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Justiça dá dez dias para 21 famílias deixarem escola abandonada em Vitória

As famílias chegaram ao local em setembro e, nesta semana, receberam a notificação judicial. O problema é que elas afirmam que não têm para onde ir

Foto: TV Vitória

A Justiça determinou que 21 famílias que ocupam uma escola abandonada no bairro Romão, em Vitória, devem deixar o local dentro de dez dias, a contar a partir deste sábado (30). A unidade de ensino está desativada desde 2013.

As famílias chegaram ao local em setembro e, nesta semana, receberam a notificação judicial. O problema é que elas afirmam que não têm para onde ir, caso realmente haja a desocupação.

"A gente não tem para onde ir. O prefeito tem que dar uma resposta para nós e até agora ele não falou nada sobre o nosso caso. Eu queria uma casa mesmo para mim e para minha filha", lamentou Priscila de Souza, de 20 anos, mãe solteira de duas meninas e que improvisou um lar em uma das salas de aula.

Quem também está ocupando a escola e também afirma não ter para onde ir é Mirian Alves de Souza, de 43 anos, que tem quatro filhos e está desempregada.

"Há cinco anos já que eu estou nessa luta. Deram aluguel social para a gente, ficamos um ano e seis meses. Depois só me deram uma carta, falando que a gente estava desligado do programa. E a gente não tem outra opção, a não ser invadir. E agora com duas crianças pequenas".

Rafaela Regina Caldeira, que também está morando na escola e é uma das lideranças da ocupação, explica que até junho deste ano as famílias estavam recebendo um aluguel social da Prefeitura de Vitória. Entretanto, nos meses seguintes, deixaram de contar com o benefício e não tiveram para onde ir.

"Quando chegamos para a ocupação do Santa Cecília saiu uma sentença judicial que essas famílias só poderiam sair do prédio se fossem reassentadas para algum local. Saímos do espaço, mas quando chegou lá o juiz determinou que essas famílias recebessem o aluguel social por um ano. Acabou esse aluguel social, renovou por mais seis meses, e quando acabaram os seis meses, nós não conseguimos, com essa nova gestão, sentar e conversar", afirmou.

Quase 7 mil famílias em Vitória não têm onde morar

Foto: TV Vitória

De acordo com dados do Instituto Jones dos Santos Neves, em março de 2019 quase 6,9 mil famílias em Vitória não tinham onde morar. A prefeitura explica que a política habitacional do município também prevê a entrega de casas populares a famílias de baixa renda. 

O desafio é que a demanda é muito maior que a capacidade de entrega, como destaca o secretário de Desenvolvimento e Habitação de Vitória, Marcelo de Oliveira.

"Nós temos um déficit habitacional grande, histórico no país. Estamos aqui na gestão do prefeito Pazolini tentando inverter essa lógica. O município gasta dez vezes mais com aluguel provisório, que não resolve o déficit habitacional, do que em construção de moradias. O nosso desafio é inverter essa lógica. Que o município possa ter um programa robusto, nos próximos anos, para construção de moradias e para atender principalmente às famílias que precisam", frisou.

Sobre a ocupação da escola no Romão, o secretário reforça que o aluguel social estava sendo pago devido a uma determinação judicial, após a desocupação do edifício Santa Cecília, no Centro de Vitória. Diz ainda que a lei de política habitacional do município não prevê o pagamento do benefício para as famílias.

"Ele está destinado para as famílias que já têm um teto e que, por algum motivo — quer seja risco geológico, estrutural ou a própria intervenção da Defesa Civil, de risco de desabamento daquele imóvel —, tenham que sair de imediato de suas casas. Então o município, para não deixá-las desamparadas, sem uma residência a qual elas já possuem, prevê na legislação o aluguel provisório, para famílias que tenham outro enquadramento de qualificação. Não é o caso em questão. Nós entendemos a problemática, somos sensíveis a ela e estamos dispostos a incluí-las num programa, para que elas possam, no futuro, estarem recebendo as suas moradias", disse Marcelo de Oliveira.

A prefeitura planeja demolir a escola para construir uma creche. A questão agora é saber para onde vão as famílias daqui a dez dias.

"Eu não tenho para onde ir com meus filhos. Eu tenho quatro filhos e, se houver o despejo das famílias, eu não tenho para onde ir com meus filhos", lamentou Mirian.

* Com informações da repórter Luana Damasceno, da TV Vitória/Record TV 

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