguei na janela, olhei para o céu e disse: 'filha, é para você'", lembrou. 

Na hora do desenho, a neta de Lenimar sugeriu que ela colocasse dois corações e o nome no símbolo. 

Foto: Acervo pessoal

"O coração maior representa o meu, e o menor é o dela. Um amor para todo o sempre", reforçou a aposentada.  

Mas a tatuagem na vida de dona Lenimar nem sempre foi algo comum. Filha de militar e casada por 50 anos com outro militar, ela relatou para a reportagem do Jornal Online Folha Vitória que marcar a pele não era algo bem visto no passado. 

"Eu não era contra nem era a favor, só não achava graça em fazer tatuagem. Mas como criei meus filhos e netos, com o passar dos anos a mente abriu para acompanhar os tempos", destacou. 

Tatuagem foi feita um ano depois da internação 

No dia 13 de junho do ano passado, "Leninha" foi internada na UTI, por problemas cardíacos. Ela chegou a ser intubada, mas, com o passar dos meses, conseguiu se recuperar e foi transferida para a enfermaria. No entanto, contraiu a covid-19 e, no dia 26 de setembro, morreu.

Iuli conta que, durante todo o período, mãe e filha ficaram separadas, e que o último contato de dona Lenimar foi antes da internação da filha. 

"Ela ficou um ano chorando. Todas as vezes que conversávamos e chegava na minha tia, ela começava a chorar", lembrou Iuli. 

Em vídeo, dona Lenimar comemorou animada o resultado da primeira tattoo. 

Por fim, dona Lenimar ressaltou que algumas pessoas podem não gostar e nem apoiar a ideia de fazer uma tatuagem. Mas, para ela, o que importa é a homenagem feita para a filha.

Ela afirmou ainda que já pensa na próxima. "Vou fazer passarinhos para registrar os meus quatro netos. Algo discreto também", concluiu. 

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