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VÍDEO | Jovem morre afogado em abrigo de Vitória e ex-funcionários denunciam estrutura do local

Em 2021, o espaço recebeu mais de R$ 57 milhões, mas quem já trabalhou no local afirma que as condições não condizem com tanto dinheiro recebido

Os funcionários de um abrigo para homens com deficiência no bairro Jardim Camburi, em Vitória, se juntaram para denunciar a situação precária do espaço. Eles trabalharam como cuidadores no abrigo e contaram para a equipe do Balanço Geral que um homem, de 29 anos, teria morrido afogado no local. 

Foto: Reprodução TV Vitória

Tudo ocorreu durante um banho de piscina. Um momento que deveria ser de lazer se transformou em um pesadelo para Luciano da Mata Meirelles, de 29 anos. 

Nas imagens de uma câmera de videomonitoramento do local é possível ver o momento em que Luciano (que está sem camisa) brinca na ´piscina e tenta pegar um objeto da mão de uma pessoa. Logo em seguida, ele começa a se debater e a se afogar.

Na hora do susto, Luciano estava próximo a outras pessoas, mas mesmo assim não conseguiu se salvar. Ele era morador do abrigo e, segundo testemunhas, tinha transtorno mental.

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As outras pessoas que aparecem no vídeo e que estavam na piscina junto com ele também têm problemas mentais e são monitoradas por cuidadores da casa.

Aproximadamente dois minutos após o afogamento, o grupo se aproxima de Luciano na tentativa de salvá-lo, mas ele desfalece. Nesse momento, o cuidador responsável pelo interno, que estava a todo o tempo no local, aparece e retira o rapaz da água mas era tarde demais e Luciano morreu afogado.

Foto: Reprodução TV Vitória
Cuidador socorre Luciano após afogamento na piscina

"Ele estava sendo acompanhado pelo cuidador, só que esse cuidador deixou Luciano morrer", disse um ex-funcionário do abrigo, que informou também que no dia do fato estava acontecendo um churrasco na casa.

O cuidador de Luciano, que aparece nas imagens, foi demitido após o ocorrido em março deste ano. 

Alguns ex-funcionários, que não quiseram se identificar, informaram à reportagem que o profissional tinha problemas antigos com o residente, e que já teria quebrado o braço da vítima em outra ocasião.

Uma testemunha contou que, depois desse ocorrido, Luciano teria apresentado severas mudanças de comportamento sempre que estava sob os cuidados desse mesmo funcionário.

Jovem era querido pelos funcionários do local

De acordo com os ex-funcionários do abrigo, a vítima era muito querida por todos da casa. Eles acreditam que Luciano foi vítima não de um acidente, mas sim de uma negligência.

"Ele ajudava nas tarefas da casa, ele interagia com os outros residentes e às vezes parecia que não tinha nenhuma deficiência", disse.

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A equipe de jornalismo do Balanço Geral teve acesso às anotações de uma antiga funcionária do abrigo, que também foi acompanhante de Luciano. Nas notas, ela informa que o rapaz apresentou mudanças no comportamento após uma mudança na medicação. 

Confira uma parte da nota:

Foto: Reprodução TV Vitória

Outro ex-funcionário comprova a versão presente na nota e disse que o comportamento de Luciano teria ficado agressivo com o passar do tempo.

"Ele tomava fluoxetina e um outro medicamento. Com o tempo, muita medicação fez com que o quadro dele virasse grave e ele passou a ter crises", disse.

O abrigo

Direcionado ao público masculino, o abrigo fica no bairro Jardim Camburi, em Vitória, e cuida de pessoas vulneráveis que foram abandonadas, boa parte das vezes, por terem problemas psiquiátricos.

A instituição é gerenciada pelo Instituo de Gestão Social do Terceiro Setor (IGES), que por sua vez presta serviço ao Estado por meio da Secretaria de Trabalho, Assistência e Desenvolvimento Social (Setades).

Instituição recebeu mais de R$ 57 milhões em 2021

Uma publicação do Diário Oficial em janeiro de 2021 mostra que o IGES, que administra esses abrigos recebeu mais de R$ 57 milhões de reais de verba no ano passado. 

Foto: Reprodução TV Vitória

Mesmo assim, quem trabalhou em uma das casas administradas pelo Instituto garante que o trabalho acontecia em condições precárias.

Além disso, ex-funcionários questionaram como é usado o benefício de prestação continuada do Governo, no valor de um salário mínimo, que alguns dos residentes recebem, de acordo com eles.

"Nessa casa continha mais ou menos 10 residentes, então tínhamos a certeza que dos 10 a maioria tinha o benefício", disse um ex-funcionário.

Segundo os ex-funcionários, o abrigo em Jardim Camburi era mal cuidado. Nas anotações da antiga funcionária, ela expõe que um residente não tinha nem cama e que um outro era tratado igual "bicho".

Reprodução TV Vitória
Reprodução TV Vitória

O caderno da antiga funcionária também revela que, quando Luciano surtava, o cuidador o jogava na piscina.

Os antigos funcionários sentiam que os abrigados não eram devidamente acompanhados de acordo com as necessidades deles. 

Foto: Reprodução TV Vitória

Não havia acompanhamento médico regular, eles só iam até o médico, segundo ex-funcionários, quando já estavam passando mal.

A equipe de jornalismo da TV Vitória/Record TV foi até o abrigo e tentou conversar com a administração, mas não foi autorizada a entrar no local.

Segundo informações da polícia, no dia da morte de Luciano, o Departamento Médico Legal esteve na casa para retirar o corpo e uma perícia foi realizada. 

O jornalismo da TV Vitória entrou em contato com a Polícia Civil que disse não poder passar mais detalhes da investigação, mas confirmou que o caso está sendo investigado pelo Departamento de Homicídios de Vitória.

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Após fazer contato com o IGES, a equipe de jornalismo foi convidada a conhecer as casas administradas pelo instituto mas, nos locais, não foi autorizada a entrada com equipamento.

A secretaria responsável pela área, a Setades, se pronunciou por meio de nota dizendo que desligou o funcionário que aparece nas imagens da piscina, e que averiguam todas as denúncias.

Sobre o caso do abrigo de Jardim Camburi, a secretaria está aguardando a conclusão do inquérito policial.

* Com informações da repórter Nathália Munhão, da TV Vitória/Record TV.

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