Política

Contarato fala sobre candidatura ao governo do ES, ameaça de morte e mudança de partido

Senador tem cadeira garantida no Congresso até 2026, mas pode encurtar sua passagem por Brasília para ser candidato ao governo do Estado; veja entrevista que Fabiano Contarato concedeu ao Folha Vitória

Luana Damasceno de Almeida

Redação Folha Vitória
Foto: Reprodução/Agência Senado

O senador Fabiano Contarato está de saída da Rede, primeiro partido a se filiar quando decidiu iniciar a trajetória política. O destino será uma legenda também de centro-esquerda ou de esquerda: PDT, PSB ou PT. Segundo fontes próximas ao senador, o Partido dos Trabalhadores é a opção mais provável. Apesar de não adiantar a sigla, o parlamentar dá indícios de que as especulações devem se confirmar. Ele concedeu entrevista ao Folha Vitória e falou sobre vários assuntos. 

“Já recebi convite deles e de outros partidos. Eu me sinto inclinado a fazer uma opção entre esses três, mas eu não decidi. Tenho certeza que eu vou tomar um caminho que, mesmo sendo um pouco árduo, não vou renunciar meus valores, meus princípios”, disse.

Contarato foi o senador mais votado do Espírito Santo nas últimas eleições, com mais de 30% dos votos válidos, desbancando nomes tradicionais como Magno Malta (PL) e Ricardo Ferraço (PSDB). Ele tem cadeira garantida no Senado até 2026. Entretanto, dependendo das circunstâncias, pode encurtar sua passagem pelo Congresso para ser candidato ao governo do Estado em 2022. 

“Eu não me furto a nenhum desafio, não. Eu acho que isso é possível desde que o partido entenda que seja positivo”, disse o parlamentar mencionando a futura legenda à qual vai se filiar.

Com posicionamento de oposição ao governo federal e críticas ácidas ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido), o senador disse ser alvo da militância bolsonarista. “Eles pregam a cultura do ódio. Eu sei o que eu tenho passado com isso. Em 27 anos como delegado eu nunca fui ameaçado de morte. Em menos de seis meses como senador eu recebi ameaças. Estou processando quem está fazendo isso.” 

Em relação ao possível futuro adversário nas urnas, Renato Casagrande (PSB), Contarato é mais econômico e cuidadoso. “Eu admiro muito o governador Casagrande, eu acho que ele tem um olhar voltado para o social. Mas eu seria mais propositivo. Nós não podemos perder a capacidade de indignação. A gente não pode ser só reativo. Tem que reagir e fazer, afirmou.


Veja a entrevista completa com o senador Fabiano Contarato:


Por que o senhor decidiu sair da Rede?

Foto: gabriel lordelo / estadao

É um partido muito bom. Eu me identifico muito com a causa ambiental. Quando eu tomei posse éramos em cinco senadores. Eu não sei como consegui esse ano ser o vice-presidente da Comissão de Direitos Humanos, porque só tem eu e Randolfe, então a Rede não tem muito espaço. Os partidos com uma estrutura maior conseguem uma colocação mais adequada. Eu queria muito fazer parte da CPI da Covid, eu assinei, acho que teria muito o que contribuir, mas eu não tive direito a ter vaga. Então quando você está num partido com uma estrutura melhor, maior, mais consolidada, essa representatividade surge. Claro que eles tentam me convencer a não sair do partido porque eu tenho um ótimo relacionamento com eles. E também eu reconheço, e eu não quero me gabar não, mas quem tem feito uma oposição mais contundente a esse presidente que viola sistematicamente a Constituição Federal tem sido eu. Eu sei o preço disso. Até ameaça já recebi. 

De onde vêm as ameaças? Pode explicar melhor?

Tudo aconteceu depois da minha fala na Comissão de Constituição e Justiça com o ex-ministro Sérgio Moro. Eu fiz uma análise técnica sobre a quebra do princípio da imparcialidade, e aí eu me abstraio de analisar a pessoa do condenado. Não importa quem seja. Mas não é razoável o juiz, que tem que ser imparcial, manter um contato direto com aquele que tem interesse 100% na condenação via telegram, direcionando todo o encaminhamento do processo penal. Depois dessa fala, que foi técnica, eu recebi ameaça de morte de uma pessoa e inúmeras ofensas a minha moral, me ofendendo, ofendendo minha família, e até hoje ainda continuo recebendo, mas tenho tomado providências. Eles pregam a cultura do ódio. Eu sei o que eu tenho passado com isso. Em 27 anos como delegado eu nunca fui ameaçado de morte. Em menos de seis meses como senador eu recebi ameaças”.

E sua ida pra outro partido, já definiu a legenda?

Eu costumo falar que a gente não pode se permitir se violentar. Seria cômodo pra mim procurar um caminho mais fácil, num partido maior, mas que não tenha adesão da minha identidade, que preserve meus princípios. Eu hoje não me vejo em outro partido que não seja PDT, PSB ou o próprio PT. Já recebi convite deles e de outros partidos. Eu me sinto inclinado a fazer uma opção entre esses três, mas eu não decidi. Tenho certeza que vou tomar um caminho que, mesmo sendo um pouco árduo, não vou renunciar meus valores, meus princípios. Eu prefiro seguir com as minhas convicções.

O senhor já está num cargo de muita relevância e reconhecimento. Tem interesse em disputar o governo do Estado?

Eu acho que a gente tem que construir sim um projeto melhor para o Espírito Santo e para o País. Se eu vier a compor uma dessas três (legendas) e o partido falar que temos que lançar um candidato ao governo e nós vamos escolher o senhor como candidato eu não me furtaria a isso. Eu acho que o Espírito Santo merece uma opção mais progressista, uma opção com um olhar mais social, um comportamento de um Executivo que tenha a sensibilidade da redução da desigualdade. Acho que falta isso sim no Estado, mas não é condição para eu aderir a qualquer sigla. Se o partido que eu for achar prudente, como diz o hino, já que esse presidente gosta tanto de citar o hino, “verás que um filho teu não foge à luta”.

Ainda que fosse em 2022?

Ainda que fosse em 2022. Eu não me furto a nenhum desafio, não. Eu acho que isso é possível desde que o partido entenda que seja positivo. Eu acho que a gente tem que discutir projetos. Temos que nos unir contra um projeto que beira o fascismo. Porque eu não posso achar razoável um presidente que viole sistematicamente a Constituição Federal, e isso ele está fazendo na saúde, no meio ambiente, na educação. Ele cortou mais de 20% do orçamento da saúde em plena pandemia e fez um aporte no Ministério da Defesa. O Brasil que sempre foi referência na preservação ambiental agora está sendo motivo de grande preocupação e isso abala a economia. Primeiro temos que discutir um projeto de País e de Estado pra depois discutir nomes. Mas eu me coloco à disposição do partido que eu vier a integrar se for a vontade do partido.

Em relação à gestão do governador Casagrande, o que o senhor faria de diferente?

Eu admiro muito o governador Casagrande, eu acho que ele tem um olhar voltado para o social. Mas acho que eu seria mais propositivo. Nós não podemos perder a capacidade de indignação. Acho que a gente não pode ser só reativo. Tem que reagir e fazer. Só eu entrei com mais de 50 ações no Supremo ou na Justiça Federal por conta de violação por parte do presidente ou de algum dos ministros dele. Não é fazendo a crítica ao governo (estadual). Eu sei que tem que focar na pandemia, tem que alavancar a economia, mas eu acho que talvez eu seria mais propositivo num intuito de ter um comportamento de não só reativo mas proativo também. 

Em alguma área específica?

Em todas as áreas porque o ataque é constante, sistemático em tudo. Eu não posso admitir que ele (Bolsonaro) corte orçamento de uma área tão delicada como saúde. Eu não posso conceber que, no Brasil, em pleno pulmão do mundo, falte ar. As pessoas estão morrendo por asfixia. Isso é um verdadeiro genocídio, isso tem que acabar. Então a gente tem que ser propositivo e dar efetividade a esses direitos que já estão na Constituição Federal. É um presidente que viola as regras da OMS, que é negacionista e repudia a vacina. Eu já fiz essa crítica no Plenário: cadê os partidos progressistas para terem um comportamento mais proativo?

O senhor falou sobre o Sérgio Moro. Como recebeu as últimas decisões do STF sobre o ex-presidente Lula?

O STF recompôs o poder judiciário nos trilhos. Você gostaria de ser julgado por um juiz parcial? Ninguém quer isso. Não é razoável dentro do estado democrático de direito. O Supremo agiu acertadamente corrigindo isso. E aí não entro no mérito, acho que quem fez coisa errada tem que pagar penal e civilmente pelos erros.

A decisão coloca o ex-presidente no jogo de novo..

A não ser que o partido dos trabalhadores opte por um outro nome né. Mas recoloca ele na disputa presidencial, sim.

O senhor votaria no Lula?

Depende dos candidatos. Mas não descarto a possiblidade, não.  

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