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Parque Estadual de Itaúnas pode ser afetado por mancha de óleo em uma semana

Caso o poluente chegue às praias capixabas, parque será o primeiro a ser atingido; treinamentos para limpeza das praias começaram nesta quarta no Norte do ES

Andressa Missio

Redação Folha Vitória
Foto: Prefeitura Conceição da Barra
Reunião em Conceição da Barra para definir estratégias de limpeza nas praias, caso mancha de óleo chegue às praias de Itaúnas, no Norte do ES

Após contaminar pelo menos 250 pontos do litoral nordestino, a mancha de óleo avança em direção ao Espírito Santo. Nesta quarta-feira, o poluente mais próximo ao Estado foi avistado em Belmonte (BA), a 300 km do Parque Estadual de Itaúnas, no município de Conceição da Barra, extremo Norte do ES. Esta será a primeira região a ser atingida, caso o petróleo cru chegue ao Sudeste, segundo a Secretaria de Estado de Meio Ambiente (SEAMA).

O problema é que uma mudança na direção dos ventos pode acelerar o deslocamento da substância. De acordo com o coordenador do curso de Oceanografia da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), Agnaldo Martins, o trecho pode ser percorrido em até menos de uma semana, se o ritmo atual se mantiver. 

Capacitação para limpeza das praias 

Enquanto isso, ações de prevenção ganham força em Conceição da Barra. Nesta quarta-feira à tarde, houve uma reunião de esclarecimentos e capacitação sobre os procedimentos no manejo do óleo. O evento ocorreu no auditório da prefeitura, e reuniu servidores municipais, bem como representantes da SEAMA, Ibama, UFES, ICMBIO, Polícia Ambiental, Corpo de Bombeiros, educadores, empreendedores, pescadores, gestores públicos e voluntários.  

De acordo com o Secretário Municipal de Meio Ambiente, André Tebaldi, foram definidas estratégias para a limpeza das praias, caso a mancha se aproxime. "O objetivo é criar uma rede de trabalho organizada para uma eventual chegada do óleo às praias do Estado", diz.  Materiais informativos estão sendo distribuídos no município, com procedimentos de segurança relacionados à fauna oleada (animais marinhos afetados pelo óleo) e também de segurança para contenção de resíduos, priorizando as áreas sensíveis, como manguezais.

Também foram ressaltados os danos que o contato com a substância pode causar e repassadas orientações para os voluntários que já começaram a se cadastrar. “É importante que proprietários e funcionários dos estabelecimentos que recebem o fluxo turístico do município saibam informar banhistas sobre a chegada do óleo em nossas praias”, explicou Tebaldi. “Aqueles que pretendem se voluntariar para uma eventual ação de limpeza serão muito bem-vindos ”, completou o secretário.

Quem quiser se cadastrar como voluntário ou registrar alguma anormalidade nas praias locais, pode acionar a Administração Municipal, pelo telefone (27) 98878-9775, ou a Secretaria de Meio Ambiente, através do telefone (27) 99988-8103. O e-mail é: [email protected].

Comitê de Preparação da Crise

Nesta terça-feira, o Comitê de Preparação da Crise, criado para construir ações preventivas, também se reuniu para traçar novos planos de ação, no combate ao derramamento de óleo. O Plano foi dividido em 3 etapas: Prévia ou atenção, que são ações voltadas à previsão, monitoramento, comunicação e suporte logístico; Operacional, com a contenção, limpeza e destinação final dos resíduos recolhidos, além do atendimento à fauna oleada e início do trabalho de mensuração dos impactos nos ambientes costeiro e marinho; e Posterior ou de Avaliação, que consiste no monitoramento dos locais atingidos e levantamento dos danos ambientais e socioeconômicos, bem como realizar valoração monetária dos impactos.

Em paralelo, nove empresas privadas se comprometeram a colaborar com equipes de profissionais e voluntários. Serão doados equipamentos de proteção individual, material de contenção e embarcações. O recolhimento e reaproveitamento da substância também foi pré-definido. 

No entanto, para o professor universitário Agnaldo Martins, não será tarefa fácil. "A densidade do óleo faz com que a mancha se desloque abaixo da superfície da água, e por isso, só é possível percebê-la quando ela chega à praia", explica. As manchas de óleo surgiram na Paraíba, no dia 30 de agosto, e vem se deslocando em direção ao sul, desde então. 

Visita a Ilhéus

Representantes da SEAMA, em visita a Ilhéus, na Bahia, acompanharam os trabalhos dos gestores e técnicos na limpeza e recuperação das praias afetadas. Participaram de reuniões de planejamento, integradas com órgãos federais, estaduais, municipais e voluntários. Também foram recolhidos fragmentos do material residual (óleo) para pesquisa e análise nos laboratórios do Espírito Santo, para futuros estudos - que vão desde reuso do material até possíveis efeitos à saúde humana e animal. A UFES foi convidada a receber o material recolhido.

Pelas informações oficiais do Ibama e da Marinha, Ilhéus foi atingida novamente pelo óleo em quantidades maiores. Numa cronologia observada, primeiramente chegam à praia pequenos fragmentos de óleo, classificados como vestígios, pelos técnicos. Nos dias seguintes, novas manchas pequenas aparecem e após mais alguns dias surgem manchas de óleo maiores. 

Outra preocupação da Seama é com a proteção das áreas de manguezais. Não foi possível estabelecer, até o momento, medidas totalmente eficazes para proteção dos estuários. Na Bahia, foram instaladas redes de pesca, com malha fina, utilizadas no arrasto do camarão, para diminuir os impactos ambientais. A secretaria não descarta a compra deste material. 

Novas capacitações

Outros encontros de alinhamento estão programadas para São Mateus e Linhares nesta quinta-feira (31), podendo se estender a outras cidades, caso seja necessário. Ao todo, são 14 cidades costeiras no Espirito Santo, uma extensão de 411 km.

Pesca proibida

A partir da próxima sexta-feira, até o dia 31 de dezembro, está proibida a pesca de camarão, no extremo Norte do Estado, na divisa com a Bahia. A normativa foi publicada no Diário Oficial da União, pelo Ministério da Agricultura. Por causa do avanço do óleo no mar, cerca de 60 mil pescadores artesanais não podem mais trabalhar, e podem receber o Seguro Defeso.

Parque Estadual de Itaúnas 

Caso o óleo aparece no Espírito Santo, as praias do Parque Estadual de Itaúnas serão as primeiras áreas a serem afetadas. Por se tratar de uma área de desova de tartarugas marinhas, todo o trato de manejo desta fauna será de forma manual, sem a presença de máquinas pesadas como tratores, caçambas ou escavadeiras, para não danificar os ninhos das tartarugas.

O parque, criado em novembro de 1991, é um fragmento de floresta em extinção no Espírito Santo. Possui ambientes como a mata de tabuleiro, mangues e restinga, mas é muito conhecido por suas dunas. É por onde passa o rio Itaúnas e a mais representativa região de alagados do Espírito Santo. O bom estado de conservação destes habitats, aliado à grande diversidade de espécies vegetais, coloca a unidade como local de extrema importância para o Estado. 

De acordo com o Iema, são mais de 414 diferentes espécies vegetais, 43 de mamíferos, 183 de aves, 32 de répteis, 29 de anfíbios e 101 de peixes. O Parque abriga ainda 23 sítios arqueológicos, locais de concentração de vestígios de assentamentos humanos pré-históricos como pedras lascadas, cerâmica indígena e diversos artefatos da época da colonização. 

Área aproximada: 3.481 ha.

Localização: Município de Conceição da Barra, próximo à Vila de Itaúnas.

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