Polícia

VÍDEO | Crianças são aliciadas pelo tráfico na Grande Vitória

A falta de referências para crianças e adolescentes e a ausência da família no decorrer da criação pode potencializar o problema, apontam especialistas

Imagens preocupantes divulgadas pelo Ministério Público mostram crianças e adolescentes armados. O que pode parecer uma brincadeira para eles, na verdade é um problema muito maior chamado aliciamento de menores

O vídeo faz parte de uma investigação do MP que envolve uma das maiores organizações criminosas do Espírito Santo. Apesar dessas imagens estarem restritas à uma região da Grande Vitória, o problema pode ser encontrado em diversos locais do Estado.

Um caso recente de adolescente envolvido na criminalidade aconteceu no último 30 de agosto. Um jovem de 17 anos foi apreendido pela Guarda Municipal de Vila Velha pilotando uma motocicleta com restrição de furto e roubo no bairro Ibes. Tanto o veículo quanto o adolescente foram encaminhados para a delegacia.

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Foto: Reprodução / TV Vitória

Importância das políticas públicas

Desde o início deste ano, mais de 600 adolescentes deram entrada no Instituto de Atendimento Socioeducativo do Espírito Santo (Iases). Deste total, 80 entraram só no mês de julho.

Para o conselheiro tutelar de Cariacica, Edwilson Almeida, uma das saídas para este tipo de situação seria um maior investimento, por parte do poder público, em ações voltadas para esta faixa etária.

"São muitos os motivos para este problema, mas um deles está na negligência de governantes em relação à políticas públicas que buscam atingir as comunidades que são vulneráveis e estão a mercê da criminalidade", afirmou.

Dentro deste contexto, a presença da família é de suma importância no decorrer do desenvolvimento infantil. O artigo 227 da Constituição Federal ressalta o papel do núcleo familiar não apenas para os cuidados básicos de saúde, mas também para a convivência sadia no desenvolvimento das crianças.

Art. 227 É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.

Mesmo que a condição esteja presente na Constituição, na prática, ainda é possível encontrar famílias que sofrem com o aliciamento na atualidade e que já passaram por este mesmo problema no passado provocando assim, um ciclo vicioso.

"No bairro Castelo Branco, em Cariacica, por exemplo, nós chegamos a 11 mil atendimentos. Os pais dessas crianças, muitas vezes, são vítimas que nós podemos chamar de uma 'maldição hereditária'. Eles sofreram por não terem direito à empregabilidade, recursos suficientes e automaticamente escolhem trabalhos alternativos que, devido à instabilidade, muita das vezes podem deixar as crianças em situação de vulnerabilidade", apontou.

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O começo do aliciamento

Tudo começa por um estímulo e com a criminalidade não é diferente. De acordo com o representante da Central Única das Favelas (Cufa), Thiago de Oliveira Gomes, é por meio das referências que as crianças descobrem a ilicitude.

Foto: Reprodução / TV Vitória

"Quando uma criança olha todos os dias vendo um indivíduo fumando maconha e andando armado, aquilo começa a ser a referência dessa criança e ela passa a acreditar que isso é a realidade e acaba não conseguindo pensar em outra coisa além daquilo", disse.

Oportunidade para o crime

O conselheiro tutelar Edwilson Almeida explica que no processo de aliciamento, os criminosos enxergam as crianças e os adolescentes como uma oportunidade para o tráfico.

Além do interesse desses adolescente pela vida fácil, o fato dessas crianças não receberem a mesma punição que um adulto, também é um ponto atrativo para o mundo do crime e pode ser um passaporte para o recrutamento de novos alvos.

"Os adolescentes que já tem mais ciência desse trabalho, muita das vezes são apreendidos como criminosos e já sabem que no máximo vão receber um ato infracional ou vão assinar um termo circunstanciado onde vai ser liberado e, além disso, pode ser convocado por criminosos para recrutar outras crianças", salientou o conselheiro.

Tráfico de drogas interfere na rotina das escolas

O aliciamento de adolescente pelo tráfico de drogas é um problema de forte impacto no âmbito familiar, mas que constantemente reflete na rotina dos próprios adolescentes.

Uma prova disso é a rotina da ex-professora Laucinéia Gasparini. Durante muitos anos, ela trabalhou em escolas que ficam em áreas dominadas pelo tráfico de drogas em Vitória. Ela relatou que por diversas vezes já teve que interromper a aula por causa de tiroteios constantes nas proximidades das escolas. 

A infância é o período de melhor aprendizagem

A psicóloga infantil e terapeuta familiar Thiara Faé faz um alerta sobre o desenvolvimento dos pequenos: a infância é a fase que as pessoas aprendem com maior facilidade.

Segundo a profissional, os ensinamentos que são transmitidos aos pequenos precisam oferecer não apenas a educação regular das escolas, mas também, uma base segura para toda a vida.

* Com informações do jornalismo da TV Vitória.

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