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Fé de devoção: tradição de Santa Luzia é mantida em Alfredo Chaves

A tradição é passada de geração em geração entre as famílias do município e é uma homenagem à Santa, protetora dos olhos. O dia de Santa Luzia é comemorado na próxima terça-feira (13)

A tradição é mantida por cinco gerações da família Escandian e demonstra a devoção a Santa Luzia Foto: ​Divulgação/Prefeitura

O município de Alfredo Chaves é um dos capixabas em que a grande maioria da população possui descendência italiana, e por isso, muitas culturas foram introduzidas e são preservadas até os dias de hoje, seja na gastronomia, religião ou no jeito de se expressar. 

Além disso, a cidade é uma das mais católicas do Estado. Segundo o censo do IBGE de 2010, 89,5% da população se diz católica, e os moradores continuam com rituais e tradições herdadas de seus ancestrais italianos. E um costume ainda presente é comemorar o dia de Santa Luzia com festa e doces para as crianças. 

Na véspera do dia da Santa, comemorado em 13 de dezembro, as crianças costumam colocar pratinhos enfeitados com capim, milho e flores próximo à árvore de Natal ou na mesa principal da casa, para o cavalinho da Santa. Em troca, elas ganham doces.

Há uma crença que Santa Luzia percorre com seus cavalo todas as residências onde existem crianças e distribui doces, principalmente, as que tiveram bom comportamento durante o ano. O capim, segundo a tradição, é alimento para o cavalo, que merece um ‘lanchinho’ por causa do cansaço em percorrer as residências do mundo inteiro.

A tradição é mantida por gerações no município, como acontece com a família da aposentada Magnólia Bertolde Escandian, de 97 anos, que há cinco gerações passa adianta a crença. Ela aprendeu com os pais quando era criança e, juntamente com seus irmãos, costumava colocar pratinhos enfeitados com capim. “A alegria era muito quando acordávamos e víamos os pratos cheios de doce e cavaco. Íamos dormir bem cedo de tanta ansiedade”, conta. 

E o costume passou para seus filhos e netos. “Mantive o costume para meus filhos e eles, para meus netos”, disse. Sua filha, Maria da Penha Escandian Luiz, de 70 anos, manteve a tradição para seus três filhos. O bisneto da aposentada, Davi Cetto Escandian, de seis anos, continua com o costume e acredita que a santa irá trazer doces para ele. “Vou colocar meu pratinho e espero ganhar muitos doces de Santa Luzia”, conta.

Em Quarto Território foi construída uma capela há 111 anos, em agradecimento a uma promessa atendida Foto: ​Divulgação/Prefeitura

Antiga tradição

Segundo o escritor e jornalista Hésio Pessali, o costume integra um cenário maior da tradição italiana, em que as celebrações, chamadas de festas do calendário católico, têm uma presença significativa. “As celebrações, como a de Santa Luzia, tinham um aspecto não só religioso, mas também festivo, social e afetivo, de encontro de pessoas e famílias. Na manhã em que ganhavam os doces, as crianças se visitavam, ficavam mostrando o que haviam ganho e, conforme as preferências, trocavam doces umas com as outras”, relata. 

Pessali lembra ainda que quando era criança, suas avós e vizinhos entoavam canções em dialeto italiano em louvor a santa. A canção era ensinada aos pequenos. “A tradição se mantém até hoje, principalmente no interior. Quando a criança crescia e ia descobrindo quem era a ‘Santa Luzia’ a descoberta era tida como uma coisa natural. A partir daí, não ganhava mais doces”, continua.

O escritor ressalta ainda que os doces na época eram comprados uns dias antes na sede do município, onde os bares tinham uma variedade maior, e ficavam escondidos em casa em algum lugar inacessível às crianças. Geralmente Santa Luzia trazia balas, mariolas, bolachas e cavacos. 

A Santa dos olhos

Os moradores de Alfredo Chaves realizam semanalmente celebrações nas residências com imagem da Santa Foto: ​Divulgação/Prefeitura

Além de trazer doces para as crianças, a Santa tem fama de ser protetora dos olhos. É costume, quando alguém está com problemas de visão, fazer pedido de melhoras a ela. E em diversas comunidades de Alfredo Chaves, Santa Luzia é homenageada e há muitos devotos.

Na localidade de Quarto Território, uma capela foi construída há 111 anos, em agradecimento a uma promessa atendida. De acordo com o produtor rural Antônio Luiz Parteli, de 55 anos, a família Lorencini construiu, na época, uma capelinha que anos mais tarde foi ampliada. 

Segundo Parteli, a família trouxe a imagem da padroeira diretamente da Itália, e na imagem está cravado o nome de Santa Lúcia, como é conhecida na Itália. “Sei que a promessa foi para melhorar a visão de um dos filhos do patriarca da família. Ele depois faleceu e hoje a família não mora mais aqui na localidade. Mas todos os anos, no dia da santa, alguns deles participam com a nossa comunidade da missa e um dia de festividades. A festa atrai uma multidão todos os anos”, explica.

Já na sede da cidade, os moradores do bairro Portal dos Imigrantes realizam semanalmente celebrações nas residências com imagem da Santa. “Há mais de dez anos fazemos essa caminhada com a imagem de Santa Luzia. Minha família e a maioria do bairro, preserva ainda o costume das crianças colocarem pratinho para ela e receberam doce em troca. É uma tradição que não podemos deixar esquecida”, comenta a aposentada Kátia Regina Cecute Parmaganani, de 53 anos, uma das organizadoras das celebrações semanais. 

“Eu ensinei minhas filhas a manter o costume e a devoção na santa. Hoje, ajudo a minha netinha a montar o pratinho na véspera do dia”, completa a conselheira tutelar e também organizadora das celebrações religiosas no bairro, Lucínia Partelli Peruzzo, de 55 anos.

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