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Tragédia de Mariana: quatro anos depois, Rio Doce ainda se recupera da lama da Samarco

Nesta terça-feira (5), completam-se exatos quatro anos do rompimento de uma barragem em Mariana; 39 municípios foram diretamente atingidos pelos rejeitos

Foto: Divulgação

No dia 05 de novembro de 2015, a barragem de Fundão, no município de Mariana, em Minas Gerais, rompeu-se, causando uma grande enxurrada de lama que devastou o distrito de Bento Rodrigues e atingiu 39 municípios, sendo quatro no Espírito Santo: Linhares, Colatina, Baixo Guandu e Marilândia. 

O acidente liberou aproximadamente 39,2 milhões de metros cúbicos de rejeitos que atingiram o rio Gualaxo do Norte, em Mariana, um dos afluentes do rio Doce, trazendo a lama para o Espírito Santo, de onde desaguou na foz do Doce, em Regência, no município de Linhares. Dezenove pessoas morreram e os impactos ficaram ao longo dos 670 quilômetros do percurso onde a maré de lama passou.

Quatro anos depois, o alaranjado da lama já não é mais visto no Rio Doce e nem em Regência. Apesar disso, os vestígios dos rejeitos ainda se fazem presentes e seguem impactando pescadores e moradores que dependiam do rio.

Turismo e Pesca

A pesca na rio Doce, na porção capixaba, está proibida por decisão judicial desde o rompimento da barragem, assim como a atuação de pescadores na Vila de Regência. Com isso, famílias que viviam da pesca, e do comercio de pescado, sobrevivem de auxilio financeiro público e da Samarco para sobreviver.

Segundo o pescador profissional Fabrício Fiorot, de 48 anos, com a pesca comercial proibida, até o consumo próprio é evitado. "É tanta dúvida sobre a qualidade da água que não sei se algum dia vamos voltar a pescar”, lamenta.

A mancha de lama, que tomou conta do mar durante meses, também afetou o turismo na região. Visitantes e surfistas simplesmente desapareceram após a tragédia. É o que garante Fábio Fiorot, vice-presidente da ASL Surf Linhares. Praticante do esporte há 35 anos, e frequentador das praias de Regência desde os 14 anos, ele garante que ficou sem entrar no mar mais de um ano após a lama chegar na região.

"Turistas e surfistas simplesmente desapareceram durante dois anos após a tragédia. Mas, do ano passado para cá, percebemos uma nova procura. Além disso, estamos apostando em eventos nacionais de surf para atrair novamente os turistas e novamente dar visibilidade para as lindas praias da nossa região. Apesar disso, confesso que ainda temos dúvidas quanto a qualidade da água. Aparentemente, está tudo normal. A questão é: será que ainda há perigo. Podemos sofrer os impactos futuramente? 

Protesto em Linhares

Foto: Divulgação

Cerca de 500 pessoas se reuniram para protestar contra a tragédia de quatro anos atrás, mas com pautas focadas no presente. Além da limpeza das águas, eles reivindicam indenizações e a auxílio emergencial para moradores da região. Os manifestantes paralisaram a rodovia estadual ES-248, em Linhares, na manhã desta terça-feira (05).

Monitoramento

Após o rompimento da Barragem, o Rio Doce se tornou o mais monitorado do Brasil. Com base em mais de  6 milhões de dados coletados, o Programa de Monitoramento QualiQuantitativo Sistemático (PMQQS) mostra que as condições da bacia são hoje as mesmas de antes do rompimento. Segundo a Fundação Renova, os mesmos dados que permitem afirmar que a água do rio Doce está em condições semelhantes às de antes do rompimento asseguram que ela pode ser consumida após passar por tratamento nos sistemas de abastecimento dos municípios. 

Projeto de Pesquisa

Em 2018, após um acordo entre a Fundação Renova, a Fundação Espírito-Santense de Tecnologia (Fest) e a Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), foi criada a Rede Rio Doce Mar, formada por pesquisadores de 26 instituições de todo o país com a coordenação central da Ufes. O objetivo é monitorar os aspectos físicos e químicos em cerca de 200 pontos ao longo da porção capixaba do rio Doce e nas regiões que compreendem o entorno da foz e a área que vai de Guarapari (ES) até Porto Seguro (BA). 

Segundo a Coordenação Geral da Rede Rio Doce Mar, a análise dos primeiros doze meses de pesquisa do Programa de Monitoramento (de setembro de 2018 a setembro de 2019), deverá ser apresentada ao final de novembro com um diagnóstico mais amplo e preciso sobre os dados levantados. 

De acordo com a RRDM, em uma análise prévia, existe uma variabilidade dos indicadores de qualidade do ambiente analisado ao longo dos meses. Esses indicadores são referentes à qualidade da água e às respostas da biota, tanto do ponto de vista da toxicidade, quanto do impacto na biodiversidade. 

"A variação, durante o ano, das forçantes físicas (pluviosidade, nível de água/vazão do rio e frentes frias no ambiente marinho) é um dos principais motivos que levam a essa variabilidade dos índices. Por isso, não procede simplesmente dizer que melhorou ou piorou, sem fazer referência à temporalidade. Nos períodos de maior energia, ou seja, cheias do rio e frentes frias (ondas de maior energia), podemos ter a piora dos índices de qualidade do ambiente durante um determinado período de tempo. Pode-se dizer que é uma situação preocupante porque, principalmente na região da foz do Rio Doce, que concentra essas forçantes continentais e marinhas, existem momentos ao longo do período de estudo em que esta fase aguda está presente. Em nosso Relatório Anual, a ser apresentado à CTBio/CIF no final deste mês, completando um ciclo anual, iremos poder indicar as frequências de variação desses indicadores da qualidade do ambiente, para fins de análise de impactos do rompimento da Barragem de Fundão na biodiversidade aquática". 

Recuperação

De acordo com estimativa da Fundação Renova, entidade responsável pela mobilização e execução da reparação dos danos provocados pelo rompimento da barragem, as praias de Regência receberam 20 milhões de metros cúbicos de rejeitos.

Para combater os impactos causados pela tragédia, um Termo de Transação e de Ajustamento de Conduta (TTAC) foi assinado, entre várias entidades, entre órgãos da Federação, órgãos estaduais e municipais, e representantes do comitê de bacias, em março de 2016.

As ações foram divididas em duas frentes principais. A primeira foi voltada para reverter ou diminuir os impactos causados pelo rompimento, como o manejo do rejeito, reconstrução de vilas e pagamento de indenizações. A segunda, mais voltada para os danos ambientais, visou a restauração florestal, recuperação de nascentes e saneamento para os municípios ao longo do Rio Doce.






 

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