CORONAVÍRUS

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Transferência de pacientes do interior eleva taxa de ocupação de leitos de UTI na Grande Vitória

Mesmo com a estabilização de casos de covid-19 na região metropolitana, taxa continua elevada. Crescimento da doença no interior do estado tem provocado a escassez de vagas nos hospitais desses municípios

Foto: Reprodução R7

Com o aumento de casos do novo coronavírus no interior do Espírito Santo, pacientes desses municípios que apresentam o quadro grave da covid-19 estão sendo transferidos para hospitais de referência da região metropolitana. Essa foi a saída encontrada pela Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) para garantir o tratamento a essas pessoas, diante da escassez de leitos de UTI no interior. 

Como consequência dessa transferência de pacientes, a taxa de ocupação dos leitos de terapia intensiva dos hospitais da Grande Vitória especializados no tratamento da doença tem aumentado, mesmo com a tendência de estabilização da pandemia registrada na região.

Atualmente, a rede pública do Estado conta com 199 leitos de UTI exclusivos para a covid-19, nas regiões central, sul e norte, para os moradores de todos os 71 municípios do interior. No entanto, apenas 38 vagas estavam desocupadas até o final da manhã desta terça-feira (7).

"Nós mantivemos uma automação do processo de regulação de pacientes do interior, principalmente de hospitais de primeira linha do interior do Estado do Espírito Santo, que na medida em que chega em uma determinada ocupação, os pacientes desses hospitais passam então a ser removidos para a Grande Vitória, que possui uma grande capacidade de garantir o acesso ao leito hospitalar", afirmou o secretário estadual de Saúde, Nésio Fernandes, durante uma entrevista coletiva na segunda-feira (6).

Na região metropolitana, 86,44% dos leitos de terapia intensiva exclusivos para pacientes com coronavírus, ofertados pela rede pública, estão ocupados, de acordo com o Painel Covid 19, da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa). Ou seja, das 494 vagas em UTI, apenas 67 estão disponíveis.

A produção da TV Vitória/Record TV perguntou à Sesa quantos pacientes do interior, infectados com o novo coronavírus, estão internados atualmente em hospitais da Grande Vitória. Também foi questionado quantos ainda aguardam transferência. Entretanto, não houve resposta até o fechamento da reportagem.

O enfermeiro intensivista Wladimilson Gama trabalha para uma empresa de remoções que presta serviço para a Secretaria de Saúde do Estado. Ele afirma que as viagens para buscar pacientes no interior se tornam cada vez mais frequentes e que o transporte é bastante delicado.

"Embora na ambulância temos os mesmos equipamentos de hospital, o espaço é mais reduzido. No hospital, por exemplo, você tem uma equipe completa, você tem outros profissionais com você. E, na ambulância, tem o enfermeiro e o médico", ressaltou.

O longo trajeto, somado à espera por um leito de unidade terapia intensiva, pode fazer com que o paciente chegue ao destino ainda mais debilitado, como destaca o médico intensivista Leonardo Goltara, que atua em hospitais da região metropolitana. Segundo ele, a transferência não deveria ser a melhor opção.

"O transporte é um momento muito delicado, não é como um hospital e não deve ser banalizado. Todos os pacientes que puderem ser tratados no seu local de origem devem ser tratados no seu município de origem. Até o transporte entre um hospital e outro, dentro da mesma cidade, tem riscos", alertou.

Paciente

A avó do vigilante patrimonial Alefe Gomes da Silva foi um desses pacientes que moram no interior do estado e que precisaram ser removidos para um hospital de referência para covid-19 na Grande Vitória. Ele conta que dona Dalva, de 81 anos, respirava com dificuldade quando foi internada em um hospital municipal de Piúma, no litoral sul do estado. 

Segundo ele, a avó deu entrada no dia 19 de junho e permaneceu na unidade por três dias, sem o suporte necessário. "Eles viram a situação dela, mediram a saturação e viram que estava muito baixa. Ela precisava de intubação e não tinha vaga em hospital para transferir ela. Eles só conseguiram uma vaga na Serra", contou o vigilante.

Somente no dia 21, dona Dalva foi transferida para o Hospital Jayme Santos Neves, na Serra, um dos principais hospitais de referência no tratamento da covid-19 no Espírito Santo. A busca por uma vaga terminou, mas a família passou a enfrentar outra luta: contra a dificuldade de receber informações sobre o estado da aposentada.

"A distância para mim foi muito complicada. Tive que correr atrás de carro da prefeitura para me levar lá e me ajudar a ver o boletim médico da minha avó. Era algo que eles não queriam passar para mim de jeito nenhum por telefone", disse.

Mesmo após ter sido transferida, dona Dalva não resistiu. Segundo familiares, ela morreu uma semana depois de ter dado entrada no Jayme Santos Neves. 

Bastante abalado, Alefe conta que perdeu não só a avó, mas também uma grande amiga com quem dividia o mesmo teto. "Ela sempre estava comigo, ela sempre me ajudava em tudo que eu precisava. Ela estava comigo para tudo. Vai fazer muita falta", lamentou.

A produção da TV Vitória demandou e tentou entrar em contato com a Secretaria de Saúde de Piúma durante toda a tarde desta terça-feira, para saber porque a idosa precisou ser transferida para a Grande Vitória e por que essa transferência demorou três dias para acontecer. No entanto, até o momento, não houve retorno.

Já a Secretaria de Estado da Saúde confirmou que as informações são repassadas pessoalmente, todos os dias, para familiares, seguindo um cronograma de horários e setores. Informou ainda que as famílias do interior podem procurar o telefone do serviço social, xxx. Depois do contato, uma investigação social será feita e, após concluído o processo, o familiar vai receber o boletim médico por telefone.

Com informações da repórter Fernanda Batista, da TV Vitória/Record TV 

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